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A Crise Portuguesa

 O fado, todos sabem, é o canto nacional português, assim como para nós, é o samba. Mas, ao contrário deste, é, de regra, melancólico, assim como o tango argentino. Fala de amores, decepções, conquistas e saudades de um tempo ou momentos d’alma sempre melhores, mais prazerosos.

Assim é Portugal agora, saudoso dos dias em que se vivia melhor, não em relação ao passado remoto de glórias e conquistas e sim recentemente, a partir do ingresso do país na comunidade européia de nações que proporcionou um forte empurrão à modernidade e ao desenvolvimento já experimentado pela vizinha Espanha e a França, que sempre estiveram passos à sua frente.

Sendo um país pequeno quando confrontado com aqueles e com pouco mais de 11 milhões de habitantes, Portugal empregou os generosos créditos recebidos da União Européia para modernizar sua infra-estrutura, o que foi um grande acerto. Neste ponto, é inegável que o país melhorou muito, modernizou-se.

Bons trens, boas estradas, metrô expandido e renovado, aeroportos modernos, construção de novos hospitais, investimento em educação, etc.

Ainda hoje, segundo pesquisa informal que fiz com pessoas, inclusive motoristas de táxi, a assistência à saúde é de ótima qualidade e o sistema de justiça criminal funciona muito bem. Crimes de homicídio injustificados são punidos geralmente com a pena máxima de 25 anos que deve ser cumprida integralmente.

Entretanto, o Partido Socialista, a partir da gestão do primeiro-ministro Antonio Guterres (hoje prestando serviços à ONU), quis transformar Portugal numa verdadeira Suíça, implantando o chamado “Estado Providência” com base num conjunto de direitos sociais que dão respaldo constitucional a esse modelo de organização estatal.

Para tanto, adotou políticas de amparo social, como a do “rendimento mínimo” destinado aos que não tinham trabalho oficial (muitos recebiam e labutavam informalmente, fraudando o programa), expandiu o crédito para compra e reformas de casas e empréstimos para empresas e outros fins, sem que os beneficiados tivessem reais as condições para pagá-los e o Estado lastro para suportar tais ônus.

Pois bem, as despejas públicas explodiram pari passu com a chamada ‘crise européia’ que estagnou as economias de Grécia, Irlanda, Espanha, Portugal e França, sacudidas por crescente desemprego e perda de competitividade agravada pela interdependência e amarras da moeda comum, o euro, sem que antes tivessem eliminado as desigualdades estruturais e diminuído os custos da máquina pública composta de funcionários em gozo de enormes privilégios, como é o caso de França e, em menor grau, da Espanha.

O modelo, também conhecido como “Estado do Bem Estar Social” ou como os portugueses o chamam, “Estado de Providência”, colocou sob a responsabilidade do governo, a partir da gestão socialista, a implantação e expansão de programas sociais, cujo custo se revelou pesado demais para Portugal que acumulou uma dívida muito elevada com o Banco Central Europeu que não pode ser paga com o esperado crescimento econômico.

De consequência, o governo português, agora sob gestão do Partido Social Democrático, teve que fazer dolorosos ajustes nas contas públicas, cortando benefícios, reduzindo salários de servidores públicos, pensões e aposentadorias, medidas que trouxeram protestos e desânimo geral à população atingida.

Para se ter uma idéia das dificuldades, quatro em cada dez jovens em condições de trabalho estão desempregados e muitos emigram para outros países, principalmente Alemanha, que continua sendo o motor econômico da Europa em crise.

O nosso modelo assistencialista, é parecido com o português e, pessoalmente, temo pelas conseqüências que já deram o ar de sua graça, melhor dizendo, desgraça: crescimento pífio da economia, inflação e perda do poder aquisitivo da moeda.

Se esses males não forem revertidos, fatalmente algo parecido pode aqui acontecer, posto ser conditio sine qua non o crescimento da economia para que o governo arrecade mais e possa suportar os custos dos programas sociais.

Como dito, o “Estado de Providência” português, sinônimo de “Welfare State”, mas sem a tradição e as bases reais com que contaram os países que o adotaram antes com sucesso, a exemplo dos nórdicos e mesmo França, que, no entanto, face o ingresso no sistema da grande legião de imigrantes e seus descendentes, notadamente, da África, dá sinais de exaustão.

Se, como dito, mesmo onde há forte tradição de políticas sociais, como em França, esse modelo, embora escorado numa sólida base industrial e no forte setor de serviços, já se apresenta insustentável, imagine o drama dos nossos irmãos portugueses que pensavam estar ricos e do dia para a noite se descobriram pobres e endividados.

Quem não lembra do tempo em que Portugal, como se diz na gíria popular, “se achando”, barrava turistas brasileiros no aeroporto de Lisboa sob acusação de que buscavam usufruir um naco da riqueza portuguesa e/ou européia?

Hoje, tudo está diferente, todos são recebidos de braços abertos, como, aliás, deve ser em qualquer circunstância em se tratando de povos irmãos que partilham, inclusive, um Estatuto de Igualdade jurídica entre os seus cidadãos.

Ainda não se vê tantos pedintes pelas ruas como no Brasil, mas, de vez em quando, nos deparamos com eles nos pontos turísticos e ruas de maior movimento. Noutras, somos abordados, educadamente, por alguns que pedem uma ajuda para o transporte ou o almoço.

De resto, o país continua tranquilo e seguro.


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