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Exército pede que egípcios cooperem com a polícia e reitera transição

O Conselho Superior das Forças Armadas pediu neste sábado que o povo egípcio colabore com a transição à democracia no país, apoiando a economia e cooperando com a polícia. Em um comunicado sem novas promessas, o conselho reiterou o compromisso de governar o país rumo à eleições livres e justas.

O conselho assumiu nesta sexta-feira o governo egípcio com a queda do ditador Hosni Mubarak, após 18 dias de intensos protestos por todo o país. Os militares serão assim os responsáveis por comandar a complexa transição entre um regime de mão de ferro e poucas liberdades e eleições livres em setembro.

"Pedimos ao povo que colabore com a polícia. A confiança deve ser restaurada entre a polícia e o povo", disse um porta-voz, em comunicado lido na TV estatal.

A polícia foi criticada pelos manifestantes da oposição por sua reação dura aos protestos. Os agentes não pouparam canhões de água, cassetetes e disparos para o ar em confrontos que deixaram até 300 mortos e outras centenas de feridos, segundo organizações humanitárias.

Os manifestantes acusaram ainda a polícia de enviar agentes a paisana, disfarçados de manifestantes pró-Mubarak, montados em dromedários e cavalos e armados com chicotes em um dos dias mais violentos na praça Tahrir, epicentro dos protestos no Cairo.

O conselho pediu ainda que os governos locais e a sociedade civil coopera na retomada da vida econômica do Egito, que foi duramente afetada durante os 18 dias de protestos populares. Não há um número oficial, mas alguns falam de perdas de US$ 10 bilhões.

"O Conselho Superior das Forças Armadas acredita que o Egito é capaz de sair destas circunstâncias difíceis, mas o povo tem que se unir", diz o comunicado. "Os governos [locais] têm que cumprir suas responsabilidades até a formação do governo de transição, para ajudar na transição pacífica do sistema".

O conselho reiterou ainda que cumprirá com os tratados internacionais já firmados.

Nesta sexta-feira, o conselho prometeu garantir a celebração de eleições "livres e transparentes" e encerrar o estado de emergência em vigor há 30 anos ‘ao fim das atuais circunstâncias".

No período de transição, o país será governado pelo chefe do conselho, marechal Mohamed Hussein Tantawi, considerado conservador.

TOQUE DE RECOLHER

O Exército do Egito decidiu reduzir em quatro horas o toque de recolher imposto no país, concessão feita um dia após a queda do ditador Hosni Mubarak, que sucumbiu a 18 dias de intensos protestos que violaram diariamente a proibição de ir às ruas.

Asmaa Waguih/Reuters

Oficial assina camiseta de manifestante em meio às celebrações pela queda de Hosni Mubarak

O toque de recolher começa a partir deste sábado às 0h e vai até às 6h do dia seguinte. Antes, a medida era válida das 20h às 6h.

O alívio da medida é mais um sinal da vida no Egito retornando à normalidade, após uma revolta popular sem precedentes.

O estado de emergência é imposto desde 1981, quando o presidente Anwar Sadat foi assassinado e o então vice-presidente Hosni Mubarak assumiu o cargo. O conselho já falara na revogação da medida, mas disse que ocorrerá apenas quando a situação se normalizar, afirmou o conselho, sem dar mais detalhes.

ROTINA

Neste sábado, o Exército egípcio iniciou a retirada das barricadas da praça Tahrir, no centro do Cairo, epicentro da revolta que provocou a queda de Mubarak.

Os militares retiraram as barricadas ao lado do Museu Nacional egípcio, na entrada norte da praça. Também retirava das ruas os carros queimados nos confrontos entre as forças de segurança e os manifestantes pró e contrários a Mubarak.

Alguns civis colaboravam na limpeza da praça, que abrigou centenas de manifestantes nestes 18 dias de revolta contra o regime autoritário de Mubarak e também contra o desemprego e a pobreza.

Os tanques do Exército posicionados nas ruas e avenidas que levam à praça Tahrir, instaurados para tentar conter os confrontos entre os manifestantes pró e anti-Mubarak, foram deslocados para liberar a passagem.

Com o caminho livre, muitos egípcios foram neste sábado pela primeira vez à praça Tahrir para ver o clima no local sem temer a violência vista em alguns dos dias de protestos.

Fora de Tahrir, as ruas do Cairo continuavam lotadas de manifestantes, em sua maioria os jovens que iniciaram a revolta popular com o uso da internet e conseguiram propagar as manifestações ao restante da sociedade egípcia.

‘É uma festa! Renascemos’, afirmou Osama Tufic Sadallah, um engenheiro agrícola de 40 anos. ‘Estávamos atrás dos outros países, mas agora temos valor aos olhos dos demais, do mundo árabe’, completou.

Com 80 milhões de habitantes, o Egito é o maior país do mundo árabe e uma potência regional. Mas 20% de sua população vive abaixo da linha da pobreza, ao mesmo tempo que as liberdades política e religiosas foram reduzidas durante décadas de regime autocrático.

 

Folha

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