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Grupo de professores divulga carta contra encerramento da greve na UEPB

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A decisão que encerrou a greve dos professores da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) não foi unânime. Na assembleia que confirmou o fim da paralisação, 46 docentes votaram contra o retorno imediato. Após a reunião, um grupo de professores divulgou uma carta com críticas ao processo e ao resultado.

De acordo com os docentes contrários, a proposta apresentada pelo Governo do Estado não trouxe mudanças significativas em relação ao que já havia sido rejeitado pela categoria. A oferta aprovada prevê pagamento retroativo das progressões com deságio de 40%, e o restante dividido em 20 parcelas.

O retorno das aulas ocorrerá após a reorganização do calendário acadêmico, que será analisado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Consepe) em reunião prevista para a tarde desta terça-feira.

Na carta, o grupo afirma que a assembleia foi convocada pela ADUEPB com menos de 48 horas de antecedência, o que, segundo eles, estaria em desacordo com o regimento sindical. O documento também menciona que a nova proposta do governo foi apresentada somente durante a reunião, realizada de forma descentralizada.

Os docentes alegam ainda que o governo manteve os termos anteriormente rejeitados, sem recomposição orçamentária para a universidade e com modelo de pagamento considerado desfavorável, enquanto outras pautas, como concursos e orçamento, teriam sido encaminhadas sem garantias.

Confira a carta divulgada pelos professores

Na última sexta-feira, dia 05 de dezembro, presenciamos lamentavelmente mais um golpe à UEPB, aos alunos, técnicos e professores dessa instituição.

Passando por cima de uma decisão plenária tomada em assembleia anterior, que determinou a realização de nova assembleia em 09/12/25, a ADUEPB convocou, com menos de 48 horas de antecedência, ou seja, contrariando o seu próprio regimento, uma nova assembleia, para apreciar proposta do governo feita no dia anterior e deliberar sobre a greve. A ADUEPB não divulgou previamente qual seria esta “nova” proposta do governo, ela foi apresentada somente na hora da assembleia, que ocorreu de forma “descentralizada”.

O governo ofereceu basicamente a mesma proposta à categoria: nenhuma recomposição do orçamento da UEPB, o mesmo pagamento das progressões com deságio de 40%, descontados ainda os 14% da PBPREV. O que sobrar será pago em 20 parcelas fixas, ao invés das 24 anteriormente propostas, sem juros nem correção e sem nenhuma garantia concreta de que estas serão cumpridas importante lembrar que haverá mudança de governo ano que vem. No mais, promessas. Promessa de uma mesa tripartite para discutir os demais pontos de pauta, incluindo orçamento da UEPB e concursos. Promessas, sem quaisquer garantias além da palavra do governo, da palavra da reitoria e de uma portaria a ser publicada, cujo descumprimento possivelmente não produzirá qualquer efeito.

Importante lembrar que uma mesa de negociação com objetivo semelhante já havia sido estabelecida muito antes da deflagração da greve, sem qualquer resultado.

A proposta do governo é feita à categoria como um “ato de benevolência”, uma “caridade”, visto que o governador já declarou publicamente que o governo não tem nenhuma dívida com os professores. Tecnicamente isso é verdade. Quem nos deve é a UEPB.

Mas se não há problemas de repasse a menor do governo para a UEPB nem desrespeito à Lei de Autonomia, por que então, a gestão da UEPB não paga aos professores o retroativo salarial? Por que não realiza novos concursos? Por que não investe adequadamente em ensino, pesquisa, extensão, em assistência estudantil, em infraestrutura e em segurança?

Parece que só há duas respostas: má gestão ou falta de orçamento. Qual a resposta da reitoria?

A falta de orçamento remonta ao que, pelo menos em tese, deveria ser o principal ponto da nossa reivindicação nesta greve, qual seja, a recomposição do orçamento da UEPB. Sanado este ponto, todos os outros poderiam ser resolvidos pela gestão da universidade. Fazendo o repasse garantido por lei à UEPB, o governo não precisaria oferecer uma proposta indecorosa para o pagamento de uma dívida com os professores que ele afirma ser inexistente. O governo paga o que deve à UEPB e a UEPB paga o que deve aos professores.

Entretanto, enquanto professores e alunos entravam em greve para lutar pela UEPB, a Reitoria, em outubro, enviou um orçamento à Assembleia, cujo cálculo teve como base 3,6% da receita do estado, ou seja, ela própria em flagrante desrespeito à lei da autonomia, segundo a qual, o orçamento deveria ser calculado sobre o percentual de 5,24%, o maior já aplicado em repasse à UEPB.

Ainda que esse orçamento elaborado pela reitoria seja uma ficção e esteja sujeito a cortes pela Assembleia e pelo governo, como alegam alguns para justificar a postura da gestão da UEPB, chama-se atenção para o caráter simbólico desse ato, ou seja, o fato de que a própria Reitoria, de largada, ela mesma já pede um valor a menor e descumpre a lei de autonomia em favor do governo do estado e contra a UEPB. Por que?

