As armas suecas apreendidas em um acampamento da guerrilha colombiana das Farc, que eram de propriedade das Forças Armadas da Venezuela, foram roubadas em 1995 pelos rebeldes em um ataque à base naval venezuelana de Cararabo, afirmou nesta quarta-feira (5) o presidente Hugo Chávez.
Em uma entrevista coletiva, Chávez mostrou uma ata de 1995, que relata como a guerrilha levou da base de Cararabo (que fica em Apure, estado na fronteira com a Colômbia) "tudo o que estava no parque: munições, 18 fuzis automáticos leves (…) e cinco lança-foguetes AT4".
Segundo Chávez, a denúncia da Colômbia sobre a descoberta destas armas em poder das Farc é uma "manobra suja" que busca desviar a atenção do acordo negociado por Bogotá e Washington para o uso de algumas bases militares em território colombiano pelo Estados Unidos.
A discussão a respeito das armas suecas faz parte de uma ampla troca de acusações da Colômbia com Venezuela e Equador. O presidente Colmbiano iniciou nesta semana uma viagem diplomática por países da América Latina, a fim de acalmar os vizinhos em relação aos acordos para instalação de bases norte-americanas. Para o historiador norte-americano Nikolas Kozloff, entretanto, trata-se de uma manobra para isolar os países vistos como ‘radicais’.
Segundo Chávez, a concessão de bases militares colombianas para uso dos Estados Unidos podem desatar um confronto na América do Sul. "Essas bases poderiam ser o início de uma guerra na América do Sul. Se trata dos ‘yankees’, a nação mais agressiva da história da humanidade", disse.
Instrumento
Na mesma linha do discurso chavista, o presidente da Bolívia, Evo Morales, disse na quarta-feira (5) que a guerrilha colombiana Farc se tornou "o melhor instrumento" dos Estados Unidos para justificar uma mobilização militar na região. O presidente, também líder dos produtores de folha de coca, recebeu na terça-feira uma rápida visita do presidente colombiano, Alvaro Uribe (5) , que percorre vários países da região para tentar tranquilizar os vizinhos quanto à sua aliança militar com os EUA.
Morales insistiu que a prorrogação do acordo militar entre Bogotá e Washington é um problema para toda a América Latina. "Que diziam os Estados Unidos para invadir o Iraque? Que Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa. Onde estão? O objetivo era Saddam Hussein. Na nossa região o pretexto é a luta contra o narcotráfico", disse Morales.
"Quero dizer algo: as pessoas que estão nas Farc são o melhor instrumento do império neste momento", acrescentou o esquerdista Morales, que, no entanto, conclamou a guerrilha marxista a abandonar a luta armada e a buscar pacificamente mudanças políticas. Morales citou como exemplo a própria Bolívia. "Nossa experiência é fazer revolução na democracia", afirmou.
O presidente boliviano confirmou que proporá na próxima cúpula do bloco regional Unasul, na próxima segunda-feira em Quito, uma resolução para rejeitar a concessão de bases militares a tropas norte-americanas na região. "Não é possível que agora se concentrem tantos aviões, tanto aparato técnico-militar na Colômbia. Isso não é contra as Farc, não é contra o narcotráfico, é contra a região. Temos a obrigação (de rejeitá-lo), para defender a dignidade dos bolivianos e de toda a América do Sul".
"Pode ser que alguns presidentes (sul-americanos) não aceitem, mas estou seguro de que os povos lutarão contra o império, contra a dominação, contra a submissão e a escravidão", acrescentou.
G1