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Opinião: com perfil parecido ao de Collor, Bolsonaro pode ter o mesmo destino do “caçador de marajás”

A primeira eleição direta para presidente da República após a ditadura militar elegeu, em 1990, o mais jovem presidente que o país já teve. O ex- governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello. Concorrendo pelo minúsculo PRN, venceu outros 24 candidatos na corrida ao Palácio do Planalto. Entre eles, lideranças tradicionais como Ulysses Guimarães e Leonel Brizola, além de Luiz Inácio Lula da Silva.

Dizia o alagoano, em voz histérica e desconexa, como o atual presidente da República, Jair Bolsonaro: “Vamos juntos minha gente, vamos construir o Brasil novo. Agora chegou a nossa vez!”

Mas Collor não foi até o fim do seu governo. O impeachment interrompeu o primeiro governo eleito diretamente após 29 anos. Ainda tentou um malabarismo político, renunciando a presidência. Foi cassado. Perdeu seus direitos políticos por oito anos.

Fernando Collor fez do marketing seu estilo. Com atitudes agressivas e imperiais dizia não ter vínculos com a política tradicional. Seu discurso era neoliberal e contra a corrupção. Algo extremamente similar ao que acontece nos dias atuais, no combalido Brasil de hoje.

Seu Governo começou com medidas de impacto. Collor prometeu derrubar a inflação com um golpe. E assim o fez, confiscando os depósitos em caderneta de poupança e contas-corrente com o chamado Plano Collor, elaborado pela equipe da então ministra Economia, Zélia Cardoso de Melo. Resultado: colocou o Brasil em uma recessão jamais vista na história republicana. Até suicídios ocorreram pelo confisco do Estado aos indefesos cidadãos.

Anunciou uma equipe de governo que considerava imutável, mas que logo começou a ruir com as acusações de corrupção sobre integrantes da equipe. E assim houve uma sucessão de erros na sua plataforma de governo. Ególatra e falso ufanismo desvairado, colocou a cabeça na guilhotina do Congresso, sendo decapitado e desmoralizado em seguida.

E aqui não preciso falar que o povo foi às ruas em todo o país para exigir a saída de Collor. Outra semelhança que começa a ser observada na figura de Jair Bolsonaro. Autoritário, egocêntrico, narcisista, vários ministros saíram do seu governo. Com uma diferença essencial do então “caçador de marajás”, como ficou conhecido o hoje senador por Alagoas.

Por não concordar com sua política autoritária, corrupta, que se alinhava a tudo, menos à democracia, o alagoano foi “sacrificado” para o bem da Nação. E Bolsonaro, com a ajuda dos seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro, o vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, segue o mesmo destino.

Seus filhos ajudaram a fritar ministros militares e civis, antes intocáveis. Como Collor, Jair Bolsonaro entrou em diversos embates com o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (TSE). E pior: criou discordâncias diplomáticas com a União Europeia e China – mercados econômicos importantíssimos para o país – nunca aceitou que o mundo vive uma pandemia em decorrência da Covid-19, ignorou a ciência, desdenhou das vacinas imunizantes ao novo coronavírus e uma série de tantos atos considerados por líderes mundiais como arbitrários.

E nessa escala louca do presidente da República, o cacique Raoni Metuktire, emblemático defensor da Amazônia, pediu ao Tribunal Penal Internacional (TPI) em Haia – cuja corte permanente e independente que processa e julga indivíduos que cometem violações dos direitos humanos, como genocídios e crimes de guerra – que investigue o presidente Jair Bolsonaro por “crimes contra a humanidade”, acusando-o de “perseguir” povos indígenas, de destruir seu habitat.

E com todas essas loucuras, sim, pois só pode ser a mais completa loucura de Bolsonaro, que se vale das Forças Armadas (que já deram as cotas) para se manter no poder, vem cada vez mais avolumando-se pedidos de impeachment. Só na Câmara Federal já foram protocolados 50 de partidos de esquerda, centro e direita. No sábado (23), em diversas capitais do país houve carreatas pedindo a imediata saída do “mito”. Se preferir, sua expulsão do poder.

Bolsonaro em queda no país

Os índices de aprovação ao governo Bolsonaro caem e sua credibilidade dá fortes sinais de debilidade. Daí uma conclusão. A ladeira é íngreme, e como Collor, Bolsonaro, que possui perfil bem similar, pode também descer a rampa, desocupando o Palácio do Planalto de maneira desmoralizada, como foi sua saída do Exército Brasileiro.

Para se ter uma ideia que apavora todos ligados ao Palácio do Planalto e a atual gestão, pesquisa divulgada na sexta-feira (22) pela revista Exame feita pelo instituto IDEIA mostra que caiu de 37% para 26%, na última semana, a aprovação ao presidente Jair Bolsonaro.

É a maior queda semanal registrada pelo instituto desde o início do atual governo. A crise em Manaus, com o desabastecimento de oxigênio em hospitais, a indefinição no calendário de vacinação e o fim do auxílio emergencial são os principais motivos da queda, de acordo com os organizadores da pesquisa. Por último, a curva de mortes só aumenta em decorrência da pandemia.

