Laboratório 3D da UEPB produz biomodelos que facilitam cirurgias e ajudam a salvar vidas

Pela primeira vez na América Latina um evento discutiu essa semana em Campina Grande, a aplicação da tecnologia 3D em prol da Saúde. O Workshop Internacional em Manufaturas Aditivas para a Saúde (WIMAS), promovido pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), através do Laboratório de Tecnologias Tridimensionais do Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde (NUTES), reuniu especialistas do Brasil, Colômbia, Estados Unidos e França que aprofundarão as discussões acerca da temática.

A vinda do Workshop para Campina Grande foi resultado do trabalho que desde 2011 vem sendo realizado pelo Laboratório de Tecnologias 3D da Instituição. O Laboratório faz parte do Nutes, e vem facilitando a vida dos pacientes politraumatizados que precisam de cirurgias no Hospital de Emergência e Trauma Dom Luiz Gonzaga Fernandes.
Atualmente o Nutes é responsável por 14 projetos, sendo que o que mais chama a atenção da comunidade científica, é o de 3 D.

Referência no Nordeste, o laboratório produz biomodelos de protótipos para cirurgias nas áreas de ortopedia, neurocirurgia, traumatologia bucomaxilofacial e ortognática, cirurgia craniomaxilofacial e plástica, implantodontia, oncologia, entre outras.

O Núcleo é o único no Nordeste a possui a moderna impressora 3D. Única em funcionamento no Nordeste, a impressora 3D ajuda a promover as reabilitações humanas através da confecção de próteses e servir como guia cirúrgico para implantes dentários. Ela é capaz de imprimir as partes estáticas e móveis de um modelo com articulações capazes de realizar movimentos, a exemplo de mandíbula, ombro e joelho.

O Laboratório de Prototipagem da UEPB é o terceiro do Brasil a possuir a impressora 3D. No Brasil apenas o Centro de Tecnologia da Informação (CTI), que funciona em Campinas (SP); o Instituto Nacional de Tecnologia (INT), do Rio de Janeiro; e o NUTES dispõem desta tecnologia.

O coordenador do Nutes, professor Misael Morais enfatizou que as atividades desenvolvidas no Laboratório 3D e as experiências na impressão de biomodelos são modelados a partir de imagens provenientes de arquivos de tomografia, ressonância, ultrassom e scanner, através de softwares CAD/CAM.

“Esta é uma tecnologia que traz grandes avanços nas soluções médicas, principalmente, nas áreas de traumas, o que nos faz desenvolver um importante trabalho junto ao Hospital de Emergência e Trauma de Campina Grande. Com isso, oferecemos uma tecnologia que utiliza um equipamento de prototipagem rápida para aplicação biomédica e odontológica em 3D, também chamado de manufatura aditiva” observou Misael Morais.

De acordo com a coordenadora do Nutes, a professora Nadja Oliveira, o biomodelo ajuda na visualização da parte afetada do paciente. Os protótipos desenvolvidos no laboratório usando alta tecnologia, ajudam os médicos a planejar as cirurgias nos mais diversos tipos, principalmente, de alta complexidade.

“Os biomodelos reproduzem com exatidão a anatomia da região que sofrerá intervenção médica. Com a melhoria da visualização, o planejamento cirúrgico é facilitado, diminuindo o tempo das cirurgias e reduzindo os riscos de erros médicos devido à falta de informações”, afirmou.

O processo de impressão do protótipo, conforme explicou a especialista, começa com o envio dos exames dos pacientes para o laboratório, como tomografia, ressonância magnética ou ultrassonografia. Com a utilização de um software, a equipe converte o arquivo em uma imagem em três dimensões.

“O primeiro passo é o profissional pedir um exame de diagnóstico do paciente e que esse exame seja capaz de ser copiado em um CD no formado que o nosso software possa ler” observou.

Ela explica que com base nas imagens do paciente, a equipe do Nutes elabora um biomodelo tridimensional. Ou seja, as imagens planas que aparecem na tela do computador, se transformam em protótipo tridimensional com a ajuda do software.

Na impressora 3 D, o protótipo ganha forma em um processo que varia de 8 a 14 horas. Os protótipos são usados por cirurgiões do Hospital de Trauma graças a um convênio firmado entre o Nutes e a unidade hospitalar.
Desde o início da parceria com o Hospital de Trauma mais de 50 cirurgias já foram feitas com a ajuda do laboratório.

Os biomodelos são impressos em resina acrílica e o tempo depende da complexidade da região do corpo. Um de mandíbula leva em torno de 14 horas para ficar pronto e um de crânio cerca de 40 horas, segundo o Nutes.

A utilização dos biomodelos, ajuda a tornar as cirurgias bem mais rápidas e precisas, ajudando assim, a diminuir o erário público. Isso porque, uma cirurgia que poderia durar até 4 horas, pode ser executada em até 40 minutos.

“Toda a parte de traumatologia, tanto a cirurgia de bucomaxilofacial como a de ortopedia e a neurocirurgia, existe a dificuldade de execução direto no paciente por causa da dobradura das placas metálicas, fixação de parafusos, localizadores” observou Nadja.

Com o biomodelo do paciente o cirurgião faz todo o planejamento antes. Ou seja, o molde da prótese com o tamanho correto para i implante. Como tudo foi previamente feito, a cirurgia dura somente o tempo de fixação de placas ou parafusos”, diferente da técnica de cirurgia tradicional.

Ela ainda observou que a tecnologia 3D é a terceira revolução industrial e que não há como fugir dela. Segundo a professora, o mundo inteiro já utiliza a manufatura aditiva aplicada à saúde e que a UEPB dá um grande passo para contribuir com a especialização dessa área.

“Na verdade a UEPB está partindo na frente no uso dessa tecnologia na América Latina. Ainda não tivemos até o momento nenhum evento de manufatura 3D no Brasil, específico para aplicação em saúde”, observou.

Graças a sua atuação, o Nutes já despertou a atenção de hospitais de Recife, Fortaleza, Juazeiro do Norte e João Pessoa. Essas unidades de saúde já solicitaram os biomodelos e também querem fazer uso da mesma tecnologia. Devido ao equipamento, a UEPB já recebeu pedidos para formação de protótipos de Salvador, Brasília, entre outros centros que tomaram conhecimento do equipamento através de congressos médicos.

Certificação – Outro trabalho desenvolvido de forma pioneira pelo Nutes é o de certificação de dispositivos médicos. Estudantes, professores e pesquisadores da área, realizam testes em programas de computador voltado a área da saúde com vistas a autorização de vendas no mercado por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). O órgão federal é responsável pela regulação de produtos serviços relacionado a saúde.

“A certificação na verdade é um atestado de que aquele dispositivo que está sendo certificado tem a segurança e a confiabilidade do que ele se propõe a fazer” garantiu o professor Misael Morais. Segundo ele, o papel do laboratório do Nutes é tentar dar suporte tecnológico e científico a todos os órgãos reguladores.

O Núcleo de Tecnologias Estratégicas em Saúde é fruto de um convênio da UEPB, a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério da Saúde (MS) e a Fundação Parque Tecnológico da Paraíba (PaqTcPB).

Ele fica instalado no Centro de Ciências Biológicas da Saúde (CCBS) e está localizado em uma área de 1 mil metros quadrados. Conta com mais cinco laboratórios nas áreas de Biomedicina, Eletrônica e Engenharia. Na equipe, o núcleo tem professores, pesquisadores e alunos.

Severino Lopes

PBAgora