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Torre de Babel: “Blocão” não fala a mesma língua e confunde o eleitor

Torre de Babel: integrantes do “Blocão” não conseguem falar a mesma língua e confundem a cabeça do eleitor paraibano

 

Todos têm apenas uma convicção em comum: derrotar o governador Ricardo Coutinho em 2014

Temos acompanhado com muita atenção essa movimentação de três importantes partidos da Paraíba (PT-PP-PSC) com o objetivo de construir uma nova alternativa política no estado, alicerçados à experiência de sábias raposas como Marcondes Gadelha e Enivaldo Ribeiro, ambos com algumas décadas de ‘janela’. 

Uma "Babilônia" de tribos se juntou. Todos com uma convicção em comum: derrotar o governador Ricardo Coutinho em 2014. Mais do que isso, almejam quebrar uma fortaleza que predomina há décadas na Paraíba: a polarização política.

Emergiram revoltas mais profundas contra o “socialismo ricardista” e o “peemedebismo venezianista”.

Como registro histórico, é bom lembrar que exceto a eleição de 1998, decidida no PMDB em um confinamento num hotel em Natal, as disputas na Paraíba sempre foram renhidas entre dois lados. A razão é simples. Assim como existe o ‘campinismo’ que divide Campina Grande entre Treze e Campinense, vermelhos e amarelos, o interior do estado também apresenta o ‘paraibanismo’ que sustenta o enfrentamento histórico entre dois grupos.  

Também vale salientar que outro grande obstáculo para o “Blocão”, e para a oposição em geral, é que diferentemente de outros estados, na Paraíba o “business” da política é, de forma dramática, a principal atividade econômica e, disparadamente, a maior fonte de emprego. Talvez isso explique o potencial de tensão que, de modo geral, permeia as relações dos envolvidos e a necessidade urgente que todos têm de se explicar a respeito de cada palavra e de cada ato que carreguem qualquer semente de comprometimento futuro. Proteger-se das ‘aves agourentas’ e promover-se junto ao poder parecem ser os dois esportes prediletos da enorme comunidade que gravita em torno da política paraibana.

Mas o que seria afinal de contas o "Blocão"? Uma união entre ‘Progressismo’, ‘Sindicalismo’ e ‘Cristianismo’? Ou simplesmente a junção de um triuvirato de partidos políticos com interesses individuais?

Surge uma pulga atrás da orelha do eleitor paraibano. 

A estética de algumas bandeiras do "Blocão", a exemplo da quebra de um ciclo de bipolarização e a construção de um projeto “alternativo”, ao invés de convencerem, parece que confundiram a cabeça do eleitor. A propósito, o eleitor paraibano já vive numa dúvida cruel quando ouve dizer que Cássio Cunha Lima também poderá ser candidato, mesmo sendo atualmente o maior aliado de Ricardo Coutinho, mas também podendo se tornar seu maior inimigo lá na frente.

Outro registro: o "Blocão" diz que tudo na Paraíba está errado, mas não apresenta o certo. Diz que os pré-candidatos que estão aí não são bons, mas não apresenta o seu. Quanta confusão.

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Torre de Babel

Um dos contos mais intrigantes da história da humanidade, a Torre de Babel, segundo a narrativa bíblica do livro de Gênesis, foi uma torre construída por um povo com o objetivo de fazer com que o cume, de alto que seria, chegasse ao céu. Tudo para exaltar o poder do homem em detrimento da soberania de Deus.

A torre teria sido construída pelos descendentes de Noé na época em que o mundo inteiro falava apenas uma língua. A soberba dos homens em se empenharem na empreitada de alcançar os céus teria provocado a fúria de Deus, que, em forma de castigo, teria causado uma grande ventania para derrubar a torre e espalhado as pessoas sobre a Terra com idiomas diferentes, para confundi-las. 

Mas o que isso tem haver com o “Blocão”?

