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Planalto busca ampliar margem de votos pró-impeachment no Senado

 Desde que o plenário do Senado decidiu, por 59 votos a favor e 21 contra, transformar a presidente afastada Dilma Rousseff em ré no processo de impeachment e levá-la a julgamento final, o Palácio do Planalto passou a articular nos bastidores para aumentar ainda mais a margem de votos favoráveis ao afastamento definitivo na última votação. Aliados do peemedebista acreditam que, na sessão decisiva, conseguirão contabilizar entre 62 e 63 votos pró-impeachment.

A sessão destinada ao julgamento final da petista está marcada para esta quinta-feira (25). A previsão é de que o julgamento se estenda por até quatro dias.

Segundo relatos de integrantes do Planalto, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, se tornou o principal articulador político do esforço para vitaminar o número de votos favoráveis ao impeachment no Senado. Desafeto de Dilma, Geddel tem atualizado Temer diariamente sobre a contagem de votos.

Pessoas próximas ao ministro dizem que, além das negociações políticas, ele tem enfatizado aos senadores que Dilma não é vítima de um golpe, como ela tem repetido desde que a Câmara deu sinal verde para a abertura do processo de impeachment.
Nas conversas com senadores, Geddel ressalta que o processo de afastamento seguiu o rito definido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e pela Constituição.
Outro argumento utilizado pelo titular da Secretaria de Governo é tentar mostrar que Temer tem dado sinais de que saberá conduzir as políticas necessárias para o país retomar o crescimento econômico.

Mesmo com a ida de Dilma ao Senado na próxima semana para apresentar sua defesa, a avaliação dos principais conselheiros políticos do presidente em exercício é de que o impeachment “está consumado” e, politicamente, “definido”. A defesa da petista confirmou que ela irá pessoalmente ao Congresso Nacional para se defender e para responder a eventuais questionamentos dos parlamentares.

Na semana passada, com o objetivo de tentar atrair os votos de senadores indecisos, a presidente afastada divulgou uma carta, intitulada Mensagem ao Senado e ao Povo Brasileiro, na qual disse acolher críticas ao governo e se comprometeu a apoiar, caso retome ao Palácio do Planalto, a realização de um plebiscito para consultar a população sobre a antecipação das eleições presidenciais.

Alvos do Planalto
Conforme o G1 apurou, entre os alvos do Planalto para aumentar o placar pró-impeachment, estão os senadores Roberto Muniz (PP-BA), Otto Alencar (PSD-BA) e Elmano Férrer (PTB-PI). Na votação, eles se posicionaram contra Dilma ser levada a julgamento final.

O objetivo dos aliados de Temer é fazer com que esses parlamentares votem a favor do afastamento na etapa definitiva do processo de impeachment.

Oficialmente, Roberto Muniz não faz comentários sobre o processo, mas, nas últimas semanas, senadores mais próximos de Temer passaram a repetir que o parlamentar do PP tem demonstrado “sintonia” com o Palácio do Planalto.

No dia 11 de agosto – um dia após votar contra o julgamento –, Muniz revelou, em uma reunião da Comissão de Agricultura do Senado, incômodo com a decisão de Temer de retirar o status de ministério da pasta de Desenvolvimento Agrário.
Prontamente, o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha – que também participava da audiência na comissão –, disse que a pasta voltaria a ter status de ministério caso Dilma fosse afastada definitamente do comando do país. A inesperada manifestação de Padilha, ministro mais próximo de Temer, gerou elogios por parte de Roberto Muniz.

“Esta é uma notícia que nos deixa muito felizes. É um ganho muito grande para o país. Um novo olhar sobre a importância da agricultura familiar. É um alento”, declarou o senador na ocasião.

Otto Alencar, por sua vez, protagonizou recentemente uma cena rara em cerimônias no Palácio do Planalto. No dia em que o Senado começou a discutir no plenário se transformava Dilma em ré, o parlamentar do PSD participou, na sede do Executivo federal, da solenidade que marcou o lançamento de projetos de revitalização da bacia do Rio São Francisco.
Na ocasião, ele foi convidado a discursar à plateia, que incluia o próprio Temer. A cena chamou a atenção, já que é incomum parlamentares fazerem pronunciamentos em eventos do governo federal.

