O processo de delação premiada à luz dos princípios constitucionais é válido, mesmo havendo embate hercúleo na seara dos juristas quanto a sua própria legalidade. E aqui, claro, não entrarei no mérito das discussões. A minha pretensão é observar a gravidade das conversas envolvendo o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) e o ex-mandatário da Cruz Vermelha, Daniel Gomes, delator na Operação Calvário.
Em áudio vazado e amplamente divulgado pela imprensa local e nacional nesta quinta-feira (09), há um diálogo envolvendo o ex-chefe do Executivo Estadual e Daniel Gomes. Assuntos diversos são tratados, dentre eles a possibilidade de Coutinho sair, à época das eleições de 2018, candidato a senador da República.
Ricardo rechaça a possibilidade, entende os riscos de tal decisão, e põe suas esperanças em um suposto “aporte” de Daniel Gomes depois que sair do cargo. Diz um trecho da conversa: “Depois que eu sair eu vou querer uma cobertura…”, para em seguida ouvir do ex-executivo da Cruz Vermelha: “Claro!”.
E seria leviano da minha parte buscar “adivinhar” o significado de “aporte”, mas presume-se uma segurança. Algo que garanta à pessoa uma solidez. Para tanto, busco o Dicionário Online de Português: “Subsídio; qualquer tipo de auxílio que se destina a um propósito específico: aporte financeiro, social, literário, científico”.
Agora, ouvido todo o áudio, faz-se evidente que a defesa de Ricardo Coutinho, com todas as suas prerrogativas garantidas por lei, buscará desqualificar o teor dos áudios. Sua legalidade; se estão editados para prejudicar o ex-governador e outros expedientes que a sociedade conhece, a partir das estratégias de réus e denunciados na Operação Lava Jato e suas múltiplas derivações.
Contudo, algo é ponto pacífico. Uma delação baseada em palavras advindas de uma só fonte, como a da ex-secretária de Administração, Livânia Farias, é algo que tratei no início do texto. Cabem debates jurídicos quanto à sua própria legalidade. Mas um áudio envolvendo delator e delatado é mais complexo de ser questionado pela defesa do acusado.
E nesse gigantesco novelo envolvendo o Minotauro, Minos de Creta, o herói Teseu e sua amada Ariadne, fato é que no diálogo vazado Daniel Gomes fala, de forma incisiva, não conhecer o governador João Azevêdo, estando seu compromisso efetivo com Ricardo Coutinho.
“É claro que torço muito que João ganhe. Eu nem conheço o João. Não tenho relação com ele. Primeiro minha relação é contigo”. Em suma: o governador está raciocinando de forma correta. Buscando “tocar” o estado, estando seu nome noutra esfera bem diferente da “bolha” chamada Calvário. E ele está correto, pois a Paraíba não pode ficar em situação de acefalia.
Eliabe Castor
PB Agora