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O preço alto da liberdade no Iraque diz especialista

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A três semanas do fim oficial dos combates, especialistas iraquianos veem poucas mudanças desde a queda do regime de Saddam Hussein, temem pelo aumento da insegurança e acreditam que o futuro do país dependerá da união suprapartidária, além do controle sunita do poder
 

O engenheiro Raid R., 48 anos, não estava na Praça Firdos (paraíso, em árabe) quando a estátua de 12m de altura tombou, com a ajuda de uma corda e de um guindaste. Apesar disso, ele reconhece a importância daquele evento. “Eu não acreditava que um dia aquele ditador cairia, e fique feliz de estar vivo para presenciar tal momento”, afirma ao Correio, pela internet. Raid entendeu que às 18h50 daquele 9 de abril de 2003 seu país estava predestinado a ganhar a liberdade. Mas ela não veio da forma como muitos desejavam e custou caro: entre 97 mil e 106 mil pessoas, segundo o site Iraq Body Count, foram mortas desde o início da invasão norte-americana — 20 dias antes da queda do monumento representando o ditador iraquiano Saddam Hussein, no centro de Bagdá.

Na última segunda-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, confirmou que as operações militares no Iraque se encerrarão no próximo dia 31, para que a retirada das tropas seja concluída até o fim de 2011. Em entrevista ao Correio, especialistas iraquianos analisaram o que mudou no país após a invasão anglo-americana e deram sua receita para que a nação ocupada encontre a estabilidade após o fim dos combates.

As bombas extirparam o regime de Saddam, mas não livraram a política da corrupção. “De fato, ela é mais evidente do que antes da guerra”, afirma Louay Bahry, ex-professor de ciência política da Universidade de Bagdá. A escassez de serviços municipais, como o saneamento básico e o fornecimento de energia elétrica, praticamente seguiu inalterada. “O fornecimento de água melhorou cerca de 10% a 20%”, explica ele. “Pelo menos, agora há a esperança de que os iraquianos se unam e sejam capazes de trabalhar por um futuro melhor. Não vejo um futuro diferente, mas uma luz distinta no fim do túnel”, acrescenta Bahry.

Alon Ben-Meir, professor de relações internacionais da Universidade de Nova York, duvida que seu país natal esteja pronto para suportar o peso da estabilização, a menos que seja erguida a base de um governo sólido, capaz de representar todos os iraquianos. Até lá, ele não tem dúvida de que a “terrível” violência prosseguirá. Para Ben-Meir, a paz definitiva depende da ascensão do partido Al-Arabiya ao poder. “A facção obteve a maior parte dos votos (nas eleições parlamentares de março passado) e deve governar. Isso é importante porque o partido conta com o apoio dos sunitas, que serão capazes de reconquistar muitos dos assentos perdidos”, observa.

Ainda segundo Ben-Meir, é hora de os iraquianos mostrarem lealdade ao Estado e depositar o futuro do Iraque acima do partidarismo. Caso contrário, ele aposta que o país será sacudido por uma onda de violência contínua e por conflitos sectários. “A rede Al-Qaeda e outros grupos radicais estão determinados a usar as bombas e as armas para desestabilizar o país, até restaurarem o domínio sunita”, alerta. “É por isso que somente uma coalizão governista, que englobe todos os partidos, representa a melhor esperança ao Iraque”, conclui.

Repressão

Bahry reconhece que, mesmo durante os 23 anos que Saddam permaneceu no poder, a vida no Iraque era perigosa. “As pessoas morriam, mas de forma seletiva. Não havia esse tipo de assassinato aleatório de hoje, com os atentados suicidas”, observa o ex-catedrático da Universidade de Bagdá. Na época do ditador e líder do Partido Baath, havia uma máquina de repressão contra os opositores. “Seus paramilitares, a Guarda Nacional, aliados e as milícias baathistas caçavam as pessoas. O governo ordenava às crianças que denunciassem os pais ao governo. Estudantes de 9 anos acabaram os entregando”, lembra.

“A guerra foi um erro terrível”, opina Ben-Meir. Ele sustenta que Saddam não representava uma ameaça iminente à Casa Branca, não possuía armas nucleares nem colaborava com a rede Al-Qaeda. “Os Estados Unidos desperdiçaram trilhões de dólares em uma guerra de escolha, que minou seus interesses nacionais e manchou sua autoridade moral”, conclui ele.

 

Correio Braziliense

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