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Ex-secretário de Saúde de Cabedelo revela sua decepção com Vitor Hugo e se diz traído pelo gestor

A tarde já adormecia quando cheguei à residência de Dr. André Luiz Barbosa Bezerra de Lima, ex-secretário de Saúde de Cabedelo e pré-candidato daquela cidade portuária a prefeito pelo PDT. À mesa, pude perceber toda sua preocupação em recepcionar, da melhor maneira, a minha pessoa.

Após os cumprimentos de praxe, sentamos no terraço da sua casa, localizada na Praia do Poço. Suco, café, bolos e outras iguarias que enchiam meus olhos. Tudo ao meu dispor. À minha frente, percebi uma pessoa de fala mansa e educada. Gestos polidos e extremamente simpático.

Antes de iniciarmos a entrevista, ofereceu água, aceitei. Mas o café ficou para outro dia, visto que a hora já estava avançada e percebi seu cansaço no rosto. Não deseja incomodá-lo em demasia, e assim foi iniciada a nossa conversa, mostrando o ex-gestor decepção à administração do prefeito Vitor Hugo.

Para ele, houve uma traição do atual prefeito no cumprimento das promessas de campanha. Não só para o ex-gestor, como boa parte da população que votou no “novo”. Durante o diálogo, Dr. André afirmou que as velhas práticas políticas continuam, mas há uma novidade: o uso intenso do alcaide cabedelense nas redes sociais. O problema é que muitas fake news são postadas por Vitor Hugo, como o “grande” fluxo de turistas e o caso das fezes encontradas na praia.

Vitor Hugo alegou que a culpa era dos proprietários de catamarãs que navegam na costa cabedelense e se livravam dos desejos dando descarga. Resultado: foi desmentido por pesquisadores da UFPB, que constataram como sendo fezes de tartaruga marinha. Esse é só um dos casos “cômicos” encenado pelo prefeito e motivo de curiosos e divertidos “memes” nos grupos WhatsApp daquela cidade litorânea.

A seguir, a entrevista:

Doutor André, efetivamente o senhor ficou na pasta da Saúde por quanto tempo?

Eu fiquei em torno de oito meses, se não me falhe a memória. Eu fiquei até dia 28 de dezembro.

Por que o senhor aceitou o convite do prefeito Vitor Hugo para assumir a Secretaria de Saúde de Cabedelo?

Eu acredito que saúde não tem bandeira. Quando você quer fazer um trabalho voltado à melhoria da saúde, seja em qualquer esfera, desde federal, estadual a municipal, você tem que lançar mão de vaidades, de bandeiras, de cores e abraçar a causa. É um desafio fazer saúde em qualquer momento, a gente sabe das dificuldades que são encontradas no enfretamento do dia a dia no serviço do SUS, mas eu acredito que o serviço do SUS ainda é o melhor serviço e é aonde a gente pode contemplar com mais equidade todos que procuram uma saúde, uma possibilidade de socorro.

Como o senhor encontrou a Saúde de Cabedelo?

A saúde, como te falei, é uma pasta complexa. A gente recebeu com muitos desafios. Muitas contas que existiam; restos a pagar. Encontrei todas as Unidades de Saúde com problemas (ao todo são 23). Sem médicos, por exemplo, mas fizemos um bom trabalho e hoje todas as unidades têm profissionais de medicina.

Que tipos de contratos o senhor encontrou?

De contratos e serviços, medicação. Então muitos contratos nós tivemos que honrar. Até de gestões anteriores. Então a gente se via meio apertado para conseguir honrar em tempo necessário alguns desses fornecedores. Mas graças a Deus eu acredito que naquilo que me foi ofertado, eu consegui vencer essa etapa e consegui realmente o êxito que esperava.

Antes de o senhor assumir a pasta, quem estava à frente da Saúde de Cabedelo?

Antes era o atual gestor (Murilo Suassuna)

O atual secretário de Saúde afirma que o senhor deixou um rombo de R$ 4,2 milhões? Resumidamente, como o senhor observa essa afirmação?