Vejamos o que cada integrante pensa sobre as eleições de 2014:

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Daniella Ribeiro: não defende expressamente nenhum nome para disputar o Governo, mas também não assume a possibilidade de ser a candidata, achando mais provável que o irmão Aguinaldo Ribeiro, caso seja convocado, aceite a missão. A deputada diz que o blocão é apenas a continuidade de um movimento que já existiu nas eleições municipais de 2012. Segundo ela, o seu partido, o PP, trabalha por um novo cenário político em 2014, acima das querelas políticas e que debata o crescimento da Paraíba.

 

 

Anísio Maia: recentemente “atravessou o samba” nas negociações para a entrada do PEN no "Blocão". "" De acordo com Anísio, a postura do PEN na Casa Epitácio Pessoa, não contribui para sua entrada no agrupamento. Disse que o PEN adota uma postura de independência na Assembleia, ficando em cima do muro e muitas vezes votando com o governo, o que vai de encontro a uma das principais características do Blocão: fazer oposição cerrada ao governador Ricardo Coutinho. “Não podemos ter dentro do bloco um partido que fica em cima do muro”, justificou o petista ao rejeitar a entrada dos "ecológicos" no "Blocão".

 

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Carlos Batinga: defende abertamente o nome do ex-senador Wilson Santiago como candidato do Blocão. O deputado monteirense acha que há espaços para a candidatura de Santiago crescer e ser vitoriosa. “Vou defender ardorosamente o nome do ex-senador Wilson Santiago como candidato a governador no nosso bloco porque ele sabe ouvir e realizar, que é do que mais estamos precisando neste momento”, diz. Batinga espera que até dezembro o "Blocão" lance o nome do seu candidato ao Governo.

 
 

Guilherme Almeida: vai na contramão da maioria e sugere que o "Blocão" apoie o senador Cássio Cunha Lima (PSDB), como pré-candidato apoiado pelo grupo partidário"" Segundo Guilherme, somente Cássio seria capaz de unir todo o "Blocão", e conquistaria partidos como o PEN, PPS e PDT numa disputa para o Governo do Estado em 2014. Guilherme Almeida também espera que "o bloco esteja aberto ao diálogo com o PSDB”. Apesar do PSC estar alinhado ao PT, o deputado é aliado dos tucanos em Campina Grande, onde ocupa uma importante secretaria na gestão Romero Rodrigues.

 

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Leonardo Gadelha: tem uma posição oposta a do colega de partido, Guilherme Almeida, e acha que Cássio representa uma segunda candidatura de situação. Por isso, "Cássio não deve ser considerado pela oposição", defende Leonardo. Apesar de ser um forte aliado do PMDB em sua base eleitoral, o deputado sousense acha que “um aglomerado que tem 7 deputados estaduais, um federal, um prefeito de capital e um ministro tem força suficiente para ganhar uma eleição de governador”. Seu pai, Marcondes Gadelha, já sinalizou a posição do PSC de defender o nome de Leonardo como candidato do Blocão em 2014. 

 

 

 

Vituriano de Abreu: é o integrante mais oscilante do Blocão, pois mantém uma aliança política com o PMDB "" na sua base eleitoral. Tentou "zerar a corda" do "Blocão" com os peemedebistas ao comparecer ao evento ‘Pensando a Paraíba’ em Cajazeiras e discursar ao lado do pré-candidato Veneziano Vital do Rêgo. Alguns dias antes havia externado a posição de que toda a oposição, inclusive o próprio PMDB, deveria apostar no lançamento da pré-candidatura de Cássio Cunha Lima como candidato das oposições para liquidar a eleição no 1º turno, frisando que o nome do tucano uniria todos os partidos que fazem oposição a Ricardo Coutinho e ainda conquistaria partidos que atualmente apoiam o governo. 

 


""Arnaldo Monteiro: tem afirmado apenas que o "Blocão" PT-PP-PSC deve continuar firme no projeto das oposições na eleição de 2014. Ao contrário de outros, acha “muito prematuro falar sobre qual candidato apoiaremos, mas o projeto é para que nosso bloco permaneça unido”, diz. Apesar das sondagens, descarta estar ao lado do governador Ricardo Coutinho em 2014. “Estamos na oposição há três anos, não vejo sentido para ficarmos do lado do governo agora. A oposição tem que se manter na oposição”, afirma.