Mortes resultantes da Covid-19 no país

Por último, o consórcio de veículos de imprensa divulgou novo levantamento da situação da pandemia de coronavírus no Brasil a partir de dados das secretarias estaduais de Saúde, consolidados às 20h do sábado (23).

O país registrou 1.176 mortes pela Covid-19 nas últimas 24 horas, chegando ao total de 216.475 óbitos desde o começo da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes no Brasil nos últimos 7 dias foi de 1.021 – acima de mil pelo terceiro dia seguido. E assim vamos seguindo as atrocidades para que elas sejam parte da história tão remexida do Brasil e seu povo.

A queda de Dilma segundo análise do portal alemão DW

Erros na gestão econômica

Tal como seu antecessor, Dilma apostou inicialmente em uma “nova matriz econômica” baseada em desoneração de impostos, concessão em massa de crédito público, juros artificialmente baixos e crescimento por meio do consumo. Para segurar a inflação, Dilma também forcou o congelamento dos preços de combustíveis e da energia.

Somada à queda do preço de commodities, as medidas se revelaram um desastre. No final de 2015, o PIB sofreu uma queda de 3,8%. O governo também se mostrou incapaz de aprovar reformas para reverter o quadro. O mau desempenho econômico foi uma das causas fundamentais para a erosão da popularidade de Dilma. “Em 2014, após as eleições, ela não explicou à população por que teve que recuar de suas promessas de campanha. Simplesmente começou a fazer um ajuste, sem admitir erros”, comentou o cientista político Rolf Rauschenbach, da Universidade de St. Gallen.

Falta de habilidade política

O desinteresse de Dilma pela política partidária já era notório antes mesmo da sua primeira eleição, em 2010. Com uma personalidade centralizadora, ela sempre mostrou pouca paciência para negociações. Esse estilo fez com que praticamente todas as grandes decisões passassem por ela. Já na época em que era ministra, Dilma delegava pouco, e, quando o fez, muitas vezes escolheu assessores que não gozavam de popularidade junto ao Congresso ou nunca concedeu autonomia para que eles desempenhassem suas funções com eficiência.

Isolamento e revolta do PMDB

No final do seu primeiro mandato, Dilma passou a isolar o PMDB, maior parceiro da base. Ela preferiu favorecer siglas recém-criadas, como o PSD e o PROS, considerados mais dóceis. O movimento passou a irritar figuras como Eduardo Cunha, que viria a se tornar o seu algoz no impeachment e porta-voz dos deputados insatisfeitos com a presidente. Nesse período, Dilma redobrou sua aposta. Chegou a ofertar para seu vice peemedebista, Michel Temer, um cargo de articulador político, mas na verdade nunca permitiu que ele desempenhasse a função. No final, Temer acabou se voltando contra Dilma. “Ela não demonstrou conhecimento de como uma coalizão é formada e, sobretudo, mantida”, afirma Mariana Llanos, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga).

Miopia política diante de problemas

Quando a Lava Jato estourou, Dilma fez uma avaliação errada da situação. Segundo ex-aliados, a presidente achou, num primeiro momento, que o escândalo só afetaria a imagem do governo anterior. A mesma miopia ocorreu quando o impeachment começou a avançar.

Após assegurar uma vitória no Supremo que lhe garantiu uma condução mais neutra do processo, Dilma não fez uma ofensiva decisiva para barrar o processo ainda na Câmara. Apostou que a queda de Cunha era questão de tempo e que o movimento pró-impeachment perderia força no início de 2016. Em março, Dilma cometeu o erro de nomear Lula como ministro enquanto ele enfrentava investigações, sem se dar conta do impacto dessa medida na opinião pública. Após o afastamento, Dilma começou finalmente a negociar com políticos, mas também dispersou energia ao falar regularmente para plateias de militantes sem influência.

Impacto da corrupção

Nos últimos dois anos, a Operação Lava Jato adicionou um fator de imprevisibilidade na política brasileira. Os escândalos corroeram a imagem do seu governo, conforme os investigadores foram revelando o envolvimento de ministros, do seu tesoureiro de campanha e de figuras influentes do PT. Outros partidos e políticos foram implicados, mas as revelações – propagandeadas intensamente pela imprensa – tiveram principalmente o efeito de enterrar a imagem de intolerância com a corrupção que Dilma tentou cultivar no seu primeiro mandato e esfacelaram a credibilidade do PT.

Polarização e revanchismo

Após a vitória apertadíssima de Dilma em 2014, os partidos de oposição passaram a tentar reverter o resultado antes das eleições de 2018. “A oposição sabe que perdeu uma oportunidade quando não se aproveitou da crise do mensalão em 2005”, afirmou o analista francês Gaspard Estrada. Inicialmente, vários políticos da oposição não simpatizaram com o impeachment, mas a pressão dos protestos nas ruas e a deterioração permanente da popularidade do governo tornaram o plano mais aceitável. O impeachment também foi a arma de políticos que procuraram se vingar do governo, como Eduardo Cunha, que aceitou o pedido logo após deputados do PT assinarem um pedido de cassação contra ele. Na votação da Câmara, velhos desafetos de Dilma, como ex-ministros que haviam sido demitidos por ela, votaram contra a presidente.

Eliabe Castor
PB Agora

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