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Análise: RC terá que optar por força do PT nacional ou fragilidade de Cartaxo

As “ciências” das especulações começam a surgir na Paraíba sempre que um pleito eleitoral se aproxima. A ´novíssima antiga novidade´ busca colocar em um só palanque o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB) como candidato a prefeito de João Pessoa, havendo no papel de vice na chapa majoritária alguém ligado ao chefe do Executivo pessoense, Luciano Cartaxo, hoje filiado ao Partido Verde.

Em época anterior, nada seria estranho, buscando na memória que Ricardo Coutinho já apoiou o irmão do alcaide da Capital, Lucélio Cartaxo, em 2014. À época ele disputou uma vaga para o Senado, estando filiado ao PT. O então petista obteve pouco mais de 521 mil votos, sendo superado por José Maranhão (PMDB), que conquistou a vaga senatorial ao receber 647 mil sufrágios.

É evidente que em política tudo pode, não deve, mas pode. Contudo há óbices extremos para uma composição que una Coutinho e Cartaxo. O primeiro deles não está contido no hoje, mas no ano de 2015. Na época, o PSB decidiu romper a aliança política que mantinha com o prefeito de João Pessoa.

O rompimento foi oficializado durante uma plenária da executiva municipal do partido socialista, que ocorreu uma semana depois do prefeito da Capital anunciar a desfiliação do PT, migrando, na época, para o PSD.

E há um agravante nessa história: militante histórico do Partido dos Trabalhadores, Cartaxo abandonou a embarcação petista quando a nau começou a adernar, cujo resultado final foi o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef. Esse foi o primeiro ato da “ópera-bufa”.

Segundo ato

Após o rompimento, o Partido dos Trabalhadores nunca “perdoou” Luciano Cartaxo. E quando falo em perdão, estou me referindo à Executiva Nacional do PT, bem como o diretório regional do partido na Paraíba.

E aí entram em cena outros atores petistas que influenciarão de forma direta nas eleições para prefeito de João Pessoa, a exemplo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o candidato derrotado à presidência da República Fernando Haddad, e a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional da sigla.

Não é segredo para ninguém a extrema relação de confiança mútua entre os líderes petistas e Ricardo Coutinho, que hoje preside a Fundação João Mangabeira, ligada ao PSB. Importante lembrar que petistas e socialistas criticaram – e criticam – amplamente a postura de neutralidade optada por Luciano e Lucélio nas últimas eleições presidenciais.

Na época, Ricardo Coutinho abraçou com veemência a postulação de Fernando Haddad, sendo hoje uma das principais vozes nacionais de luta para a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um contraponto ao grupo Cartaxo, que prefere manter distância desse cenário real e polarizador da política nacional.

Em resumo, caso o socialista opte pelo apoio do prefeito da Capital, é muito lógico pensar numa cisão envolvendo o Partido dos Trabalhadores em escala nacional e o PSB ricardista. E rompimento é tudo que o ex-governador não quer e não precisa provocar.

Em tempo, pondo na balança o apoio do PT nacional, que exerce força óbvia no diretório estadual, Ricardo Coutinho, político experiente, sabe que seus aliados de grosso calibre serão vitais não só para as aspirações à prefeitura da Capital, caso se coloque como candidato, mas também numa possível postulação ao governo do Estado em 2022.

É fato: com o bolsonarismo em queda livre, o fiel da balança hoje é o PT. E não adianta o presidente da agremiação petista no estado, Jackson Macedo, informar que está ao lado do governador João Azevêdo (PSB). No final, quem traçará as ações definitivas da sigla não só na Paraíba, mas noutras unidades federativas, será a Executiva nacional do partido.

O PT não quer e nem pode cometer um novo erro de cálculo, como aconteceu nas eleições de 2018. O alto escalão petista sabe que precisa fortalecer o partido em 2020, para em seguida buscar seu protagonismo enquanto maior partido nacional nas eleições de 2022. Mais prefeitos, mais governadores, mais parlamentares. Recolocar um presidente na condução do país. Este é o objetivo futuro.

Questões ou querelas paroquiais são coadjuvantes no cenário político atual do PT nacional. Ricardo Coutinho precisa muito mais da força de Lula no palanque, que ao contrário. E quando me refiro a Lula, falo de toda a cúpula petista.

Terceiro ato

Luciano Cartaxo está praticamente órfão quando o assunto é ter ao seu arredor uma liderança política vigorosa capaz de ser seu sucessor. E seu silêncio para indicar um candidato no próximo pleito desagrada aliados de primeira hora.

Ainda há problemáticas jurídicas que podem alcançar o Verde, a exemplo das obras superfaturadas para revitalização e requealificação do Parque Solon de Lucena, a Lagoa.

O procurador da República, Yodan Moreira Delgado, prorrogou por mais um ano inquérito em tramitação no Ministério Público Federal que investiga irregularidades no convênio firmado entre a Prefeitura Municipal de João Pessoa e o Governo Federal.

O despacho de Delgado está ligado ao relatório da Controladoria Geral da União, que aponta um desvio de quase R$ 10 milhões nas obras de revitalização da Lagoa. O montante citado vem da “Operação Irerês”, deflagrada em 2017 pela Polícia Federal. Nela, gestores e ex-gestores da administração Cartaxo são investigados por supostos desvios de recursos federais.

Quarto e último ato

O Instituto Datavox realizou no último dia 12 uma entrevista para analisar possíveis cenários eleitorais na cidade de João Pessoa. Em todos, Ricardo Coutinho figurou com certa folga sobre os demais possíveis candidatos a prefeito da Capital.

No cenário estimulado o socialista seguiu liderando as pesquisas com 38,4%. Já seus possíveis adversários estão bem abaixo. Manoel Júnior 5,0%. Walber Virgolino 3,1%. Ruy Carneiro 2,0% e Efraim Filho 1,7%.

E observando as turbulências internas nas hostes do PSB, estando aí a Operação Calvário, faz-se supor que Coutinho busque portos mais seguros para atracar e, definitivamente, Luciano Cartaxo não é “tal local”.

Eliabe Castor
PB Agora

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