Como será 2011 para Lula?

Como será 2011 para o agora ex-presidente Lula? Especulações tomam conta da esfera política

Depois da redemocratização do Brasil, nenhum presidente chegou ao final de seu mandato com tantas especulações sobre seu futuro quanto Luiz Inácio Lula da Silva, que no primeiro dia de 2011 vai passar o cargo para a também petista Dilma Rousseff.

Enquanto ele não tira a faixa presidencial do peito, as suposições sobre seu novo emprego não param de aparecer: ele vai ser presidente de alguma organização internacional? Vai fundar um instituto? Vai rodar o mundo fazendo palestras?

Por enquanto, certo mesmo são as declarações do próprio Lula sobre o assunto. Ele desconversa quando questionado sobre suas investidas internacionais, mas não esconde o que pretende fazer no Brasil. Em outubro, o presidente disse que não quer deixar a política, mas não pretende voltar a administrar o PT.

– Eu vou ter muita tarefa. Agora, a única coisa que eu não quero é ter tarefa dentro do governo e também dentro do partido porque eu não quero voltar para dentro do partido.

Embora publicamente este seja o discurso do presidente, é sabido que ele quer continuar dando as cartas no PT. Fundador da legenda, Lula já disse querer “reorganizar a esquerda brasileira”. Com a esquerda unida, ele teria mais força para fazer vingar a reforma política, que não conseguiu aprovar enquanto presidente. Em um encontro com blogueiros em novembro, ele foi direto ao ponto.

– É inconcebível esse país passar mais um ano sem reforma […] preciso convencer os partidos de esquerda e entender por que eles não querem […] e a primeira batalha é no PT.

Outra decisão já acertada é a fundação de um instituto batizado com seu nome na capital paulista, seguindo o exemplo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Além de administrar sua imagem de ex-presidente, o lugar vai servir para levar à África e América Latina as “realizações” de Lula na Presidência, como as políticas de combate à miséria.

Assim que descer a rampa, Lula deve ganhar uma série de títulos de doutor, coisa que muitas universidades pelo mundo costumam fazer a chefes de Estado recém-aposentados. Ele também deve ser o protagonista de muitas palestras ao preço de pequenas fortunas. Há petista que garante que ele vai embolsar até US$ 100 mil a cada vez que subir em um palco.

Mas, para alguns, o maior sonho de Lula já ficou no passado: virar secretário-geral da ONU, posto hoje ocupado pelo sul-coreano Ban Ki-moon, que deixa o cargo no dia 31 de dezembro do ano que vem. Esforço para isso não faltou, como provou sua viagem ao Irã este ano para discutir o programa nuclear do presidente Mahmoud Ahmadinejad.

Em janeiro, Lula se encontrou com Ban Ki-moon, que lembrou que seu cargo é ocupado por diplomatas de carreira. O fato de Lula não ter um perfil burocrático e manter boas relações com países inimigos dos Estados Unidos – como Cuba, Irã e Venezuela – também não ajuda.

As outras opções do petista são a Presidência do Banco Mundial ou diretoria-geral da FAO, agência da ONU para agricultura e alimentação. Essa última opção é a mais viável, já que o Brasil decidiu entrar na disputa pelo cargo.

Se ninguém sabe ao certo o trabalho de Lula a partir de 2011, muita gente próxima dele já especula o que vai acontecer três anos depois: ele vai ser candidato a presidente do Brasil.

Na comemoração de seu 65º aniversário (no último dia 27 de outubro), Lula embargou a voz para dizer o que pensava sobre sua oitava e última comemoração entre as paredes do Palácio do Planalto.

– Com toda a sinceridade, eu preferia que esse dia não tivesse chegado.

Folha online