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Fim de ano agrava caos nos Correios

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Problemas administrativos devem causar um apagão postal, com atraso na entrega de correspondência. Candidatos reclamam da demora no concurso

Os brasileiros que pensam em usar os Correios (ECT) para enviar cartões ou presentes de Natal podem se preparar para o pior. Diante do esfacelamento da empresa, que, nos últimos anos, foi rateada aos partidos políticos e apareceu em quase todos os casos de corrupção, não há estrutura nem pessoal para atender à demanda, que sempre explode no fim de ano. Entre os funcionários, que admitem atrasos constantes nas entregas, o clima é de apreensão.

Era grande a expectativa entre eles que a companhia conseguisse pelo menos preencher 6.565 vagas por meio de concurso. Porém, uma série de falhas na seleção inviabilizou o processo. Mais de 1 milhão de pessoas se inscreveram para as provas. Falta de planejamento, demora na escolha da banca organizadora e, mais recentemente, denúncias em relação à banca escolhida para promover o certame deixaram os concorrentes frustrados.
A servidora Tatyana Vaz Teixeira Lima apostou todas as fichas na seleção da estatal, mas só teve aborrecimentos: ‘Espero solução’ (Valerio Ayres/Esp.CB/D.A Press)

A servidora Tatyana Vaz Teixeira Lima apostou todas as fichas na seleção da estatal, mas só teve aborrecimentos: "Espero solução"

À beira do caos, os Correios anunciaram que, entre as medidas para evitar um apagão neste fim do ano, estão o aumento nas horas extras dos funcionários e o reforço nas equipes que vão trabalhar nos fins de semana. A estratégia, porém, não é bem-vista pelos funcionários da casa. “O ideal é contratar concursados. Estamos cada vez mais sobrecarregados. Além de não dar continuidade ao trabalho, os temporários não oferecem uma mão de obra tão qualificada e, portanto, não resolvem o problema. Lamentamos toda essa falta de planejamento e paralisia na empresa”, disse o secretário-geral da Federação Nacional dos Trabalhadores nos Correios (Fentect), José Rivaldo da Silva.

Nas contas de Silva, a ECT deveria contratar ao menos 15 mil trabalhadores em todo o Brasil para atender as demandas de forma eficiente. “Antes mesmo do Plano de Demissão Voluntária, em 2009, quando mais de 6 mil pessoas se desligaram, tínhamos deficit de funcionários. Além disso, há as pessoas que passam em concursos melhores e pedem demissão. Como o fluxo postal aumenta nesta época do ano e a empresa não contratou efetivos, a situação pode se agravar”, afirmou Silva.

Dono de uma consultoria ambiental em Águas Claras, Luís Alberto Santos, 33 anos, está preocupado com a entrega das correspondências no fim do ano. Ele reclamou que, há pelo menos dois anos, recebe documentos com atraso tanto no trabalho quanto em casa. Os problemas dizem respeito principalmente a contas de telefone e a faturas de cartão de crédito. “É um absurdo o que acontece em Águas Claras. Fizemos várias reclamações, mas a resposta é de que a empresa não tem pessoal suficiente para atender a demanda. O cidadão que paga para enviar uma correspondência espera que, no mínimo, ela chegue no prazo e no endereço corretos. Contas chegam com mais de 15 dias de atraso, o que acarreta multas e juros para quem as espera pelos Correios”, queixou-se.

Moradora de Valparaíso de Goiás, a cerca de 40 quilômetros de Brasília, a servidora pública Maria da Cruz, 28 anos, enfrenta dificuldades na entrega das correspondências há pelo menos um ano. Por causa das frequentes greves nos Correios, a vizinhança nem se preocupa mais em saber o motivo da demora. “As contas de luz e as faturas dos cartões de crédito têm chegado com dois ou três dias de atraso. Já cheguei a pagar R$ 13 de juros por causa disso, o que prejudica o meu planejamento mensal”, contou Maria.
Todo mês, Maria da Cruz paga juros do cartão de crédito porque a fatura demora a chegar (Valerio Ayres/Esp.CB/D.A Press)
Todo mês, Maria da Cruz paga juros do cartão de crédito porque a fatura demora a chegar

Clientes dos Correios já se preparam para os transtornos. Gerente de uma banca de revista e de uma casa lotérica em Brasília, Shenia Sato Inoue, 40 anos, disse que vai pedir as encomendas de bobinas, usadas diariamente na empresa, com antecedência mínima de 10 dias. “No ano passado, fomos prejudicados por conta da demora na entrega. Queremos evitar problemas. Como o material é fundamental para o nosso trabalho, chegamos a pedir emprestado para outras unidades. Mas o melhor é termos um estoque”, relatou.

