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Lobão lança autobiografia polêmica em Brasília

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Xurupito era o apelido do menino que os pais vestiam como um garoto da década de 1940. Não bastassem as camisas de linho, as calças de tergal, os sapatos de verniz e a cabeça raspada com máquina 1 e “um topete ridículo erguido à base de muito gumex”, João Luiz Woerdenbag Filho era chamado pela mãe, no meio da rua, em pleno Rio de Janeiro dos anos 1960, por este nome: Xurupito. Tinham que rir. Tímido em excesso, filho de um “casal jovem, apaixonado, meio desprotegido, meio de direita”, Joãoluizinho (pois é, o outro apelido familiar) tinha tanto medo de entrar em contato com o mundo exterior que acabou inventando várias vidas pra ele. Foram 50 anos de vida louca, vida intensa, vida bandida, vida doce — e uma morte atrás da outra. Lobão sempre soube se reinventar.

Esse meio século vivido em alta velocidade, com episódios trágicos, dolorosos, divertidos, espinhosos, Lobão conta no livro 50 anos a mil, que lança hoje em Brasília, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi (Lago Norte), em pocket show com trio acústico às 19h, e sessão de autógrafos na sequência, às 20h. Amanhã, às 21h, cantor e banda apresentam o show completo, da turnê Lobão elétrico, no América Rock Club, em Taguatinga.

 

Foram quase dois anos dedicados à autobiografia. Lobão escreveu 873 páginas. O livro foi para as prateleiras com 592 — já incluindo a parte que ficou a cargo do jornalista Claudio Tognolli, batizada de Lobão na mídia, um levantamento do que jornais e revistas publicaram sobre ele. Além de complementar (ou provar) o que o cantor conta no texto, essa seção com trechos de reportagens, anexada a alguns capítulos, lhe dá alguma razão no que diz respeito à imagem caricata que se criou em torno dele. “Estou contando uma história que foi, deliberadamente, colocada para baixo do tapete. Sem a participação do Tognolli, certas histórias não poderiam ser contadas”, comenta. “Bom, essa violência eu não deixaria passar assim, impune, mesmo. Não tenho sangue de barata nem propensão a ser vítima da história.”

Das tripas

Bem escrito, com narrativa veloz, 50 anos a mil repassa uma trajetória muito interessante — é a história dele, sim, mas também a de uma época, de uma geração. Está tudo lá. Da nefrose descoberta aos 2 anos, que o obrigou a tomar altas doses de cortisona por muito tempo (ele só teve alta aos 12), à mudança, em 2008, para São Paulo, onde decidiu recomeçar a vida com a mulher, Regina, e os gatos Lampião, Maria Bonita e Dalila. “São Paulo é a cidade que me adotou e eu elegi como minha”, afirma Lobão, que compôs uma música para a cidade (Song for Sampa), disponível aos leitores do livro, no site dele (www.lobão.com.br/ downloads), assim como a inédita Das tripas, coração, feita para três amigos já falecidos: Júlio Barroso, Cazuza e Ezequiel Neves.

É no velório de Júlio Barroso, aliás, que se passa o episódio contado na abertura do livro. Quatro horas da manhã, junho de 1984, ele e Cazuza, transtornados, esticam duas carreiras de cocaína em cima da tampa do caixão. Como uma última homenagem. Também sem papas na língua, Lobão conta sua primeira masturbação, ainda bem menino, diante de uma cruz (ele tinha fixação por isso); a noite em que se apaixonou pela pombajira que baixou no terraço; o dia em que invocou Exu Caveira (outra fixação adolescente) e acordou com o quarto destruído. “Só escrevi com essa sem-cerimônia porque me distanciei, me tratando como um personagem”, afirma.

Entre os momentos mais difíceis de contar, Lobão lembra o dia em que foi expulso de casa pelo pai, aos 19 anos. Levou um cruzado na cara e rebateu com o violão, despedaçando-o inteiro em cima do pai (“Só sosseguei quando não havia mais violão para continuar batendo”). Depois disso, a relação dos dois ficou suspensa, “num limbo relacional”. Muitos anos mais tarde, eles tiveram uma bela tarde de sábado juntos. Logo depois, o pai se matou, envenenado. Lobão também carregaria a culpa pela morte da mãe. Após uma discussão com ele, ela (bipolar) parou com os remédios que tomava três vezes por dia — “uma forma sutil e profissional de se matar”, como ele diz. Sim, a mãe deixou uma carta responsabilizando-o por sua morte.

 

Mas nem tudo é tragédia nessa história. Há episódios engraçados, narrados com humor às vezes ácido, e outros de uma cara de pau inacreditável. Como a vez em que fingiu que continuaria como baterista da Blitz só para sair na capa de uma revista. A entrevista já estava agendada, ele falou pelos cotovelos, chamou a maior atenção. Em seguida, com a revista debaixo do braço e a fita de Cena de cinema nas mãos, foi bater à porta da gravadora. Vinte minutos depois, já tinha assinado contrato para a carreira solo. Saiu chamuscado da Blitz — e riscado da capa do disco da banda. Em retaliação, desenharam, no lugar dele, a cara do lobo mau.

 

Correio Braziliense

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