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EXCLUSIVO: ao PB Agora, viúva de Maranhão sugere que Vené e Raniery assumam legado político do marido

Numa entrevista exclusiva que concedeu à coluna, para o portal PB Agora, marcada por forte emoção, a desembargadora Fátima Bezerra Cavalcanti, viúva do senador José Maranhão, manifestou o desejo de que o senador Veneziano Vital do Rego e o deputado estadual Raniery Paulino assumam a condição de herdeiros políticos de José Maranhão. Os dois são do MDB.

A desembargadora descartou a possibilidade de aderir à política partidária para assumir o lugar do marido recentemente falecido. Alegou, sobretudo, que está em meio a uma carreira jurídica que muito ama e, portanto, não deseja interrompê-la.

“Acho interessante que a Paraíba saiba que a viúva de Maranhão é somente uma magistrada. Não tenho pretensão política, não nasci para fazer política partidária”, enfatizou.

Durante a entrevista, entrecortada por instantes de emoção e embargo de voz, a desembargadora Fátima manifestou um desejo:

“Eu queria que o legado político de José Maranhão ficasse para um Raniery, um Roberto Paulino; um Veneziano Vital do Rêgo (citado com muita ênfase). Porque esses jovens estão com o futuro nas mãos. O retorno de Veneziano ao MDB foi muito bom. Eu só queria que esse legado político de Maranhão continuasse dentro do MDB para que eles honrassem a memória de José Maranhão seguindo os passos dele.”

A viúva de José Maranhão relatou, ainda, como têm sido os primeiros dias da família sem a presença do seu matriarca, que morreu num hospital de São Paulo, vítima de sequelas decorrentes da Covid-19. “Até a última hora, eu acreditava que ele iria resistir e dar a volta por cima”, comentou para cantarolar com saudosismo: “Na minha vida tá faltando ele/e a saudade dele/tá doendo em mim”. 

Durante a entrevista, Fátima Bezerra também fala sobre o José Maranhão marido, pai, avô e homem de negócios.

Segue a entrevista:

PBAgora – Com a morte do seu marido, o senador José Maranhão, a senhora tem a pretensão de substituí-lo na política?

Fátima Bezerra Cavalcanti – Eu acho interessante que a Paraíba saiba que a viúva de José Maranhão é tão somente uma magistrada; uma juíza que, hoje, está no segundo grau da carreira. Eu sou juíza concursada. Namorei Maranhão por treze anos e, durante esse período, eu me dediquei muito aos Estudos. 

Aliás, eu sempre fui uma pessoa muito voltada às letras. Meu sonho era publicar um livro. Há uma frase atribuída ao poeta cubano José Martí que diz: há algumas coisas que um homem deve fazer na vida – plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Pois bem: ao nascimento de cada filho meu eu plantei um coqueiro. Eu tenho dois coqueiros lá na fazenda, que representam os dois filhos que tive. 

PBAgora – Mas tem, também, livro publicado sob o título “Guiadas Pela Justiça, Movidas pela Fé”, prefaciado por ninguém menos que a escritora e acadêmica Nélida Piñon, não é?

Fátima Bezerra Cavalcanti – Quanto aos livros, eu tenho a oportunidade de escrever, graças a Deus. Deus me deu esse dom. A pessoa dizer “eu não tenho essa qualidade…” Ser humilde, não é negar as qualidades que tem; ser humilde é a pessoa reconhecer que suas qualidades são dons de Deus. E colocar esses dons e talentos a serviço do próximo. Deus me deu esse dom e, por isso, enveredei pela carreira jurídica, que exige que se leia muito, que se estude muito. 

PBAgora – Quanto ao comando do MDB?

Fátima Bezerra Cavalcanti – O MDB era o partido de José Maranhão. Maranhão nunca mudou de partido. Foi MDB, depois passou a se chamar PMDB e, agora, voltou a ser MDB. A semelhança do meu pai, Waldir Bezerra (ex-deputado estadual), de quem eu também tenho muita honra de ser filha por ter sido um político íntegro e honesto, e a exemplo também do meu marido, José Maranhão, o MDB foi sempre uma das paixões da vida deles.

PBAgora – Objetivamente, a senhora tem pretensões políticas, pensa em ocupar o espaço político deixado pelo seu marido?

Fátima Bezerra Cavalcanti – Eu não tenho nenhuma pretensão política. Eu não nasci para fazer política partidária; Política social, sim. Eu gosto de conversar, eu gosto de ouvir, de escrever, partilhar. Eu sou muito democrática, sou sensível e sentimental.  Meu marido dizia: “minha filha, você é muito romântica”. Em tudo eu via romantismo. Até nesta frase dele eu dizia: “Que romântico você falar assim de mim”. Então, pretensão política minha é nenhuma. Sou magistrada de carreira e apaixonada pela minha profissão.

PBAgora – Mas o que a senhora pensa sobre a sucessão política do senador José Maranhão?

