O ministro da Educação, Fernando Haddad, acaba de levantar a bandeira da unificação dos processos seletivos nas universidades federais de todo o Brasil. A ideia é criar uma avaliação única para todas as instituições, onde o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) possa ser usado na primeira fase e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inpe) garanta o processo de seleção da segunda fase. Para o ministro, a proposta possibilita o fim dos atuais vestibulares que privilegiam a memorização em detrimento da capacidade analítica do estudante.
A mudança, segundo o ministro, será positiva para os alunos do ensino médio, que não precisarão mais se apegarem às fórmulas de decorar.
Além de facilitar a vida dos que gostariam de fazer um curso em outro estado, mas não têm recursos para viajar para fazerem as provas. Haddad espera poder testar a nova medida em 2010, mesmo que seja em uma área específica do conhecimento.
Atualmente, cada instituição desenvolve seu próprio vestibular e o MEC não pode impor uma nova regra devido a autonomia universitária.
A rede federal está em mais de 200 municípios, com 227 mil vagas de ingressos. Segundo a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o ministro já levou a proposta à entidade, mas ainda não há uma data para o início das discussões, que prometem gerar polêmica. – Qualquer aprimoramento do processo seletivo tem o nosso apoio, desde que respeite algumas prerrogativas – afirma o secretário-executivo da Andifes, Gustavo Balduíno.
– Entre elas, a segurança na aplicação e correção das provas, a qualidade do aluno que ingressará e a interatividade com o Ensino Médio.
Para Balduíno, uma possível vantagem que o modelo proposto pode trazer é dar fim a possibilidade dos alunos mais abastados realizarem vestibular em diversas universidades, democratizando o acesso às mesmas. Por outro lado, a Andifes preocupa-se com a possibilidade de que um grupo vá para as melhores universidades e um outro, que não teve as mesmas condições no ensino básico, vá para "instituições não consolidadas", cristalizando dessa maneira o cenário universitário.
Prova complexa A dificuldade de elaboração de uma prova que analise, de fato, a capacidade cognitiva de forma multidisciplinar será, na opinião da Andifes, uma barreira para a aceitação da proposta. Presidente da Comissão de Educação do Senado e professor da Universidade Federal do Paraná, o senador Flávio Arns (PT-PR) concorda: – É muito difícil pensar em um vestibular unificado para realidades tão diferentes – avalia. – E o vestibular de hoje merece ser repensado. É preciso fazer uma prova voltada para o cidadão que se deseja ter, crítico e participante.
Apesar de acreditar que a unificação não será aceita pelas universidades, o senador acredita que a proposta já é válida só pelo debate que irá levantar em torno dos processos seletivos que vigoram no Brasil.
O petista garantiu que levará o tema para ser discutido na comissão nas próximas semanas.
O pró-reitor de graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Mauro Mendes Braga, acredita que a proposta parte de uma preocupação legítima de Haddad, mas garante que é uma iniciativa difícil de implementar, principalmente em um prazo tão curto.
A UFMG, por exemplo, não estaria preparada já em 2010.
De acordo com Mendes, as instituições federais de Minas Gerais planejam fazer um consórcio para que a primeira fase dos vestibulares seja unificada. Sistema semelhante vigorou no estado do Rio de Janeiro na década de 70.
É muito difícil pensar em um vestibular unificado para realidades tão diferentes. E o vestibular merece ser repensado senador Flávio Arns (PT-PR) presidente da Comissão de Educação "
Jornal do Brasil