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RC: “A soltura de Lula fortalece a luta contra a destruição de tudo que se tem feito neste País”

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Em entrevista concedida ao jornalista Luís Nassif, para a TV GGN, como parte da série sobre os desdobramentos da saída de Lula e a nova oposição, o ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, disse que a soltura do ex-presidente brasileiro fortalece a luta contra a destruição de tudo que se tem feito neste País, além de abrir um campo de esperança para o Brasil.

Ricardo Coutinho, que acaba de chegar da Europa, onde foi proferir palestras, acrescentou que, tanto no Brasil como fora dele, Lula é muito forte. “Lula consegue ter, seja na França ou em qualquer outra parte do mundo, uma expressão de generosidade muito forte”, detalhou.

A coluna transcreve abaixo a entrevista de Ricardo Coutinho:

a saída de Lula da prisão abre um campo de esperança. Senti muito isso, e senti pesquisando que era como se as pessoas tivessem acordado não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Então, o interesse sobre a pessoa de Lula, é um interesse muito grande, porque apesar de ter uma clareza – pelo menos os intelectuais com quem tive contato – de que o projeto falhou ao não promover as mudanças estruturais tão necessárias e que terminaram o derrubando e derrubando a todos; terminaram abrindo espaço para o lavajatismo, uma expressão totalmente fora do Estado Democrático de Direito, ou seja: apesar dele não ter conseguido fazer isso, o esforço pioneiro do Brasil, de inclusão social, de multilateralismo, é um esforço muito reconhecido no mundo inteiro. Lula é muito forte. Lula consegue ter, seja na França ou em qualquer outra parte do mundo, uma expressão de generosidade muito forte. E acho que é preciso compreender que isso, por si só, não resolve os problemas do País, do nosso campo progressista. Mas acho que Lula com sua inteligência haverá de compreender o seu papel de reaglutinador das forças, sem hegemonismo, sem exclusivismo.

O ex-governador Ricardo Coutinho esteve na Europa buscando parceria com fundações europeias e relata a visão de como a Socialdemocracia europeia encara essas radicalizações nos nossos Países, e qual a expressão de Lula junto a esses setores.

Ricardo: O mundo tá meio atônito em meio a estes últimos acontecimentos da América Latina, porque mexe com o Mundo, e quando envolve uma liderança do tamanho de um Luis Inácio Lula da Silva. Eles têm um diagnóstico, ou seja, é mais fácil ter um diagnóstico do que, concretamente, apontar a saída. A própria União Europeia tem uma armadilha ao ser formada, que é uma questão consensual. Então, você pode mudar ali em Portugal, mudar na Espanha, as forças progressistas ganham em alguns Países, mas, se não ganhar em todos, não se muda absolutamente nada, do ponto de vista das regras. E o avanço da globalização, da financeirização, do controle do rentismo sobre os antigos Estados-nação é tão forte, que não encontrei ninguém com clareza de caminhos seguir para poder superar, derrotar, e para poder firmar uma alternativa que possa ser concreta neste momento, e uma transição para outro tipo de sistema. Mas, do ponto de vista do diagnóstico, existe muita semelhança do tipo de diagnóstico que é feito aqui, mas com dificuldade enorme de sair dessa grande armadilha, que foi a globalização e, agora, com essa mídia capaz de formatar um tipo de política que, nem sempre, é a política real e verdadeira.

Na Europa, os jornais, a imprensa também tem esse mesmo papel de vender essa ideia da redução do Estado como saída?

Nem todos. Aliás, não é possível fazer comunicação como se faz no Brasil. O Brasil é uma piada de mau gosto. Não se pode ter seis grandes famílias dominando tudo; não se pode ter um Congresso com mais da metade das rádios, direta ou indiretamente; você não pode ter a imprensa da forma como, infelizmente, ela se comportou ao longo desses anos. Em qualquer País da Europa, ao colocar uma posição política, eles têm que abrir espaço para o outro lado. Não é permitido fazer uma espécie de caça às bruxas, como é feito no Brasil, de condenação prévia. Não é permitido fazer isso na Europa. Agora, é claro que o mundo hoje começa a acordar para onde é que foi jogado o próprio sistema capitalista. O capitalismo é forte justamente porque o sistema financeiro, me parece, foi criado para alimentar o sistema produtivo, e hoje ele é muito maior que o sistema produtivo. Ele controla tudo. Acho que essa coisa toda vai ser resolvida com democracia. Com variações dos tipos de democracia: democracia nas relações pessoais; democracia nas relações de trabalho; democracia nas relações empresariais. Na minha opinião, essa encruzilhada que nós estamos foi estabelecida para financiar a produção. E ai isso foi mudando gradativamente, e ele foi ficando cada vez mais atrativo do que a própria produção. E esse, me parece, é o grande dilema, o grande choque que se tem entre o capitalismo anterior e esse novo mundo capitalista após a globalização. E acho que isso só será ultrapassado a partir do momento em que haja uma recuperação de teses mais generosas dentro da concepção democrática. Essa democracia em que estamos vivendo, alimentando, e de certa forma construindo, ela é insuficiente para os tempos atuais. Vota-se em alguém, se dá um cheque em branco, principalmente para os países que são presidencialistas, e você alterna os partidos, mas você não alterna o sistema. Essa democracia realmente exauriu, chegou ao final. E é preciso recriar tudo isso: democracia na economia; democracia partidária; democracia nas políticas sociais. É preciso fazer um mergulho, é preciso que a intelectualidade se volte pra isso, e esteja mesmo à altura de ser chamada de intelectualidade.

