Existe um clima de guerra nos bastidores envolvendo a possibilidade, cada vez mais palpável, de haver uma aliança entre os tucanos do PSDB e os girassóis de Ricardo Coutinho. Há muita tensão, em alguns segmentos internos de ambos os lados, mas acho que seria interessante os “histéricos” se darem conta de uma realidade: não existe nada de anormal no processo.
Já sei: essa simples observação de naturalidade é capaz de atiçar os nervos de muita gente. Pois digo que até mesmo esse tipo de reação na base dos dois blocos é natural; a sensação, por parte de alguns militantes, de que estaria se cometendo um grande pecado nessa aliança possível também não é de se estranhar…
Normal demais, ora pois.
Afinal, existem muitos interesses em jogo. E, nesse caso, contabilize-se desde a preservação dos mais legítimos princípios partidários e compromissos ideológicos de uma parcela, como também os interessezinhos particulares, ao ver ameaçados ou visados, a depender de que lado for, contracheques gordos e espaços na estrutura administrativa, por parte de outros operadores do poder.
É uma grita que envolve tudo isso e muito mais. O fato é que, à essa altura, por conta do desgaste provocado pelos sucessivos embates nas urnas, existe uma série de melindres de ambos os lados; existem aqueles que se sentem eternamente feridos em sua honra; há os que consideram imperdoáveis determinadas atitudes em algum momento do passado; existem, até, lamentavelmente, aqueles que se alimentaram do intolerável joguinho da fofoca, do tal rame-rame, do disse-me-disse infrutífero e danoso, que terminam por fazer de uma natural disputa de poder em determinado ponto da federação uma guerra inconsequente de dimensões galáticas.
O elemento humano pesa muito nessas horas. É natural. Mas também é muito humana a capaciadade de se evoluir para outros patamares; de se renunciar a questiúnculas em nome de projetos maiores; de investir no novo sem medo de ser feliz, e não apenas rechaça-lo por não conhece-lo; de abrir a alma para novas possibilidades, embora se mantenha o espírito alerta pelo instinto de sobrevivência; de transformar possibilidades em desafios; de fazer da arte da convivência um exercício de crescimento; de estender a mão ao adversário de ontem, sem que para isso tenha-se que vender a alma, corromper os princípios, violentar-se no exercício da ética.
É tudo, afinal, uma questão de se entender dentro do processo. Aí, a opção é fincar resistência, por acreditar que este é o caminho inevitável para se manter no poder, ou contribuir para que se consolide o que bem diz a música dos talentosos irmãos Nonatos: “Tornar impossível o que é quase impossível, só será possível se você quiser”.