Fátima Bezerra Cavalcanti – Bem, quanto à sucessão política de José Maranhão, temos a irmã dele, Wilma Maranhão, que foi prefeita de Araruna algumas vezes; uma mulher que ainda tem todas as condições, embora com uma certa idade, mas você veja que Maranhão com 87 anos só morreu porque esse inimigo terrível (coronavírus) tomou conta do pulmão dele. Wilma é uma pessoa lúcida, inteligente e capaz. Tem também Benjamin Maranhão, Olenka Maranhão, que são políticos já há algum tempo. Temos Mirabeau Maranhão, que é um médico muito conceituado em Campina Grande; Magda Maranhão, sobrinha dele, uma pessoa muito afável e querida. Na família Maranhão, de repente qualquer um deles pode despertar para ocupar o espaço político deixado por ele. O que também não significa dizer que um dos meus filhos também não possa sê-lo. Como Maria Alice, que é médica; como Leônidas Maranhão (Leo), que é educador físico, atleta e gosta de mecânica como o pai gostava. Então, meus filhos são pessoas de luta, guerreiros e neles poderia despertar uma veia política. Mas isso não aconteceu dentro da minha casa. Aqui, todos nós queremos continuar dentro da minha casa, onde José Maranhão ainda está tão presente; tão… (voz embargada) …tão vivo aqui dentro. Mas eu e nossos filhos não temos pretensão política alguma.

PBAgora – Mas há um legado político de José Maranhão que, pela sua dimensão e pela relevância dele no cenário da Paraíba, terá de ser preservado. Se não houver uma alternativa de dentro de casa, ou da família, o que a senhora sugere?

Fátima Bezerra Cavalcanti – Embora não tenhamos pretensão política nenhuma, o que nós queremos é que o legado de José Maranhão seja oferecido não a uma só pessoa, ou duas, ou três. É importante que tenha um Maranhão sempre na política do MDB, porque esta família, da qual meus filhos fazem parte, todos sempre foram apaixonados pelo partido do pai. Mas eu queria que o legado político de José Maranhão ficasse para um Raniery, um Roberto Paulino; um Veneziano Vital do Rêgo (citado com muita ênfase); Porque eles, sim, esses jovens, Raniery, Veneziano, eles estão com o futuro nas mãos. O MDB é um partido coeso. O retorno de Veneziano ao MDB foi muito bom. E eles estão com o futuro nas mãos. São inteligentes, probos, dignos. E eu só queria que esse legado político de Maranhão continuasse dentro do MDB para que eles honrassem a memória de José Maranhão seguindo os passos dele.

PBAgora – Durante o tempo em que o senador Maranhão esteve no hospital, em algum momento a senhora perdeu a esperança de que ele sobreviveria?

Fátima Bezerra Cavalcanti – Apesar da Covid-19 ter tomado o pulmão dele, todo o resto do corpo estava funcionando bem. E, até a última hora, eu acreditava que ele iria resistir e dar a volta por cima. “Na minha vida tá faltando ele/e a saudade dele/tá doendo em mim”. Eu tocava muito essa música ao piano pensando no meu pai (voz embargada). Mas a dor de um companheiro perdido é tão grande. Eu achava que a dor de ter perdido a minha mãe, ter perdido o meu pai, eu não teria outra igual. Mas a dor de perder um companheiro como José Maranhão é uma dor sem tamanho (muito emocionada). A Saudade dele dói. 

PBAgora – Como tem sido os a vida em família nestes primeiros dias após amorte de José Maranhão? O que mudou na rotina familiar?

Fátima Bezerra Cavalcanti – Quando amanhecemos hoje, eu minha filha e meu filho, todos à mesa, olhávamos um para o outro. Eu ocupei o lugar dele na mesa e disse aos meus filhos; “Eu estou ocupando esse lugar de seu pai na mesa – porque aqui é tudo muito formal e tradicional – porque eu vou procurar ser para vocês pai e mãe. Isso daí nosso pai, Waldir Bezerra, nos disse quando nós perdemos a nossa mãe. Eu tinha 23 anos quando a minha mãe morreu num acidente fatal, grave e terrível. Nosso pai continuou no mesmo lugar, claro, sendo ele patriarca. E disse: “Eu vou procurar ser pai e mãe de vocês”. Eu me lembrei do meu pai e disse isso a meus filhos. Porque meu neto não se encontrava; eu acho que não existe paixão maior do que a do meu neto pelo avô. Tanto que ele chamava o avô de papai Zé. E o amor de Maranhão pelos dois netos, o José Neto e Fatinha Neta, será um amor para sempre, como são os amores verdadeiros. Pois bem. Hoje sentamos à mesa, nos entreolhamos e ninguém teve a iniciativa, sequer, de por uma xícara de café com leite na boca. Era só pranto e pranto. Todos chorando silenciosamente. Aí acorda a minha netinha, Fatinha, de um ano e meio e chega pra nós e diz: “Vovô, cadê?”. Então, isso doeu muito. Por isso sou uma pessoa que escreve com muito sentimentalismo. Porque a minha vida é assim, cheia de sinais; sinais de amor, sinais de Deus. Por isso, eu sou uma sentimental. A veia poética que você diz que tenho é a minha própria vida. Quando Fatinha disse – “vovô, cadê?” – foi como se José Maranhão dissesse assim: “Assuma a sua vida, minha filha; tome conta da nossa família”. Então quando ela disse “cadê vovô”, eu disse: Vovô tá lá no céu; manda um beijo pra ele. Aí ela mandou e ficou dizendo “o céu, o céu” e me puxando até o jardim, para ver o céu; e quando ali chegou ela ficou mandando beijos pro vovô (na direção do céu). Então esta casa é o espaço que Maranhão ocupou na vida. 

