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Mídia nacional diz que vídeo de candidato supondo fraude nas urnas em JP é enganoso

Edmilson Gomes de Melo (MDB) afirma que não foi contabilizado o voto que ele deu em si mesmo. Ao todo, o emedebista recebeu 119 votos

É enganoso o vídeo em que um candidato a vereador em João Pessoa, na Paraíba, afirma que não foi contabilizado o voto que ele deu em si mesmo. Na realidade, foram contados dois votos para Edmilson Gomes de Melo (MDB) na seção onde ele votou. Ao todo, o candidato recebeu 119 votos e ganhou uma vaga de suplente na Câmara Municipal.

Gomes de Melo está inscrito no Título de Eleitor na zona 001, seção 004. Porém, algumas seções eleitorais foram agregadas este ano, por isso Edmilson foi orientado a votar na seção 001. Ao Comprova, o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) apresentou documentos que provam a votação de Edmilson na seção 001

No vídeo, o candidato afirma ainda que um funcionário do TRE-PB “adicionou” dois votos para ele na seção eleitoral. O TRE-PB esclareceu que o banco de dados de votação jamais pode ser “editado”. O órgão comunicou em nota que o vídeo é uma “tentativa de macular a Justiça Eleitoral, forjando fatos”.

Como verificamos?

O Comprova entrou em contato com o Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba (TRE-PB) e solicitou informações sobre as seções e zonas eleitorais existentes em João Pessoa. Também buscamos o resultado das eleições 2020 no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para confirmar a candidatura do homem que aparece no vídeo e a quantidade de votos obtida por ele. Foram procurados ainda o candidato Edmilson Duroger e o responsável pelo canal Seu Mizuka, que divulgou o vídeo.

Qual a explicação do TRE-PB?

No vídeo, o candidato a vereador Edmilson Gomes de Melo está em frente à sede do TRE-PB. De acordo com o órgão eleitoral, ele foi atendido na Seção de Orientação e Apoio às Zonas Eleitorais (SOAZE) no dia 18 de novembro, três dias depois do primeiro turno do pleito. Na gravação, Edmilson afirma que o voto que ele depositou em si mesmo não foi contado, assim como a votação de seus familiares.

Isso não é verdade. De acordo com os resultados oficiais divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edmilson recebeu 119 votos. O TRE-PB detalhou que foram dois votos na seção onde o candidato votou, a 001 da 1ª Zona Eleitoral. A mesma votação consta no boletim de urna divulgado pelo TSE.

Os votos a favor de Gomes de Melo foram distribuídos da seguinte maneira: 49 votos na 1ª Zona Eleitoral; 24 votos na 64ª Zona; 19 votos na 70ª; 12 votos na 76ª; e 15 votos na 77ª.

Edmilson está cadastrado no Título de Eleitor na seção 004 da 1ª Zona Eleitoral, mas o TRE-PB esclareceu que algumas das seções foram agregadas este ano. O órgão apresentou ao Comprova um documento que mostra que o local de votação do candidato foi transferido.

Como mostra consulta ao site oficial do TSE, Gomes de Melo votou na Faculdade de Ciências Médicas (antigo Colégio Pio XII), na Praça São Francisco, 116, no centro de João Pessoa.

No vídeo, Edmilson diz que, depois de reclamar que nenhum voto a seu favor foi contado na seção onde votou, um funcionário do TRE-PB “adicionou” dois votos para o candidato. Em resposta, o TRE-PB disse que não é possível “editar” o banco de dados de votação. Neste ano, a totalização dos votos foi centralizada na sede do TSE, em Brasília.

O TRE-PB informou que vai encaminhar o caso ao Ministério Público Eleitoral.

Quem é o autor do vídeo original?

