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Autoridades iniciam retirada de moradores da ‘cidade do câncer’

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As autoridades turcas iniciaram a construção de moradias para abrigar a população de vilarejos declarados zonas de desastre por conta de altos índices de câncer entre os moradores.

A região da Capadócia, no centro da Turquia, é tida como uma verdadeira maravilha geológica, conhecida por suas paisagens fantásticas, com rochas porosas talhadas pelo tempo e ruínas históricas que atraem 2 milhões de turistas por ano.

As rochas características da região, escavadas para a construção de igrejas-cavernas e cidades subterrâneas, foram depositadas no local milhões de anos atrás pela erupção de vulcões que cercam a planície.

A riqueza trazida pelo turismo tem sido uma benção para muitos na região. Mas em alguns pontos isolados, o que os vulcões deixaram foi uma maldição.
 

Doenças respiratórias

À primeira vista, o vilarejo de Tuzkoy não parece muito diferente das outras cidadezinhas da vizinhança.

A maioria das construções é feita com a rocha amarelada, porosa, típica da região.

Historicamente, os moradores de Tuzkoy apresentam altos índices de doenças respiratórias, que são responsáveis por cerca de metade de todas as mortes no vilarejo.

Até recentemente, ninguém sabia por que.
 

A causa foi descoberta pelo médico Izzettin Baris, que, em meados da década de 1970, começou a estudar pacientes de Tuzkoy e de duas outras cidadezinhas afetadas pelo problema – Karaiun e Sarahidir.

‘Na época, os médicos estavam diagnosticando esses pacientes com tuberculose, que era muito comum no período’, diz Baris.

‘Mas eles não entendiam por que o tratamento habitual para tuberculose não estava funcionando.’

Baris descobriu que os pacientes estavam na verdade sofrendo de mesotelioma, uma forma violenta de câncer causada por exposição a amianto, também conhecido como asbesto, uma fibra natural que pertence ao grupo dos silicatos cristalinos hidratados.

Mineral raro

Os índices da doença na área eram centenas de vezes mais altos do que em qualquer outro lugar na Turquia.

Mas não havia amianto na região.

A causa das doenças em Tuzkoy foi descoberta pelo médico Izzettin Baris

Mais pesquisas demonstraram que a causa era um mineral raro, chamado erionita, que tem propriedades similares a do amianto e é muito presente nas rochas nos arredores de Tuzkoy.

Como a rocha é macia e porosa, é muito fácil inalar os fragmentos de erionita, ele explicou.

‘As mulheres com frequência iam aos celeiros e escovavam a poeira das paredes’.

‘Então inalavam os fragmentos. Mesmo se uma criança nascida no vilarejo se muda durante a infância, ela não pode escapar do mesotelioma. É uma doença horrível e causa muita dor’, disse Baris.

Nova cidade

Outros estudos mostraram que pessoas de Tuzkoy que haviam se mudado para lugares como Istambul ou Suécia também apresentavam altos índices de mesotelioma.

A única solução, disse Baris, seria transferir a cidadezinha para outro local.

Mais de 30 anos após a descoberta inicial do médico, a transferência está prestes a acontecer.

Uma nova cidade está sendo construída na montanha nos arredores de Tuzkoy, uma área livre de erionita.

O governo central liberou recursos para a obra após partes do vilarejo terem sido declaradas zonas de desastre.

Existe hoje um comitê especial no Parlamento turco para decidir o que fazer com a cidadezinha.

Mas ainda há pessoas vivendo na zona de perigo. Alguns se recusam a acreditar no vínculo entre a rocha de que as casas são feitas e o câncer.

Rótulo

Baris diz que não é mais bem-vindo em Karain, uma das três cidadezinhas afetadas, porque os moradores o acusam de ter rotulado o lugar de ‘cidade do câncer’.

Outros moradores, por uma razão ou outra, não se qualificam para receber uma nova habitação.

Dondu Guler e seus filhos, por exemplo, continuam vivendo em uma casa emprestada por parentes em Tuzkoy. Como ela não é dona da propriedade, não tem direito a se mudar para uma das casas novas.

Muitos dos parentes de Guler morreram de mesotelioma, mas seus filhos continuam a brincar entre os prédios cujas paredes quase certamente possuem os fragmentos letais de erionita.

Outros moradores dizem que pessoas que saíram do vilarejo há anos, mas ainda possuem propriedades na zona de perigo, receberam novas casas e as estão alugando.

Apenas 250 casas foram construídas, mais de mil moradores permanecem na cidadezinha.

Nova geração

O prefeito, Umit Balak, disse estar ciente das reclamações.

Ele elogia o governo atual por ser o primeiro a lidar com o problema extraordinário de saúde que afeta Tuzkoy, mas diz que precisa de mais ajuda.

‘Planejo voltar para Ancara, para falar com o primeiro-ministro em pessoa, se necessário, e explicar que o vilarejo inteiro de Tuzkoy deveria ser declarado uma zona de desastre, para que mais fundos sejam liberados e todos possam se mudar’.

‘Isto é urgente, para que podemos salvar a nova geração.’

O prefeito gostaria de demolir o vilarejo, cobrir a área com terra e plantar árvores no local.

Mas Baris se opõe à ideia.

‘Demolir as casas é inútil e perigoso. Imagine toda a poeira. E quem iria fazer o serviço?’, ele pergunta.

Ele propõe que a cidade seja cercada e que se deixe a natureza tomar conta do lugar.

Baris disse que o mineral erionita está presente em outras áreas da Turquia, mas em camadas mais profundas do solo.

Apenas nesses três vilarejos o mineral é encontrado na superfície.

O médico explica que as cidades vizinhas da Capadócia, onde turistas com frequência se hospedam em hotéis escavados na rocha, são perfeitamente seguras.
 

 

G1

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