 

 

 

Marcondes Gadelha: sustenta que Leonardo Gadelha integre a chapa majoritária nas eleições de 2014. "" “Ele é um político muito aplicado, com um senso de responsabilidade muito grande. O nome vai depender de um consenso entre os três partidos, se a responsabilidade vier para ele, é claro que ele não vai refluir da responsabilidade, vai enfrentar, vai encarar, vai assumir”, disse. Marcondes acrescenta que o nome de Leonardo é jovem e comprometido, por isso entende que o deputado tem muitas chances de sair vitorioso do pleito, pois a sociedade clama por mudanças e o perfil de Leonardo estaria dentro do que é cobrado atualmente. “Há um clamor social por novos líderes e Leonardo está sintonizado com essas demandas”, acredita o ‘cabotino’ presidente do PSC.

 

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Frei Anastácio: criticou duramente a reunião do “Blocão” com o PTB e o PEN ocorrida na residência do ministro das Cidades, Aguinaldo Ribeiro, em João Pessoa. “Aquilo não passou de um café entre amigos. O que existe é um bloco, não um blocão”, afirma. Frei Anastácio se queixa de quem os filiados do PT não estão sendo informados sobre a posição do partido nessa questão das alianças. Ele defende que o PT não deve abrir mão de lançar uma candidatura própria em nome do “Blocão” e que o partido corre o risco de ser novamente coadjuvante nas eleições de 2014.

 

Luciano Cartaxo: acha que o momento é do “Blocão” pensar em atrair mais partidos para o grupo das oposições. Alerta que o bloco deve estar preparado para qualquer "" cenário e reconhece que a possível candidatura de Cássio Cunha Lima é uma realidade pela qual não se pode fechar os olhos. “Podemos dizer que a candidatura de Cássio está posta, é uma realidade, já estamos trabalhando com esse cenário e temos que estar preparados para esse fato. Os sinais são muito claros, apesar de alguns não acreditarem nisso por saberem da força de Cássio”, admitiu o prefeito.

 

 

""Aguinaldo Ribeiro: revelou que recentemente esteve reunido com o ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) discutindo o cenário político da Paraíba. Aguinaldo explicou que a escolha do candidato do ‘blocão’ passará por conversas com a presidente Dilma Rousseff e também com o ex-presidente Lula. “O grupo vai ter candidato, não temos fechamento do nomes ainda porque isso é um processo que a gente está construído. Nós não estamos impondo candidaturas, era fácil para mim chegar e dizer: sou candidato. Isso seria um projeto meu e o próximo governador da Paraíba tem que ter um projeto pactuado com a Paraíba”, disse o ministro.
 

 

 ‘Dissidências’ sempre venceram eleições na Paraíba 

É importante enfatizar que as disputas políticas na Paraíba sempre foram marcadas por dissidências, que na maioria das vezes viram o jogo e vencem as eleições. Para o historiador José Octávio de Arruda Mello: “Quem ganha a eleição é a dissidência”. Sua explicação é que isso tem a ver com o dinamismo da política. “A política deve ser encarada como um processo, não como fato. Política não é um acontecimento, política é uma série de acontecimentos que vão se encadeando e quem delineia esse processo é exatamente a dissidência, que dá sal, que dá sabor, que faz o processo se mexer”, afirma. Ainda de acordo com o historiador, "o que move a dissidência é a conquista do poder".

Por esse universo de coincidências, o senador Cássio Cunha Lima tem ‘a faca e o queijo na mão’ se for candidato em 2014, pois será uma "dissidência" do governador Ricardo Coutinho.

A saber: o "Blocão" PT/PP/PSC também é uma dissidência da coligação que apoiou o PMDB em 2010.

Entretanto, afora a oposição sistemática que faz ao atual governo, até o momento o "Blocão" se apresenta eleitoralmente como algo abstrato, imaginário e surreal. Por isso, não pontua em nenhuma pesquisa para a sucessão de 2014. Qualquer analista político sabe que indefinição não combina com vitória. Portanto, é hora de decidir.

Como diz um famoso provérbio português: "Em casa que falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão". É o retrato do "Blocão".

 

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Ytalo Kubitschek

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