Eu acredito que houve alguma condição inerente, até outras situações que eu não gostaria de declinar, porque ainda não tenho a veracidade do que ocorreu, mas como eu encontrei a secretaria, foi exatamente como entreguei. Aliás, talvez tenha feito reduções em alguns custos, porque fazer saúde é complicado e temos que ter cuidado com o dinheiro público. Mas eu acho que foi uma forma infeliz de querer mostrar demais os serviços dele, e tentar menosprezar o dos outros.

Ele tentou atacá-lo politicamente?

Com certeza. Politicamente e moralmente. Inclusive essa forma, que já está ultrapassada de fazer política, só vem a baixar o nível da campanha que está se desenhando. E não ficou elegante para o colega fazer uma declaração, mesmo porque ele fazia e provavelmente deve continuar a gerir os recursos, pois eles vêm em blocos, e esses blocos são destinados àqueles serviços. A gente não pode mexer, muito menos desviar esse recurso.

Quais foram as razões que influenciaram o seu pedido de exoneração?

Talvez o maior desgosto seja a interferência em alguns momentos da possibilidade de formar uma equipe (interferência de Vitor Hugo) que cabe a ele até interferir no gestor que ele vai indicar para a pasta, mas ficava de forma desconfortável. Ele trocava funcionários, mexia na equipe e eu, enquanto gestor, só sabia depois que estava mudado.

Além da interferência do prefeito, existiu outros problemas que influenciaram sua saída?

A priori existia certa dificuldade de conversar com ele, então ficava difícil conseguir audiência.

Então o senhor está me dizendo que era difícil encontrar um momento para despachar com o prefeito Vitor Hugo? O senhor ficava angustiado?

Sim, ficava muito angustiado. Era muito complicado fazer saúde nesses moldes. A gente só fazia o ‘feijão com arroz’. O básico.

Mas o prefeito alegava o quê? Esse problema de ter audiência era só com o senhor?

Eu acredito que esse problema seja com todos os gestores. Eu não sei, porque não posso estar falando das outras pastas, eu não tenho essa informação. Mas eu acredito que tenha essa dificuldade.

O senhor pode citar um dos episódios que ficou de mãos atadas pelo fato de não ter uma comunicação mais regular com o prefeito?

Sim! Por exemplo: eu vim de Brasília para fazer uma audiência com ele (Vitor Hugo) para o novo Centro de Terapia. Era um projeto que a gente estava trabalhando para ser um dos melhores centros de atendimento às pessoas com necessidades especiais, e eu não consegui sentar com ele para mostrar o projeto.

E lá em Brasília, o senhor despachou com quem para viabilizar o projeto?

Lá eu despachei, pedi a alguns deputados para que viabilizassem uma audiência com o ministro da Saúde, e foi tudo tranquilo. Mas na hora de vir para aqui eu não consegui essa audiência. E os deputados se comprometeram para que o projeto fosse viável. Fosse possível implantar o projeto.

Então por uma falta de audiência com o prefeito o projeto importante não foi para frente?

Não foi para frente. Talvez ele tenha ainda interesse. Talvez o próximo gestor veja a necessidade. Existe o terreno, que é da prefeitura.

Cite outro problema!

Por exemplo: teve um problema para médicos do PSF. Não tínhamos. Hoje temos. Eu saí da pasta e deixei todos os PSFs com médicos, e isso aí eu bato no peito, pois isso é muito difícil. Existe uma quantidade resumida de médicos para aquele serviço, e as ofertas são inúmeras. Aí ele disse que só falava comigo quando eu colocasse todos os médicos no PSF. Eu coloquei e ele não falou (risos).

Qual foi a gota d’água para a sua saída?

