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O brasileiro é “bestializado” por políticos?

No clássico “Os bestializados”, o historiador José Murilo analisa o Rio de Janeiro logo após a instalação da República (década de 1890). Ele investiga se o povo do Rio de Janeiro assistiu “bestializado” ao surgimento da República. Sua análise apresenta importantes traços da cidadania brasileira:

1) José Murilo identifica que naquela época prevaleceu uma “estadania”. O povo do Rio de Janeiro, como o brasileiro em geral, observava o Estado, não como âmbito para participação coletiva mas, como um meio para conseguir direitos sociais. A cidadania é buscar pertencer ao Estado.

2) O povo do Rio de Janeiro não era muito dado a uma participação formal no processo político, nem gostava da aplicação literal da lei. Em geral, o brasileiro gosta de política, mas não necessariamente das vias formais, e simpatiza com as instituições desde que não apliquem rigidamente as leis.

3) A Revolta da Vacina de 1904, que segundo Murilo se deu primordialmente porque o povo rejeitou a ideia de o governo invadindo sua privacidade impondo a obrigação da vacinação, sugere que o brasileiro não gosta de político mandando em sua vida privada. O brasileiro gosta do Estado lhe dando direitos, mas não lhe perturbando.

4) A instalação da República não representou a criação de um Estado integrativo para amplos contingentes sociais. O povo do Rio de Janeiro daquela época ficou à margem do poder formal. Em geral, o brasileiro se integra na sociedade e na política por meio da participação em comunidades, como igrejas, associações, não por meio do Estado.

5) Murilo pondera que o brasileiro médio considera que “bestializado” é quem leva a política formal a sério porque se presta a ser manipulado. Na média, o brasileiro tem uma tendência de ver a política como um espetáculo, um tanto hipócrita, que tende mais a atrapalhar do que ajudar. Ainda assim, o brasileiro simpatiza com políticos porque é por meio deles que pode pedir mais direitos, mais Estado.

Anderson Paz


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