“A grande transformação” é um clássico de Polanyi, publicado em 1944, no mesmo ano de “O caminho da servidão” de Hayek. O livro é uma importante crítica à doutrina liberal de mercado autorregulado.
Polanyi argumenta que o mundo, entre 1815-1914, foi orientado pela doutrina liberal de livre mercado por conta da influência britânica. Contudo, com o desgaste do mercado desregulado, a partir de 1880, surgiram movimentos em busca de proteção social e afirmação da identidade nacional.
Uma economia desregulada tende a esgarçar o tecido social porque se orienta por um individualismo estreito. A economia se torna um mecanismo autônomo e a sociedade é pressionada a servir-lhe. Mecanismos impessoais assumem o controle da sociedade em desconexão com anseios da população.
O liberalismo nunca foi neutro. Foi preciso que o Estado estabelecesse instituições para garantir e manter a ordem liberal de competição, padrão-ouro e livre comércio internacional. Mas, com o aumento do desejo por mais proteção social e da moeda nacional, as classes trabalhadoras encontraram amparo em discursos populistas.
Desemprego, oposição entre classes, pressão sobre o câmbio e rivalidades imperialistas levaram à ascensão do fascismo. O discurso fascista prometia resgatar a identidade nacional e reconectar política e economia.
A tese de Polanyi é notável: o liberalismo se apoiou na desconexão entre política e economia, na fragilização da identidade nacional diante do comércio internacional e em mercado desregulamentado que desamparava os trabalhadores. As crises de identidade, de moeda e de desamparo social levaram a guerras e à ascensão do fascismo.
A partir de seu importante diagnóstico, Polanyi defende “o socialismo” para uma “sociedade democrática”. Em sua época, isso já era uma contradição! Pior, ele chega a dizer que o socialismo da Rússia Soviética era uma “inspiração”! Sua ideia era que o Estado regulasse a liberdade política e de mercado.
Esse livro é um típico exemplo de que um diagnóstico razoável não garante um bom prognóstico!