A gota d’água foi a questão PEMAQ (Programa. Nacional de Melhoria e da. Qualidade da Atenção Básica). Talvez a falta de respeito, a postura do prefeito, a forma de se colocar, até na forma de falar. Eu me considero não um funcionário dele. Eu me considero um funcionário do povo. Eu estou ali para servi não a vontade nem interesses. Eu estou para servir a vontade do povo e as necessidades de saúde. Então, eu me senti desrespeitado como gestor, e foi uma forma de retirar a culpabilidade dele, e imputar a uma situação em que ninguém teria teoricamente culpa, porque a gente herdou muita coisa do passado. Ficou complicado, devido aos interesses dele, queria achar uma pessoa que apontasse: “Foi esse!”

Foi esse o quê?

Foi esse o culpado do PMAQ não ter sido contemplado. E o PMAQ é um recurso federal que vem no PAB variável que tem a finalidade de contemplar os funcionários com prêmio. Só que não havia uma regulamentação anterior que pudesse determinar como seria pago esse prêmio. Então, dessa forma, pode licitamente fazer o uso para a melhoria do serviço, inclusive para contemplar os funcionários. Só que não entraria como prêmio. Aí esse dinheiro só foi utilizado dentro do serviço. Mesmo porque é um recurso que não pode ser usado de outra forma. Tudo que pude melhor a qualidade de atendimento. Mas ele vinha também no salário dos servidores, mas todo não. E aí foi feito a lei que regulamenta o PMAQ através de uma lei municipal.

Então o prefeito sabia que não poderia pagar o PMAQ de forma retroativa e na sua integralidade para os 226 Agentes Comunitários de Saúde?

O problema é que a lei não contempla o retroativo. Foi construída dessa forma. Mesmo eu querendo, não poderia pagar, porque eu poderia bater de frente com a lei.

O senhor foi explicar o problema do PMAQ aos servidores. Mão ninguém viu o prefeito dar explicação. Faltou transparência?

No mesmo momento que se foi ventilar o pagamento, descobriu-se que esse recurso é utilizado na atenção básica. Só que ele tinha feito essa promessa de pagar o retroativo, então já que tinha pago o recurso todo o mês, o dinheiro já não existia mais. No momento que ele soube eu também soube. Então ali não existiria teoricamente culpados, pois não estaria sendo nada irregular. Infelizmente houve uma promessa frustrada. Eu acho que era uma promessa de campanha dele.

Quais são os grandes gargalos na cidade de Cabedelo da atual gestão?

Eu acredito que o maior gargalo que existe é a geração de emprego e renda. Nós aqui em Cabedelo sofremos muito. Eu me incluo nisso, até porque o serviço de saúde também é só saúde pública, a gente tem uma certa dificuldade em outros serviços aqui E é uma cidade que tem várias formas de contemplar. Tanto na saúde, como no turismo. A cidade nasceu com potencial para o turismo, e não existe. A gente vê eventos particulares, que são eventos já consolidados há muito tempo, e que a gente não pode encarar como um serviço da prefeitura. Realmente existe essa carência. Nós temos aí o Jacaré, que é um bairro há muito esquecido. O governo do Estado andou trazendo alguma melhoria, como o asfalto que foi colocado, mas ainda deixa muito a desejar no quesito de assistência aos vendedores, aos comerciantes, que estão ali naquele setor desamparados pela gestão municipal. Deveríamos valorizar a cultura de Cabedelo, pois temos artistas maravilhosos. E eu acredito nesse potencial.

Pré-candidato a prefeito, caso venha ser eleito, o senhor faria o que de diferente da atual gestão?

A cidade deve ter um olhar para valorizar o comércio. O comércio da cidade. Estava conversando com comerciantes, eles me colocaram essa situação. A fala deles é que estão sem expectativas. E você não tem uma situação que possa fomentar o aumento dos turistas. O que já tem, é o que vem. Não há uma novidade. Quem mora em Cabedelo sabe qual é o fluxo. É sazonal. Então isso não é novidade nenhuma. É uma falácia que não vai mudar a condição das pessoas que precisam do turismo, que são os comerciantes, para injetar realmente bons empreendimentos. Eu acredito que aqui caberia resorts, um estímulo hoteleiro para trazer hotéis. Nós temos muitas pousadas, mas só temos um hotel. Então o estímulo no avanço do turismo está sendo muito discreto.