Enquanto professores e alunos lutavam pela UEPB, manifestando-se contra o desmonte da nossa universidade por parte do governo do estado, em 11 de novembro de 2025, em plena greve, a reitora da UEPB recebeu do governador o título de cidadā paraibana, certamente não pelos serviços prestados em defesa da UEPB.

Lamentavelmente, ao que parece, a aliança entre reitoria e governo implica o silêncio da primeira em relação à dívida do segundo e mais: implica a ação da reitoria, direta ou indireta, no sentido de pressionar os professores a aceitarem um acordo claramente prejudicial à categoria, para que nos calemos também. Foi o que vimos hoje na assembleia sindical.

Em nome de uma aliança com o atual governo, a reitoria rifou a UEPB. A reboque, rifou também alunos, professores, técnicos e nos empurrou a todos para o sacrifício.

É importante compreender que aceitar a proposta que nos foi apresentada nesta assembleia não representa apenas um golpe nos professores. Mais do que isso, ela não resolve o problema que está na raiz de todos os demais, que é a redução drástica do orçamento da UEPB ano após ano.

A decisão de terminar a greve em troca de uma “caridade” do governo relativa aos retroativos dos professores, soa como uma traição à UEPB e aos alunos que confiaram em nós professores. Em termos de orçamento, recomposição salarial e concursos, o acordo hoje aceito oferece nada mais que promessas. A UEPB continuará sangrando e continuaremos sofrendo com cada vez menos investimentos em assistência estudantil, ensino, pesquisa e extensão, salas de aula, laboratórios e prédios em franco processo de deterioração, insalubres e com risco de desabamento, falta de restaurante universitário em todos os campi, falta de segurança, defasagem salarial (até aqui em 22,9% e contando), precariedade dos contratos dos professores substitutos, etc.

É imperioso lembrar que a Paraíba tem se destacado nacionalmente pelo seu forte crescimento econômico. O PIB do estado subiu 8 pontos entre 2018 e 2021 e hoje a Paraíba lidera em crescimento de PIB não só entre os estados do Nordeste, mas de todo o Brasil.

Por que então a UEPB, um patrimônio do estado, força motriz para o seu desenvolvimento, tem que ir para o sacrifício?

Por que não cobrarmos uma postura condizente da reitoria? Por que não exigirmos que, como órgão máximo da universidade, ela cumpra o seu papel e cobre do governo o que nos deve, inclusive os 35 milhões de reais, cujo pagamento já foi determinado pela justiça, com trânsito em julgado?

Saímos da greve humilhados, graças ao esforço incansável da tropa de choque da reitoria, que compareceu em peso à assembleia, para garantir os resultados que testemunhamos. Graças também à truculência da ADUEPB, que sai apequenada desse triste episódio. É importante que se diga que entramos e saímos da greve praticamente na mesma. O “acordo” oferecido pelo governo não foi diferente do que ele já havia oferecido antes da greve. Ou seja, não era necessário uma greve para se ter o resultado de hoje. O que mudou mesmo foi o discurso da ADUEPB, que aliás, saiu atirando para todas as direções, ofendendo e desqualificando, durante a assembleia, as professoras e os professores que ousaram divergir ou criticar o que estava sendo ali tramado.

Pelos menos 30 minutos antes da votação acerca da continuidade ou do final da greve, o jornal da Paraíba já havia anunciado o fim da greve. Isto foi informado à direção da ADUEPB antes do inicio da votação. Nada foi feito. Eram favas contadas. A imprensa sabia antes de nós. A humilhação da categoria já estava posta.

As cenas que ali se desenrolaram foram das mais tristes e deprimentes. A categoria deve desculpas aos alunos. Lamentavelmente a conivência de uns e o silêncio de outros muitos pelo medo justificado de retaliações – foi o que nos trouxe à situação que estamos hoje. Vamos continuar seguindo assim?

Assinam: Raquel Leal de Melo, Morgana Maria Souza Gadelha de Carvalho, Andréa de Morais Costa Buhler, Susel Oliveira da Rosa, Alomia Abrantes da Silva, Rita de Cássia da Rocha Cavalcante, Mauriêne Freitas, Gillyane Dantas, Maria Júlia Melo, Luciana Silva do Nascimento, Genivaldo Paulino Monteiro, Mariangela Nunes Vasconcelos, Luciana Calissi, Maria do Socorro Cipriano, José Helber Tavares de Araujo, Ofélia Maria de Barros, Maria do Socorro Montenegro, Raniere Ferreira Torres, Leonardo Ferreira Soares, Maria de Lourdes Sarmento, Joelson Pimentel, Valderi Duarte Leite, Marcionila Fernandes, Waldeci Ferreira Chagas, José Adilson Filho, Ilauro de Souza Lima, Joedna Reis de Meneses, Juracy Regis de Lucena Junior, Sandra Amelia Sampaio de Oliveira.

Redação

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