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Pai diz que depoimento de filha para a polícia suíça não tem valor na Justiça

No dia 9 de fevereiro, Paula Oliveira disse ter sido agredida por um bando de neonazistas em uma estação de metrô perto de Zurique. Em consequência, teria perdido os gêmeos que esperava. Segundo a polícia, depois que o caso ganhou repercussão, Paula confessou: era tudo mentira. Não houve agressão. Não houve gravidez. Ela mesma se cortou.

 

No Recife, a avó de Paula, Eunice Oliveira, sofre com o drama da neta, uma bacharel em direito de 26 anos.

 

"Ela era uma menina esperta, viva, alegre. Sempre foi assim. Ela adorava ir à praia. Na época de carnaval, ela ficava comigo lá em Olinda", lembra Eunice. "Acho que ela ficou uns dois anos em São Paulo. Há dois anos ela está na Suíça. Eu só falei com ela uma vez, quando me deram a notícia do que tinha acontecido. Lá ela teve problema com lúpus."

 

Em 2001, os médicos descobriram que Paula tem lúpus, uma doença em que o sistema imunológico ataca o próprio organismo da pessoa. Em casos extremos também pode causar problemas nervosos. Há dois anos, Paula chegou a ser internada no hospital Santa Joana, no Recife.

 

"Eu tenho registrado em 2007 como se ela tivesse um quadro de agressão neurológica do lúpus, não com manifestações psiquiátricas em si, mas ela tinha uma coisa chamada episódio de ausências", disse o clínico geral Francisco Barreto. Ou seja: às vezes, Paula tinha "brancos", perdas momentâneas de consciência. O médico diz que a examinou em setembro passado e que ela apresentava, também, inchaços decorrentes do lúpus.

 

 

Atenuante

O advogado público que defende Paula na Suíça deve usar a doença como atenuante. No Brasil, o psiquiatra forense Miguel Chalub faz restrições à estratégia.

 

“O que vai decidir é o exame dela, a entrevista com ela, as motivações dela, por que que ela fez isto. O lúpus aí não vai ter nada a ver com a história, provavelmente”, disse.

 

O lúpus é geralmente tratado por reumatologistas. E o tipo que afeta o sistema nervoso não é o mais comum.

 

"O distúrbio psiquiátrico no lúpus não é um evento raríssimo. É um evento incomum, que ocorre em 10% das pessoas, mas que pode acontecer", disse o reumatologista Evandro Klumb.

 

"Não me diziam quais os sintomas que ela tinha, para eu não ficar constrangida, não me aperrear. Mas uma vez eu fui ao hospital visitá-la. Ela estava com o rosto bastante inchado, gordo, por causa dos corticóides que ela tomava ", conta a avó.

 

O que ninguém conseguiu explicar até agora é por que Paula se automutilou.

 

"Eu não sei. Acho que ela teve coragem de nem sei de que, porque uma pessoa que pega num estilete, como dizem que ela fez aqueles cortes, eu não acredito não", afirmou Eunice.

 

Os especialistas suíços dizem que tudo não passou de uma grande encenação.

 

"Notamos no corpo inteiro uma distribuição, sempre no sentido possível, na perna também. Coisa a que o agressor não obedeceria. Ele faria lesões, poderia ser no sentido longitudinal, mas não obedeceria a essa profundidade muito superficial e uniforme, com quase nenhum sangramento. Essas lesões desaparecem entre 10 e 15 dias sem deixar nenhuma cicatriz ", avalia o médico legista Nelson Massini.

 

Quem se automutila de verdade sofre de algum distúrbio psicológico. “Geralmente são sintomas que elas sentem como muito fortes, como angústia, ansiedade, culpa, raiva de si mesma", explica a médica psiquiátrica Jackeline Giusti, do Hospital das Clínicas de São Paulo.

 

O outro mistério é a falsa gravidez. As fotos mostram uma barriga forçadamente curvada.

 

“Depende também se fosse a fantasia dela, porque ela inchava. Passava fases em que a barriga dela crescia muito", conta o médico Francisco Barreto.

 

"Eu acreditei que ela estava grávida. Ela só disse que estava feliz, que quando nascessem ia trazer aqui para a gente conhecer e que eu ia para lá quando os nenéns estivessem para nascer", conta a avó Eunice Oliveira.

 

 

Na escola

A ex-professora Maria José Belfort Campos Callado só tem elogios para Paula. "Ela era normal como qualquer adolescente, participativa, era uma boa aluna. A Paula que eu conheci na época não é a Paula que eu estou vendo agora", afirma.

 

Um vídeo é a melhor lembrança que ela guarda da aluna. "Estou rezando muito pela saúde dela ", diz a professora.

 

Os amigos também sabiam que ela sofria de lúpus.

 

"Ela não podia ir ao sol, sempre usava proteção, por conta da doença. Tinha restrições alimentares", conta o servidor público e amigo dela, Fabiano de Melo Pessoa.

 

A designer Fernanda Fontenelle, de 32 anos, que sofre de lúpus desde os 16 anos, faz um apelo para que a doença seja mais bem compreendida.

 

"As pessoas têm que primeiro conhecer e entender. É quase que quem tem medo do lobo mau. O lúpus é quase o lobo mau. Eu quero ser vista como uma pessoa normal. Acho que todo mundo tem esse direito."

 

A imprensa suíça chegou a noticiar que Paula teria feito tudo isso para receber uma indenização. A senhora acredita nisto?

 

"Não acredito nisso, de jeito nenhum. Ela é uma menina muito honesta, de muito caráter. Espero que isso se resolva e que ela venha embora. O que eu mais faço é rezar para que isso aconteça. Quero dar um abraço nela quando reencontrá-la. Peço a Deus que dê força para ela e para o pai dela", conta Eunice Oliveira.

 

 

Na Suíça

O advogado da brasileira Paula Oliveira na Suíça, Roger Muller, passou o fim de semana estudando o caso da brasileira. Nesta segunda-feira (23), ele deve se encontrar novamente com o pai dela, Paulo Oliveira, para traçar a linha da defesa.

 

O pai, que também é advogado, disse que tudo o que ela falou para a polícia no hospital não tem valor legal.

 

“Qualquer coisa que seja dito por uma pessoa doente, em estado de choque, dentro do hospital, é necessário que se veja com muito cuidado”, afirmou ele. “Fala-me o advogado (Muller) que este tipo de especulação, sobre coisas deste gênero, não são levados em consideração na Suíça.”

 

Paula Oliveira segue sem dar entrevistas para a imprensa.

 

G1

 

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