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Crumb e Shelton arrepiam na Vila Madalena

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Meninos de óculos de fundo de garrafa com espinhas, cabeludos que pareciam ter caminhado desde Woodstock até ali, meninas de boina com ar intelectual, barbudinhos de piercing nas orelhas, artistas, curiosos, nerds, senhoras com jeito uspiano, senhores com ar unicampiano. E até um bebê de menos de dois meses de idade.

Nos anos 60, seus gibis “proibidos” circulavam em conta-gotas, de mão em mão, em ambientes restritos, mas a ressonância daquilo hoje impressiona. Os sumo sacerdotes dos quadrinhos underground, Robert Crumb e Gilbert Shelton, arrastaram uma pequena multidão até uma livraria na Rua Fradique Coutinho, na Vila Madalena, na terça-feira à noite. Escadarias, estantes, corredores, chão e telão na cafeteria: mais de 500 pessoas num espaço onde caberiam, talvez, umas 300. A fila chegava à rua. Os cartunistas falaram durante mais de uma hora e depois autografaram para 40 pessoas (que tinham retirado senhas com antecedência).

 

“Isto não é lugar para criança”, advertiu Robert Crumb, de 67 anos (ele fará 68 daqui a 19 dias), ao chegar para o encontro e ouvir um choro de bebê. Mas o primeiro encontro de Crumb com seus fãs reais foi extremamente proveitoso, do ponto de vista jornalístico: bem-informados, os admiradores faziam perguntas desafiadoras, e Crumb e Shelton, relaxados em seu ambiente natural, não se fizeram de rogados e falaram sobre tudo.

Crumb comparou São Paulo a Los Angeles, “loucas cidades modernas distópicas (o contrário de utópicas)”, disse que estava surpreso que os fãs aqui não fossem todos loucos (“Me falaram de gangues e assassinatos no Rio e em São Paulo, mas, na verdade, o que mais me surpreendeu foi a doçura de vocês”) e disse que não consegue entender por que é tão adorado ao redor do mundo. “Minhas HQs são inapropriadas e pervertidas. Não consigo entender (por que gostam de mim). Fatalmente, algum dia alguém vai levantar e me dar um tiro.”

Já Gilbert Shelton, celebrado autor dos Freak Brothers, ironizou quando alguém lhe perguntou sobre como eles, os cartunistas, mantinham o controle de suas obras quando as negociavam para o cinema (acaba de vender os direitos dos Freak Brothers): “Nos Estados Unidos, os produtores nos dão um monte de dinheiro e dizem: Vão embora!”

 

Um fã quis saber, à queima-roupa, se era verdade que Crumb tinha trocado um sketchbook (caderno de esboço) por um apartamento no Sul da França, onde vive. O cartunista o corrigiu: “Na verdade, foram seis sketchbooks.” Afirmou, entretanto, que não mudou para a França por decisão própria. “Foi ideia da minha mulher.”

Havia ordem na livraria, apesar do aperto. Um maluco gritou lá de cima do mezanino perguntando qual seria a personalidade morta que Crumb elegeria para tomar uma cerveja consigo. “Não tomo cerveja com gente morta. Na verdade, nem tomo cerveja”, respondeu. Só uma vez, em tom de galhofa, o cartunista ordenou que um fã dominasse sua excitação: “Shutupfuckoff!”, rosnou, e o menino riu.

Os fãs se esmeraram nos presentes. Crumb recebeu diversos discos raros de vinil de 78 rotações por minuto. O cartunista Chico Caruso trouxe três pacotes cheios de álbuns. “Parece Natal”, alegrou-se o artista. Abria todos ali mesmo na mesa, com avidez. Ao receber um vinil contendo uma gravação de Tico-Tico no Fubá, de Zequinha de Abreu, Crumb cantarolou: “O Tico-Ticoooo lá. Dabadabadabá!” Mas fez careta e rejeitou um outro disco, colocando-o de lado. O vinil continha uma gravação de Bing Crosby. “Não é bom, não é bom”, repetiu. Ele disse que parou de tocar banjo em apresentações públicas (costumava se apresentar na França com o grupo Cheap Suit Serenaders) e contou que agora só toca o instrumento para seu próprio prazer.

 

Estadão

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