Edmilson Gomes de Melo tem 57 anos e foi candidato pelo MDB, usando o número 15.777 e o nome de urna “Edmilson Duroger” — referência ao Roger, um dos bairros mais carentes da capital paraibana. No local ficava, até 2003, o antigo lixão da cidade, e ainda hoje funciona a Penitenciária Desembargador Flósculo da Nóbrega, o mais antigo presídio da Paraíba, inaugurado há 80 anos.

Conversamos com Edmilson por telefone. Ele disse que “estranhou não ter tido votos em sua seção, a 4ª da 1ª zona eleitoral, mas que um funcionário do TRE disse que poderia corrigir e imprimiu um relatório com dois votos naquela seção (na verdade, a 1ª)”.

Durante o telefonema, ele admitiu que o funcionário que o atendeu “pode ter sido irônico”. Após a gravação do vídeo, Edmilson disse que retornou ao TRE e recebeu a explicação que sua seção original, a 4ª, foi agregada à 1ª seção por conta das alterações realizadas para reduzir o número de mesários por causa da pandemia.

O candidato explicou que, no vídeo, se referiu aos oito votos que teve no bairro do Roger, pois sabia que, no total, obteve 119 votos. “Sem arrogância, pela campanha que fiz e pelo trabalho que faço no Roger, há muitos anos, era pra ter tido 5 mil votos”. De acordo com os dados do último censo do IBGE, em 2010, a população do bairro era de 10.381 pessoas aptas a votar.

O trabalho ao qual ele se refere seria “as denúncias de corrupção na Câmara Municipal” que costuma fazer. Edmilson informou ao TRE ser “jornalista e redator”. Na documentação de registro de candidatura consta apenas um diploma de conclusão do Ensino Médio.

No dia 24 de novembro, ele foi à sede da superintendência da Polícia Federal no estado e protocolou um pedido para “pegar todas as urnas do município de João Pessoa, e que se disponibilize uma equipe de especialistas na segurança da informação que seja neutra para periciá-las”.

Edmilson contou que foi à PF acompanhado de dois outros candidatos, citados no vídeo analisado: Nininho Mangabeira e Dr. Nosman (Antônio Nosman Barreiro Paulo), ambos do MDB. Um terceiro candidato que, segundo ele, também estaria “revoltado”, Dr. Aníbal Marcolino (José Aníbal Costa Marcolino Gomes), não o acompanhou por ter desistido de fazer a denúncia.

O Comprova entrou em contato com a PF para saber mais informações sobre a denúncia de Edmilson, mas não recebeu resposta.

O canal do Youtube

O vídeo de Edmilson foi reproduzido pelo canal Seu Mizuka, que existe no YouTube desde 9 de dezembro de 2017 e tem 71,9 milhões de visualizações. É conhecido por publicar conteúdos favoráveis ao governo federal e é um dos canais que veicularam anúncios da Secretaria Especial de Comunicação Social do Governo Federal sobre a Previdência, sendo o sexto canal do YouTube com mais interações nos anúncios do governo por visualização. Em junho deste ano, o Comprova já desmentiu um vídeo publicado no mesmo canal e que tentava desacreditar a pandemia da covid-19, apoiado em imagens da cidade de Genebra, na Suíça.

O Comprova tentou contato com o responsável pelo canal Seu Mizuka, mas não obteve resposta.

Por que investigamos?

Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições municipais de 2020, a pandemia de covid-19 e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições.

O vídeo publicado no canal “Seu Mizuka” teve mais de 157 mil visualizações desde o dia 25 de novembro. No Facebook, o link de YouTube teve 32.355 interações, de acordo com a ferramenta CrowdTangle.

Assista

O Comprova tem checado uma série de conteúdos que atacam a lisura do processo eleitoral. Por exemplo, desmentimos que o software das urnas eletrônicas brasileiras tenha sido usado em fraudes nos Estados Unidos e que o TSE tenha atualizado os resultados das eleições de acordo com o portal de notícias G1.

Veja todas as verificações do Comprova sobre eleições. 

Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.

Fonte: Do Estadão.

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