Tarefas básicas

Para evitar o “apagão postal”, os Correios informaram que pretendem contratar temporariamente 6 mil pessoas entre dezembro e março. Os temporários vão realizar tarefas básicas, como coleta e separação de encomendas e atendimento em guichês. Caso o número não seja suficiente, a estatal pode fazer mais contratações emergenciais.

Outra medida antiapagão anunciada foi a ativação, em outubro, de 33 novas linhas de transporte terrestre interligando São Paulo ao Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Pará, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Ceará, Bahia, Maranhão, Pernambuco e Piauí. As linhas devem permanecer em atividade até o fim de dezembro. “O objetivo é garantir a normalidade no transporte da carga postal no fim do ano. As medidas incluem ainda a contratação temporária de pessoal, veículos e equipamentos”, informou a empresa por meio da assessoria de imprensa.

O atraso no concurso dos Correios incomodou a servidora pública Tatyana Vaz Teixeira Lima, 27 anos, graduada em relações internacionais. Contratada temporariamente no Ministério da Pesca e Aquicultura, ela apostou todas as fichas na seleção da empresa. “Além de me garantir estabilidade, é uma vaga na minha área, o que é muito difícil. Os aborrecimentos foram desde o lançamento do edital, pois o órgão não fornecia informações sobre o cronograma para os candidatos”, reclamou. Entre os projetos adiados por ela, está o da compra de um imóvel. “Durante o período, estudei ao menos duas horas por dia. Agora, pretendo esperar por uma solução.”

Lançado em dezembro do ano passado, o concurso dos Correios começou a emperrar com a escolha da organizadora. A estatal ficou responsável tanto pela elaboração dos editais de abertura quanto pelas inscrições, encerradas em fevereiro. No entanto, a contratação da Cesgranrio só foi anunciada em julho, o que inviabilizou a convocação dos aprovados ainda em 2010. Segundo a lei eleitoral, o resultado final dos certames deveria ter sido homologado até julho para que os candidatos fossem nomeados neste ano.

Liminar

Na época, a estatal justificou que, como esse é o primeiro concurso nacional, com oferta de uma quantidade expressiva de vagas, a empresa preferiu conhecer o número de candidatos, para, só então, escolher a instituição responsável pelas demais etapas do certame.

Na semana passada, as provas, que seriam aplicadas em 28 de novembro, foram adiadas pela segunda vez, devido a uma decisão liminar da Justiça Federal em Brasília. A alegação do Ministério Público é de que a Cesgranrio está na “lista de propina” apreendida nas investigações criminais deflagradas no primeiro semestre de 2005. O então chefe do Departamento de Administração dos Correios, Maurício Marinho, foi flagrado, em filmagem veiculada pelas redes de televisão, recebendo suborno de R$ 3 mil para que empresas entrassem no rol de fornecedores da companhia.

A ECT informou que um recurso contra a liminar que suspende a contratação da Cesgranrio está em análise no Tribunal Regional Federal da 1ª Região. A previsão é que, na próxima semana, haja uma definição sobre o andamento da seleção. Os candidatos que vierem a desistir do concurso poderão requerer a devolução das taxas de inscrição, em data a ser divulgada.

Benefícios

A concorrência do concurso dos Correios é de 162 candidatos por vaga. Os cargos mais procurados são os de carteiro (561.546 inscrições), atendente comercial (266.086) e operador de triagem e transbordo (150.835), que separa a correspondência. Os novos servidores receberão salários que variam de R$ 706,48 a R$ 3.431,06 para uma jornada de trabalho de 44 horas por semana. Além das remunerações básicas, os aprovados terão direito a benefícios, como vale-alimentação, vale-transporte e assistência médica e odontológica. Eles também poderão aderir ao Plano de Previdência Complementar.

 

Correio Braziliense

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