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Exportações crescem, e setores na indústria não se recuperaram

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O resultado da balança comercial divulgado nesta segunda-feira, mostrando o pior resultado em oito anos, veio a confirmar as preocupações da indústria nacional em relação à valorização do real e ao crescimento das importações. Representantes da indústria de manufaturados relativizam o volume recorde de exportações e reclamam da dificuldade de formar preços competitivos no mercado internacional. Em 2010, o superávit recuou 19,8%, para US$ 20,27 bilhões, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

"As nossas exportações não subiram no mesmo ritmo das importações e isso desestrutura a indústria", afirma Maurício Groke, presidente da Associação Brasileira de Embalagem (Abre). "O Brasil está muito forte nas commodities, mas está importando muitos bens de consumo, muito produto acabado e embalado", diz. Ele dá como exemplo o café torrado e moído importado da Suíça e da China. "A gente poderia estar beneficiando esses produtos aqui, mas sofremos com o real valorizado".

Outro setor que não comemora o resultado das exportações é o de calçados, que registrou em 2010 uma alta de cerca de 10% nas vendas para outros países. "Tivemos uma recuperação, mas não a ponto de igualar a performance de 2008", afirma Heitor klein, diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).

Segundo ele, a preocupação só não é maior devido ao aquecimento do mercado interno. "O sapato brasileiro é bem aceito, é vendido para mais de 150 países, mas o câmbio, a alta carga tributária e a taxa de juros impedem a nossa capacidade de formar preços mais competitivos."

A concorrência com produtos importados, sobretudo chineses, ocorre também dentro do país. Segundo Klein, as empresas chinesas têm conseguido driblar a tarifa antidumping fixada pelo governo brasileiro sobre as importações de calçados oriundos da China. "Temos indícios de que muitos dos calçados importados da Malásia, Tailândia e Indonésia são, na verdade, importações triangulares de calçados fabricados na China e vendidos desmontados para esses países", diz. A Abicalçados defende que a aplicação do direito antidumping seja estendida a outros países asiáticos.

Mesmo os setores com menor penetração no mercado internacional se dizem afetados pelo real valorizado. "Com o dólar baixo, as empresas do setor de móveis estão se voltando mais para o mercado interno", diz José Luiz Diaz Fernandez, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel).

O setor deve fechar 2010 com um crescimento de cerca de 10% no ano nas vendas no mercado interno. Já as exportações devem fechar o ano com recuo de pelo menos 1%. "O que nos alavancou e permitiu uma recuperação foram os meses de IPI zero", diz Fernandez. Diante da recuperação tímida dos mercados dos Estados Unidos e da Europa, o setor aposta na entrada em outros mercados, no continente africano e na América do Sul, para atingir a meta de crescimento de 3% a 5% nas vendas para o exterior.

Para melhorar a competitividade dos produtos nacionais bem como diversificar a pauta de itens de exportação, os representantes da indústria defendem maior investimento público em infra-estrutura e linhas de financiamento para investimentos. "Somos os maiores produtores de insumos básicos, mas precisamos passar para o segundo passo da industrialização, mesmo porque as commodities caem de preço do dia pra noite", afirma Klein.

Analistas veem risco de balança comercial negativa em 2011
Para analistas ouvidos pelo G1, o resultado da balança comercial em 2010 deve ser visto como sinal de alerta. "O resultado é preocupante pela tendência de expansão maior das importações e do real valorizado", diz Rogério Sobreira, professor da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas (EBAPE/FGV).

O economista Rafael Bistafa, da Rosenberg & Associados, destaca que o recorde nas exportações se deve mais ao "efeito preço" do que ao "efeito quantidade". "A valorização do preços das commodites nos últimos quatro meses foi o que salvou. O que preocupa é o quão dependente a balança comercial vai ficar da exportação destes produtos", afirma .

Para os analistas, os números da balança comercial apontam uma tendência a "primarização" da pauta de exportações. Ou seja, uma maior expansão do peso dos produtos básicos e o encolhimento da parcela representada por bens industrializados, que possuem maior valor agregado. Com a demanda chinesa avançando e os juros altos atraindo o capital estrangeiro, a tendência para 2011 é de um superávit ainda menor.

"Se nada for feito para acompensar os efeitos da valorização do real, a tendência é caminharmos para uma balança comercial negativa", afirma Sobreira.

Otto Nogami, do Insper (Instituto de Pesquisa e Ensino), vê um aspecto positivo do real desvalorizado e do crescimento das importações: "Muitas empresas aproveitaram o momento para importar maquinário, e o resultado disso poderá ser visto daqui uns três anos", diz. Ele destaca, porém, que para alguns setores, devido ao câmbio, passou a ser mais interessante fabricar o produto no exterior e trazê-lo de volta como importado.

Nogami defende investimentos que permitam agregar valor aos itens do cardápio de exportações brasileiras, sobretudo no setor de bens de consumo não-duráveis, de processamento de commodities. "O salto qualitativo está atrelado ao setor agrícola, que é a nossa vocação", diz. "Se não podemos desenvolver tecnologia para competir com Estados Unidos e Japão, podemos nos especializar nos setores de comida e bebida. Em vez de exportar só soja, podemos exportar também óleo e farelo".

 

G1

 

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