É impressionante como, na era digital, um contexto claro pode ser transformado em narrativa distorcida com rapidez. Na quinta-feira, 21 de agosto de 2025, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou uma propaganda do governo federal por considerar preconceituosa uma fotografia que ilustrava um homem negro, alto e sorridente, mas com a observação depreciativa sobre sua aparência — “sem nenhum dente na boca” — colocada ao lado de uma mulher descrita de forma estereotipada.
Lula não apenas rejeitou o conteúdo, como determinou que a página fosse descartada, reforçando seu compromisso em combater estigmas e representações preconceituosas. No entanto, setores alinhados ao bolsonarismo buscaram distorcer os fatos, propagando que o presidente teria feito uma fala racista — exatamente o oposto do que ocorreu.
Essa tentativa de desinformação é desoladora porque inverte a lógica de quem denuncia o preconceito e quem o pratica. Enquanto o presidente apontava a injustiça de um estereótipo racista, os disseminadores da fake news tentam pintar o ato de crítica como ofensivo. Essa inversão não apenas distorce os fatos, mas também prejudica o debate público sobre racismo, mídia e responsabilidade na comunicação institucional.
O episódio serve como alerta: é cada vez mais urgente desenvolver senso crítico diante das informações que circulam, especialmente em um ambiente político polarizado. A verdade, neste caso, é clara: Lula não ofendeu ninguém; ele reclamou de uma representação preconceituosa e tomou providências para que o material não fosse veiculado.
Transformar um ato de combate ao estigma em suposta agressão não é apenas desonesto, é perigoso. Que esse episódio nos lembre da importância de checar, contextualizar e refletir antes de replicar narrativas que buscam confundir a opinião pública.
ENTENDA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva relatou, na última quinta-feira (21), durante a entrega de 400 Unidades Odontológicas Móveis (UOM) em Sorocaba (SP), que determinou a anulação de uma revista que trazia a imagem de um homem negro sem dentes para representar o Brasil.
Lula afirmou que considerou a foto preconceituosa e repreendeu um ex-ministro por utilizá-la, dizendo:
— “Você não acha que isso é preconceito?”
O presidente aproveitou o evento para lembrar que, no passado, a saúde bucal não era tratada como política pública, e que pessoas pobres tinham pouco ou nenhum acesso a dentistas.
Apesar do contexto, trechos da fala têm circulado nas redes sociais distorcendo a declaração, acusando Lula de racismo. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) chegou a reproduzir o conteúdo, classificando a fala como “absurdamente racista”. Lula rebate a interpretação, mostrando que seu posicionamento foi de crítica ao estigma, não de ataque racial.