PBAgora – Como era José Maranhão em casa. Maranhão, marido, pai avô?

Fátima Bezerra Cavalcanti – Eu sempre dizia, na intimidade, e agora posso dizer de público: Maranhão não foi só o meu amor. Maranhão era o amor da Paraíba Era o nosso amor. Ele sempre estava fora, ora resolvendo coisas da política; ora resolvendo coisas da agropecuária. Mas quando ele estava aqui dentro ele era intenso, profundamente intenso. Um avô carinhoso, um pai conselheiro, um marido companheiro. Então, quando eu voltei com a minha neta do jardim, eu olhei para meus filhos e disse: Faz de conta que ele foi para Tocantins e voltará daqui a um mês; faz de conta que ele foi para Brasília e voltará dentro de uma semana; faz de conta que ele está numa viagem internacional assistindo feiras de avião, que ele não perdia as feiras internacionais de avião, sobretudo nos Estados Unidos. Faz de conta que ele vai voltar. O filho mais novo só calado, chorando, ele é mais introspectivo nestes momentos. A minha filha mais velha disse: “Mainha, nós não podemos mais brincar de faz de conta. Nós temos que dizer assim: nosso pai está com Deus e nós não vamos tirá-lo, nunca, de nossas vidas e dos nossos corações. Porque o que nós fizermos, nós teremos um sensor e este sensor se chama José Maranhão. E será este sensor que continuará dirigindo nossas vidas para sermos pessoas como ele foi: altamente generoso; altamente justo. Quando ela disse isso, os dois irmãos se abraçaram. E eu disse: muito bem, minha filha, você está certa. Esse romantismo da sua mãe está muito exagerado; seu pai também iria dizer isso. Maranhão não morrerá nunca, para nós nem para a Paraíba. Porque ele se doou muito. 

PBAgora – Durante a campanha política, José Maranhão esteve muito no meio do povo, nas aglomerações. Ele já tinha 87 anos. Ele não se dava conta dos riscos que corria?

Fátima Bezerra Cavalcanti – Ele morreu por conta da política. Porque desenvolveu atividades políticas na campanha. Ele morreu fazendo o que queria. Morreu sendo o que queria ser, um político em pleno exercício. Deus lhe concedeu essa graça de fazer política. Ele fez a política porque ele queria, gostava e precisava atender ao chamamento dos correligionários e do povo. Ninguém o continha. E quanto ele chegava às localidades, aos municípios, as pessoas queriam tocar nele, beijar, tirar fotos ao lado dele, abraçar. E ele deixava. Os assessores me contavam, eu dizia: meu amor, pelo amor de Deus, olhe a pandemia aí. E ele sempre dizia que estava tendo cuidado. E eu dizia, não adianta você ter cuidado trocando abraços. Então, ele dizia que não poderia negar o abraço ao povo. Eu ponderava: então não saía de casa. Ele respondia que não poderia abandonar um companheiro de partido que era candidato às eleições de então. E assim foi, até a morte. Morreu fazendo política e sendo político em exercício, honrando o seu Estado. Eu sou uma mulher agraciada por Deus. Mas na mesa, sobretudo na minha vida, está faltando ele. A saudade dele está doendo muito, mas no meu coração é vermelho. Não porque seja do MDB. Política partidária, eu nunca fiz nem com meu marido aqui, como vou fazer agora sem ele? Herdeira política, não. Quero ser herdeira das virtudes e qualidades dele. Quero, sim, que o Senhor me ajude, que Deus me conceda essa graça de ser prudente como Maranhão; de ser serena, como Maranhão, paciente e generosa como ele. Este legado, sim, eu quero ocupar. Quero ser herdeira das virtudes de José Maranhão. Nem eu nem meus filhos, repito, estamos pensando na política partidária. Porque o político era ele, Maranhão, e serão outros que possam surgir. O que desejo mesmo é que essa juventude do MDB, que é Veneziano, que é Raniery, que é agora o Coronel Sobreira, representando o MDB na Câmara Municipal. Essa turma jovem do MDB faça o seguinte: homenageie sempre José Maranhão. Quando forem tomar uma decisão, lembrem-se das atitudes de Maranhão. Pense como ele faria. Eu ficarei muito feliz aqui, e José Maranhão ficará muito feliz no céu onde ele se encontra.

 

Wellington Farias

PB Agora

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