É só disso que se fala.
Neste final de semana, a Havaianas, marca que há décadas produz sandálias simples e confortáveis no Brasil e que também exporta para vários países, inclusive para o país onde vivo, os Estados Unidos, onde é facilmente encontrada, ao que tudo indica sofreu um revés por parte de consumidores alinhados à direita.
Tudo começou quando a empresa lançou um comercial voltado ao mercado de consumo utilizando nada mais, nada menos, do que o rosto da consagrada atriz Fernanda Torres. O conteúdo da propaganda foi interpretado por muitos como uma manifestação de cunho partidário e, para a ala mais conservadora, soou como uma ofensa direta.
Há anos, em nosso imaginário coletivo, está programada a ideia de entrar no novo ano com o pé direito. O anúncio, segundo essa leitura, insinuaria exatamente o contrário. A partir daí começou o desgaste. A direita interpretou a mensagem ao pé da letra e a palavra que rapidamente ganhou força foi boicote.
Vai acontecer? Já está acontecendo? Só o tempo dirá. Não sei como isso se desenrola no Brasil, mas aqui nos Estados Unidos o preço das Havaianas é consideravelmente alto.
Enquanto isso, no próprio Brasil, ainda existem milhares de crianças nas periferias e em regiões esquecidas que andam descalças. Se a Havaianas calçasse essas crianças com sandálias novas de sua marca, nesse final de ano, creio que seria um gesto nobre, capaz de redimir a empresa desse possível equívoco. Veríamos rostos inocentes sorrindo e todos sairiam ganhando.
Fazer publicidade com possível viés eleitoral, desafiando uma direita forte e organizada no Brasil, é flertar com o suicídio comercial. Quero crer que a Havaianas não tenha executivos com cabeça de jerico e, se tinha, imagino que já tenham sido dispensados.
Agora, vá dormir com esse barulho na cabeça.
Elcio Nunes
Cidadão brasileiro








