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Sites chineses conquistam brasileiros com produtos baratos

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 Neste Natal, a família do designer Martin Barqueiro, 30, resolveu fazer algo diferente. Após a ceia do dia 24, ele e seus parentes vão trocar apenas presentes comprados em um site chinês de e-commerce.

A ideia surgiu há três meses, no auge da empolgação com a descoberta do portal AliExpress, que vende toda sorte de bugigangas, gadgets e pechinchas a preços semelhantes –ou menores– que os praticados em lojas da rua 25 de Março.

Com US$ 7 (R$ 16,49) e navegando em português, dá para comprar uma cabeça de unicórnio de látex, uma capa de iPhone 5 ou um vestidinho floral. "Para a nossa festa, fixamos um limite de US$ 50 (R$ 117,76) por presente", conta Martin.

 

Lançado em 2010 pelo grupo chinês Alibaba –que disputa pau a pau com a Amazon pela liderança do varejo on-line mundial–, o portal reúne pequenos vendedores e compradores de mais de 220 países.

Diretora de marketing do grupo no Brasil, Silvia Muller diz que o país já está entre os dez principais mercados da empresa no mundo.

A rede não abre números, mas afirma que o volume de compras brasileiras no AliExpress cresceu três vezes neste ano na comparação com 2012.

Além disso, um quarto dos consumidores brasileiros são de São Paulo. Embora os itens mais enviados para cá sejam roupas, acessórios, sapatos e telefones celulares, o universo de produtos é ilimitado: vai do kit de espremedores de pasta de dente de bichinhos (US$ 0,85 ou R$ 2) ao capacete para motociclista US$ 42,38 ou R$ 99,81).

Segundo os Correios, o volume de encomendas que passam por suas agências cresce em torno de 21% nos meses de novembro e dezembro.

Há dezenas de sites chineses no estilo do AliExpress que entregam no Brasil.

O engenheiro Marcelo Okano, 36, chegou ao DealExtreme, que têm grande oferta de itens eletrônicos, por indicação de amigos.

Clique após clique, ele ficou viciado e, até seis meses atrás, fazia ao menos uma compra por semana. "As coisas iam chegando aos pouquinhos e ficava esperando os Correios. Com frete grátis, acaba sendo uma diversão", conta ele, que costuma comprar peças para computador e brinquedos para os dois filhos.

Segundo Alberto Albertin, coordenador do Centro de Tecnologia e Informação Aplicada da Escola de Administração de Empresas da FGV, as transações on-line com os chineses foram iniciadas há dois anos e vêm se intensificado nos últimos meses. "Cada vez mais o consumidor percebe que pode comprar coisas vindas de qualquer lugar pela internet."

 

ERRO E ACERTO

Fazer uma boa compra nos sites chineses, no entanto, requer certos macetes do internauta.

Entre inúmeras peças de roupa, maquiagem e bijuteria, a arquiteta Leika Morishita, 33, já comprou no AliExpress relógios que chegaram sem funcionar, vestidos que não serviram e sapatos que perderam a sola após uma caminhada de poucas quadras. "É um risco, não é um site para iniciantes. Demorei para aprender."

O engenheiro Marcelo Okano acredita que já teve um prejuízo de cerca de R$ 300 só com produtos não recebidos. "Se reclamo, o vendedor dá o número de rastreio do pacote e garante que mandou", diz ele, que também já recebeu itens sem funcionar. "Muitas vezes as coisas também são extraviadas, não dá para saber de quem é a má fé."

Nesse caso, é preciso ter organização e muita paciência antes de fazer um pedido -a média de entrega da China para o Brasil é de 40 dias.

Dicas como ter todas as medidas na hora de escolher roupas e comprar picadinho, em várias remessas, diminuem as chances de frustração no caso de erros e extravios.

"Tudo isso além do básico de qualquer compra na internet: ver os comentários de outros consumidores e a qualificação das lojas no site", ensina Leika.

O prometido negócio da China também pode azedar na chegada ao Brasil. Segundo a Receita Federal, todos os produtos enviados por lojas de outros países são taxados em 60% sobre seu valor e frete.

O tênis que o designer Martin Barqueiro comprou pelo site chinês custou metade do preço que é cobrado nas lojas brasileiras, mas foi barrado quando chegou aqui. "No fim, com o imposto, saiu a mesma coisa."

Mesmo acreditando que não conseguiu aproveitar 30% de tudo que já comprou do site chinês, Leika acredita que o risco vale a pena. "Em São Paulo tudo está megacaro e não tem nada legal. Ou melhor, até tem, mas custa R$ 300."

 

Os itens de baixo custo da China também podem pesar na consciência do consumidor. Para James Wright, coordenador do MBA executivo internacional da FEA-USP, o sistema chinês é atraente, mas injusto. "Os salários lá já não são mais tão ruins, mas sabemos que muitas vezes os preços são baixos por conta das condições de trabalho precárias."

Ao mesmo tempo, ele acredita que a expansão do e-commerce asiático é um aprendizado para as empresas nacionais. "Visito a China todo ano e vejo que qualquer microempresa lá pensa em exportar", afirma.

"É um país que tem uma articulação e uma estrutura para a exportação." A pesquisa Datafolha mostra que entre os 75% dos paulistanos que têm acesso a internet, mais da metade costuma comprar on-line.

PELA ARTE

Ávida consumidora na internet, a arquiteta Leika também é usuária do site americano Etsy, especializado em produtos artesanais e vintage.

Ali, ao contrário dos itens em série, o barato é comprar esculturas, gravuras e pinturas direto dos artistas ou garimpar acessórios, bolsas e sapatos únicos e antigos.

"No Etsy, o problema costuma ser a descrição do produto e os vendedores demoram muito para responder alguma pergunta", diz. "Mas já comprei uma bolsa que foi um achado e saiu barata."

A publicitária Natalia Traldi Bezerra, 30, é outra entusiasta. Em busca de artigos únicos e de qualidade, ela fez ao menos uma compra por mês no site no ano passado. "Eles têm táticas para te manter interessado, como mandar sempre e-mails com novidades."

De lá, ela já encomendou bijuterias, cachecóis, gravuras e capas de celular. "As coisas sempre vieram como eu esperava ou melhor. Tem artista ou vendedor que até envia mimos, como recadinhos e cartões."

No Brasil, sites como Elo7 e Tanlup reúnem artistas, artesãos e estilistas que fazem vendas de maneira independente. "É também um mercado crescente, mas nada como o movimento chinês", afirma Alberto Albertin, da FGV.

 

Folha

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