Oficialmente, auxiliares do presidente em exercício disseram que Otto foi convidado a discursar porque é um dos principais defensores da revitalização do São Francisco. A iniciativa, entretanto, foi avaliada como uma tentativa de “agradar” senadores nordestinos.

Aliado do PT no Piauí, Elmano Férrer disse ao G1 que vai votar no julgamento final de Dilma de acordo com a “vontade” de seu eleitorado. Nas últimas votações, ele se posicionou contra o afastamento da petista, mas tem dito aos seus aliados que o diálogo do Legislativo com o Executivo “melhorou” com a entrada de Michel Temer.

O PTB, partido de Férrer, tem orientado seus parlamentares a votarem a favor do impeachment.

Voto de Renan
Antigo rival de Temer nas fileiras do PMDB, o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), tem mantido uma postura ambígua ao longo do processo de impeachment. Inicialmente, o cacique peemedebista, se mostrou contra o afastamento de Dilma da Presidência.

No entanto, depois que Temer assumiu interinamente o comando do país, Renan passou a se aproximar do colega de partido.
Por ser presidente do Senado, Renan não votou na etapa em que os senadores decidiram instalar o processo para investigar se a petista havia cometido crime de responsabilidade.

Na segunda fase, na qual o Senado considerou que havia indícios suficientes para levar Dilma a julgamento no plenário da Casa, o senador alagoano não votou por opção pessoal. Desta vez, ele disse que ainda não decidiu se irá votar.

“Como presidente do Senado, eu conduzi o processo com todo equilíbrio e isenção. Eu disse que pretendia não votar no julgamento. Eu estou, permitam-me, em pleno processo de decisão”, enfatizou.

No Palácio do Planalto, auxiliares de Temer tentam minimizar uma eventual decisão de Renan de se manter neutro no processo. Os palacianos afirmam que não há expectativa de que o presidente do Senado vote no julgamento final.

“É claro que, se ele decidir votar a favor do impeachment, melhor. Mas não há no governo essa expectativa. O presidente Renan tem uma responsabilidade institucional neste momento, não precisa votar. Ele segue coerente, não votou até agora, não articulou votos para ninguém, então, politicamente, é até melhor para ele continuar assim”, avaliou ao G1 um interlocutor do governo.

Nesta sexta-feira (19), após reunião com Dilma no Palácio da Alvorada, Renan disse que está “em pleno processo de decisão” ao ser questionado sobre se vai votar na sessão final do impeachment.

As estratégias de Dilma
A poucos dias do início do julgamento final, o clima entre os senadores mais próximos de Dilma é de desalento. Parlamentares contrários ao impeachment admitem que o cenário para a reversão de votos é “adverso”.

Diante do resultado da última votação, na qual apenas 21 senadores se posicionaram contra o julgamento, os remanescentes aliados da petista acreditam que, “dificilmente”, conseguirão convencer sete parlamentares a mudar o voto. Mesmo assim, em um esforço final, eles têm tentado convencer alguns colegas a votar contra o impeachment.
“Estamos avaliando que não será possível reverter um voto sequer, muito menos sete”, disse um integrante da liderança do PT no Senado sob a condição de anonimato.

Os principais articuladores de Dilma no Senado têm sido os senadores Lindbergh Farias (PT-RJ), José Pimentel (PT-CE), Kátia Abreu (PMDB-TO) e Roberto Requião (PMDB-PR).

Ao G1, Lindbergh ponderou que, mesmo com um cenário “difícil” para a presidente afastada, “o jogo não está definido ainda”.
“A nossa esperança está no interrogatório que a presidenta vai participar [no dia 29]. Na nossa avaliação, o depoimento da presidenta vai ser o grande marco político que poderá fazer com que ela consiga virar alguns votos”, disse o petista.

Nos últimos dias, a equipe de Dilma que despacha no Palácio da Alvorada passou a monitorar senadores que ainda estariam indecisos em torno do afastamento definitivo da petista.

O G1 apurou que entre os parlamentares que os defensores de Dilma acreditam poder reverter o voto está o senador Acir Gurgacz (PDT-RO). Na última votação, Gurgacz desobedeceu a orientação de seu partido de que os pedetistas deveriam se posicionar contra o impeachment e apoiou que ela se tornasse ré.

Gurgacz tem ressaltado a interlocutores que está disposto a esperar o pronunciamento de Dilma no Senado, marcado para o dia 29, para decidir como votará.

G1.com.br

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