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Paraíba só tem dezesseis médicos de família

 Ela não usa jaleco ou roupas brancas, passa grande parte de seu tempo longe dos birôs e atende necessariamente pessoas comuns e sem posses. O dinheiro e o reconhecimento também não são atraentes, mas o trabalho da médica de família e comunidade Frantchesca Fripp dos Santos, 29, é suficiente para resolver até 90% dos casos que aparecem em seu dia a dia, evitando que moradores da comunidade Maria de Nazaré, nos Funcionários II, em João Pessoa, percorram a conhecida “via-crucis” da saúde pública. Embora nobres, exemplos como esse aparecem mais como exceções, comprovadas através de estatísticas. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Paraíba só tem 16 desses especialistas entre os 4.886 médicos do Estado, o equivalente a apenas 0,003% do total.

A baixa quantidade de profissionais reflete uma realidade nacional, que começa já nas universidades. Embora a medicina de família e comunidade conste na lista das áreas prioritárias do Ministério da Saúde e seja fundamental na atenção básica, ainda é baixo o número de profissionais que querem construir uma carreira na área. O resultado é que, em muitas das 1.577 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) existentes atualmente na Paraíba, o que se vê são médicos com especializações diversas e que, apesar da formação acadêmica, não têm as mesmas capacidades de um generalista “formado”, tal quais são considerados os pediatras, os ginecologistas e, especificamente para esse tipo de atendimento, os médicos de família.

A desvantagem disso, conforme explica o vice-presidente da Associação Paraibana de Medicina de Família e Comunidade (APBMFC), Vinícius Ximenes, é que fica mais difícil coordenar o cuidado à pessoa. “Os médicos de família conseguem acompanhar os pacientes durante um grande período de tempo e, por isso, sabem como se processam as doenças: como e onde se pegam, como evoluem, as relações com a família, a cura. Infelizmente, existe uma dificuldade de se dedicar à área, porque, do ponto de vista da estabilidade, a carreira é muito deficiente. Quem chega não consegue ver futuro”, lamenta, apontando os maus atendimentos e a frequente troca de médicos enfrentada por muitos como efeitos claros disso.

Ignorando esses problemas e pensando, sobretudo, no trabalho coletivo é que a gaúcha Frantchesca Fripp chegou a João Pessoa. Depois de concluir sua residência no Rio Grande do Sul, há cerca de três anos, decidiu vir para a Capital paraibana, onde já conhecia, através da literatura acadêmica, a experiência da comunidade Maria de Nazaré. “O que me atrai na área é o fato de que o médico de família vê a pessoa globalmente, incluída num contexto ambiental. Não é só um órgão, mas também não é só um corpo: são pessoas vivendo num contexto familiar e social. O cardiologista vai se preocupar se o paciente tem algum problema cardíaco. Se for, ele vai resolver, se não, ele vai encaminhar para outro profissional. Nós, como generalistas, não. Só encaminhamos se não houver como solucionarmos o problema, o que só representa cerca de 10% dos casos, como recomendam os teóricos”, aponta.

Correio da Paraíba

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