No caso do pacto dos governadores do Nordeste, como é que você se relaciona com os movimentos sociais, o cooperativismo? De que maneira se dá essa inserção da sociedade civil?

O Nordeste tem tido, no meu entender, uma governança acima da média da governança brasileira, nos últimos tempos. E não é fácil fazer governança numa região em que tem uma riqueza menor, tem dificuldades históricas. Enfim, tem todos os problemas que são inerentes a esse processo desde a colonização até hoje. Mas no Nordeste você tem muito o pequeno, o micro. Por exemplo: os governos, e não foi só o nosso na Paraíba, mas tenho certeza na grande maioria da Região, tem um olhar muito acurado para a questão da microeconomia, desde a agricultura familiar, que é fundamental. Muitas vezes, a gente pensa que o Nordeste é Semiárido e é. A Paraíba tem 80 por cento do seu território no Semiárido, mas os editais que são feitos para compra de alimentos para hospitais, quartéis, escolas, movimenta aquilo que, a partir do Governo Temer, desapareceu, que era o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Você lembra que no Governo da presidente Dilma, nós tínhamos um orçamento cerca de R$ 732 milhões de compra direta ao pequeno produtor, principalmente o agrícola, e isso caiu para R$ 37 milhões. Na Paraíba, quando caiu, eu tive que passar de R$ 2 milhões para R$ 40 milhões, porque senão quebrava a pequena economia, que é fundamental para o consumo na grande economia. Então, essa relação existe. Você tem muitos programas de geração de renda. Vou falar do da Paraíba porque foi o que eu implantei e conheço: na Paraíba, em oito anos, conseguimos colocar concretamente, para a economia R$ 150 milhões, o que é muita coisa. Se você pega R$ 150 milhões para 26 mil beneficiários, isso dá uma capilarização enorme. E esse dinheiro é investido, por exemplo, numa costureira que quer comprar uma máquina, duas máquinas, ou três; numa cooperativa de pescador que quer comprar um barco de R$ 250 mil, e isso movimenta o mercado local. Essa experiência é fundamental, porque ela não aparece nos grandes números, mas aparece no final. O crescimento do Produto Interno Bruto da Paraíba (PIB) em oito anos, mesmo com essa crise em que jogaram o País, houve um crescimento de 13 por cento acima do crescimento médio do próprio Nordeste, e mais de 16 por cento do crescimento do PIB do País. E as políticas foram muito concentradas na descentralização e na micro economia, na baixa economia.

Nessa sua ida à Europa, visitando os centros da social democracia, o que representa hoje a figura do ex-presidente Lula?

O Lula, primeiro, é a maior liderança que o Brasil já produziu, e é a única grande liderança que o País tem hoje, do ponto de vista de gente que leva pancada e fica de pé. Porque você ser uma liderança manipulada e construída pelas grandes redes de televisão, essa liderança não tem consistência. Então, Lula representa isso, a verdadeira liderança. E a prisão de Lula, para aqueles que queriam simplesmente destruí-lo, vai se comprovar que foi um erro muito grande. Lula saiu da cadeia muito maior do que entrou. É claro que atingiram o objetivo primário, que foi não permitir que Lula disputasse as eleições. Quem fez o que fez, em 2013, depois em 2016, para implantar uma outra agenda que jamais passaria no crivo de uma eleição onde tivesse debate discussão; quem fez uma agenda daquela, a partir da derrubada de um governo sem crime de responsabilidade, evidentemente, não permitiria uma candidatura como a de Lula. Agora, a decisão do STF – proibindo prisão de condenados em segunda instância – além de Lula, que acho que é importante porque fortalece a luta contra a destruição de tudo aquilo que se fez nesse País, não só das políticas sociais; mas a saída de Lula da prisão abre um campo de esperança. Senti muito isso, e senti pesquisando que era como se as pessoas tivessem acordado não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Então, o interesse sobre a pessoa de Lula, é um interesse muito grande, porque apesar de ter uma clareza – pelo menos os intelectuais com quem tive contato – de que o projeto falhou ao não promover as mudanças estruturais tão necessárias e que terminaram o derrubando e derrubando a todos; terminaram abrindo espaço para o lavajatismo, uma expressão totalmente fora do Estado Democrático de Direito, ou seja: apesar dele não ter conseguido fazer isso, o esforço pioneiro do Brasil, de inclusão social, de multilateralismo, é um esforço muito reconhecido no mundo inteiro. Lula é muito forte. Lula consegue ter, seja na França ou em qualquer outra parte do mundo, uma expressão de generosidade muito forte. E acho que é preciso compreender que isso, por si só, não resolve os problemas do País, do nosso campo progressista. Mas acho que Lula com sua inteligência haverá de compreender o seu papel de reaglutinador das forças, sem hegemonismo, sem exclusivismo.

 

Wellinton Farias

PB Agora

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