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Especialista explica o que há de semelhante e de novo entre Covid-19 e outras pandemias

Desde janeiro de 2020, a crescente proliferação do novo Coronavírus transformou-se em um dos maiores desafios da humanidade. Entretanto, lidar com uma pandemia infecciosa de proporções continentais e mundiais não é algo recente na história. Surtos de doenças repetem-se pelos séculos com algumas semelhanças tanto na forma de propagação quando de contenção destas doenças. Dessa maneira, podemos equiparar esta pandemia com outras que ocorreram anteriormente e criar alguns paralelos entre os casos. Para o professor doutor de história da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Guilherme Queiroz, um desses casos é a Peste Negra que teve origem provável na Ásia central ou na China e tinha duas formas: a bubônica, que tinha 70% de letalidade e a pulmonar, com 100% de letalidade.

Pandemia: conceito e características
De acordo com a Organização Mundial de Saúde, Pandemia é um termo usado para uma determinada doença que rapidamente se espalhou por diversas partes de diversas regiões (continental ou mundial) através de uma contaminação sustentada. Neste quesito, a gravidade da doença não é determinante e sim o seu poder de contágio e sua proliferação geográfica. “Pandemia não é uma palavra para ser usada à toa ou sem cuidado. É uma palavra que, se usada incorretamente, pode causar um medo irracional ou uma noção injustificada de que a luta terminou, o que leva a sofrimento e mortes desnecessários”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, durante a proliferação da Covid-19 em março de 2020.

É preciso destacar que Pandemia tem conceito diferente de Endemia e Epidemia. No caso das Endemias, se classificam doenças que se encontram em uma determinada zona de maneira permanente durante anos e anos.

Já as epidemias são classificadas quando existe o aumento de casos até um máximo de infecções e depois uma diminuição dos mesmos. Os dois se diferem da pandemia, que a grosso modo ocorre em todo um continente ou em todo o mundo ao mesmo tempo”.

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Histórico das Pandemias
Nos últimos 30 anos, tem crescido o número de surtos de vírus, proliferando assim as doenças que assolam todo o mundo. Entretanto, relatos históricos de pandemias vão além do século XX e já preocupam a humanidade há dois mil anos. Vamos relembrar alguns casos mais famosos?

Peste de Justiniano
Um dos primeiros casos de Pandemia registrados é a Peste de Justiniano, acontecida por volta de 541 D.C. e que se iniciou no Egito até chegar à capital do Império Bizantino. Provocada pela peste bubônica, transmitida através de pulgas em ratos contaminados, a enfermidade matou entre 500 mil a 1 milhão de pessoas apenas em Constantinopla, espalhando por Síria, Turquia, Pérsia (Irã) e parte da Europa. Estima-se que a pandemia tenha durado mais de 200 anos.

Peste Negra
Segundo professor paraibano a transmissão ocorria por ratos infectados ou pelas pulgas que carregavam a bactéria causadora da doença. Entre os principais sintomas estavam febre alta, inchaço dos gânglios e manchas escuras causadas pelas hemorragias, o que levou ao nome popular da doença: Peste Negra. O professor explicou que é muito difícil estimar a quantidade de mortes causadas pela Peste, no entanto, alguns estudiosos apontam que, no mínimo, entre 20 e 30 milhões pessoas morreram, com a Europa perdendo cerca de 1/3 de sua população.
Os avanços que facilitaram o deslocamento de pessoas na época favoreceram a disseminação da doença, que atingiu o continente europeu em 1348. O historiador comentou que antes da chegada da Peste, até meados do século XIV, havia um notável aumento populacional e desenvolvimento urbano. “Novas cidades surgiram e, aquelas já existentes, cresceram em tamanho. Essa expansão foi acompanhada pela construção de centenas de pontes, as quais facilitaram o deslocamento”, disse. Os judeus e leprosos da época foram considerados “bodes expiatórios”, acusados de envenenamento dos poços e dos rios, que teria causado a Peste.
O historiador ressaltou que o sentimento de xenofobia aumentou com perseguições e massacres a essas pessoas, apesar dos próprios também sofrerem com a doença. Os religiosos cristãos também tiveram mudanças em suas práticas com a chegada da epidemia. Ocorreu uma maior expectativa pelo Juízo Final e a chegada do Anticristo.

Gripe Russa
Já em 1580, existem relatos da primeira pandemia de gripe, que se espalhou por Ásia, Europa, África e América. Séculos depois, em 1889, a Gripe Russa foi a primeira a ser documentada com detalhes, com proliferação inicial de duas semanas sobre o Império Russo e chegando até o Rio de Janeiro. Ao todo, 1 milhão de pessoas morreram por conta de um subtipo da Influenza A.

Gripe Espanhola
Em 1918, a Gripe Espanhola causou a morte de 20 a 50 milhões de pessoas, afetando não só idosos e pacientes com sistema imunológico debilitado como também jovens e adultos. Com possível origem nos Estados Unidos, essa enfermidade quase dizimou as populações indígenas e levou a óbito cerca de 35 mil brasileiros.

Com outras variáveis durante o século XX, a gripe ocasionou surtos pandêmicos nos anos de 1957 e 1968. Já em 2009, uma variação da Gripe Suína – anteriormente evitada na década de 70 – assolou a América do Norte, Europa, África e Ásia oriental.

Semelhanças entre Covid-19 e outras pandemias
Mesmo com origens distintas, o que mais se assemelha entre os surtos pandêmicos é o comportamento humano perante as enfermidades. Um primeiro ponto a se observar se deve ao fato do temor da população as doenças ter ligação direta com os primeiros métodos de prevenção.

Foi durante a Peste Negra que a cidade de Veneza adotou o conceito de quarentena, herdado do Velho Testamento da Bíblia como tempo de isolamento para surtos de hanseníase na antiguidade.

Entretanto, outra “herança” dos surtos de pandemia que se repete a cada novo caso não é justamente uma vantagem para a prevenção. Com medo e certa falta de conhecimento, as pessoas acabam se apegando a crendice popular ou informações falsas para se prevenir.

Redação

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