Como está a Educação de Cabedelo?

Eu acredito que ela esteja também passando por dificuldades. Existem algumas escolas que estão passando por problemas, como falta de material, merenda e infraestrutura ruim.

Cabedelo tem uma das maiores arrecadações da Paraíba, qual o motivo desse quantitativo não chegar de forma efetiva à população?

Isso é um problema da gestão. Falta vontade para aplicar os recursos corretamente.

O prefeito Vitor Hugo se apresenta como o “novo”. Como o senhor analisa essa postura?

São os mesmos métodos. Só as redes sociais que não eram utilizadas, que é novo. Nada mais que isso.

Implicado na Operação Xeque Mate, a Câmara Municipal alterou a lei orgânica do município para tentar “blindar “ o prefeito. Como o senhor observa essa postura?

Eu acredito que é uma forma de entrar com o “tapetão”. Você, de forma deselegante, burlou a situação. Então isso é complicado. Isso aí a opinião pública deve analisar como fato importante na hora de decidir. Por que a pessoa que usa desse expediente afeta o ar de lisura que ele (Vitor Hugo) quer passar.

Então Cabedelo está sendo castigada?

Ela está sendo. Semana passada mesmo ela esteve em rede nacional, de forma vergonhosa, expondo uma bela cidade. Eu mesmo amo morar aqui. A gente gosta da cidade. Insiste e acredita que ela tem como melhorar. Eu falo, pois eu ando esse estado todo, e quando falo que sou de Cabedelo, que que faço parte da gestão ou que sou político, as pessoas perguntam se a “Polícia Federal já passou na sua casa? É uma coisa vexatória.

Caso uma nova faze Xeque Mate chegue de forma efetiva a Vitor Hugo, como a população cabedelense vai reagir com mais um escândalo?

Eu acho que a cidade já não está mais se espantando com nada. Eu só lamento que essa situação esteja perdurando por tanto tempo, pois isso atrapalha o desenvolvimento de Cabedelo, atrapalha ações que têm que ser tomadas, ações que têm que ser feitas, enquanto essa situação esteja causando essa nebulosidade em cima de Cabedelo, a gente não vai conseguir avançar.

E temos um prefeito aqui em Cabedelo que não inspira confiança. Eu acredito que ele foi uma esperança que eu acreditei e que a população acreditou, e com o desenvolver da gestão, está sendo uma decepção.

O senhor se sente traído?

Eu me sinto traído e me sinto usado. Como se usa um chiclete. E a sensação da população é a mesma.

Como assim? O povo se sente traído?

Na verdade o povo está esperando que a justiça seja feita. Muitos não acreditavam que poderia acontecer a primeira fase ( da Xeque Mate). Não acreditavam que nada ia mudar, e mudou. Então eu acredito muito na justiça desse país. Eu acredito que as leis, por mais que demorem, elas norteiam e elas são a nossa esperança de que os responsáveis sejam realmente punidos e afastados. E que isso não é confortável para gente. Ser uma cidade que hoje virou destaque em corrupção. Na Paraíba e no Brasil, onde temos vários políticos envolvidos, vários funcionários da prefeitura envolvidos; numa cidade que até um tempo atrás vivia em certa uma tranquilidade política, mas que a partir da gestão de Leto, aconteceu tudo o que aconteceu.

O senhor entregou sua pasta. O senhor recomendaria Vitor Hugo abdicar do seu cargo em benefício do povo de Cabedelo?

Ele falou uma vez que a pressão para ele é muito grande. E eu disse: “ Eu acredito que a prefeitura de Cabedelo não é para muitos. É para poucos, e que respeitam a cidade. Eu não posso dizer que ele entregue o cargo, pois como ele disse, cada um sabe o que veste, mas eu acredito que nesse momento Cabedelo precisa de um outro gestor.

 

Eliabe Castor
PB Agora

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