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Especialista acredita em início da retomada econômica no país

 O Brasil deixou para trás o ciclo vicioso de retração econômica, inflação e juros em alta, avalia o economista-chefe para a América Latina do banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho. Com a mudança de governo, o país voltou para o cenário virtuoso. Na opinião dele, que é doutor em Economia pela Universidade de Illinois (EUA), a aprovação de reformas garantirá um crescimento de 1% no Produto Interno Bruto (PIB), neste ano, e de 3% em 2018.

Carvalho alerta, no entanto, que a pujança da geração de riquezas no país só voltará com a aprovação de medidas que tornem o país mais competitivo, como a reforma trabalhista e a tributária. Para o economista do BNP Paribas, a questão da inflação está equacionada com a perspectiva de reequilíbrio fiscal e pela própria recessão que atinge o país. Segundo ele, a inflação tende a cair abaixo de 4% e, caso se mantenham as expectativas, o Banco Central (BC) reduzirá os juros para até 8% ao ano no fim de 2017.

Na opinião de Carvalho, todas as mudanças abrem espaço para que o governo reduza a meta de inflação do país, hoje em 4,5% ao ano. “O Brasil tem sim total condição e ambição de perseguir metas menores, mais parecidas com o padrão do mundo emergente”, comentou. Com a melhora do cenário doméstico, Carvalho se diz otimista em relação às concessões saírem do papel. “Acho que agora mudaram a mentalidade e a abordagem do governo. Antes era uma mentalidade de definir a taxa interna de retorno máximo. E, se não aparece ninguém no leilão, você dá um crédito subsidiado do BNDES”, relembra. Veja os principais trechos da entrevista concedida ao Correio.

A economia brasileira já chegou ao fundo do poço?

Se a gente não chegou ao fundo do poço, estamos muito perto. Há uma dúvida de como será o primeiro trimestre, se será positivo ou negativo. Mas não tenho a menor dúvida de que a gente termina 2017 muito melhor do que começou porque todos os fatores apontam nessa direção. Os indicadores de confiança já apontam para uma recuperação. E o mais importante nessa equação é a política monetária. O Banco Central já corta os juros há algum tempo e agora em um ritmo mais intenso e acelerado, que deve perdurar em um futuro próximo. Isso faz muita diferença. É claro que há defasagem, a recuperação da economia não é instantânea, mas tudo leva a crer, e tenho muita confiança nisso, que teremos números positivos nos próximos trimestres.

O BC demorou a iniciar esse processo de queda de juros?
Sempre há esse debate. O importante no fim das contas é que o BC acertou no conjunto do que está fazendo até agora. Você pode debater cada reunião específica, mas, no conjunto da obra, ele acertou. Eu digo isso porque as expectativas de inflação estão muito bem ancoradas. Não só para este ano, como para os próximos. Você tem as expectativas de longo prazo ancoradas em 4,5% ao ano. E, se você olhar a média em vez da mediana, que é um detalhe técnico, já tem gente esperando números abaixo de 4,5%. Isso também está presente no ranking top 5 do BC. No BNP, particularmente, a gente já espera inflação de 4% em 2017. Mais importante do que isso, já há um debate, olhando para os próximos anos, se a meta de inflação não precisa diminuir.

Então o BC está no caminho certo?
A última decisão do BC foi importante porque trouxe um corte de 0,75 ponto percentual, maior do que o esperado pelo mercado, mas ninguém disse que eles erraram ou foram agressivos demais. E isso se mostra nas próprias expectativas de inflação. Se tivesse sido um erro, a turma diria que o BC estava ‘viajando na maionese’ e a inflação subiria lá na frente. A curto prazo, a curva de juros cairia e subiria no longo. Mas isso não aconteceu. A curva de juros se deslocou para baixo e a curva de inflação ficou bem comportada. O BC, portanto, está com uma estratégia correta.

Você mencionou a possibilidade de o governo reduzir a meta de inflação. Você é favorável a essa mudança?
Sou favorável. Mas há um debate de quando é o momento oportuno para se fazer isso. Pensando nos próximos anos, faz todo o sentido termos a ambição de buscar metas menores. O próprio Ilan Goldfajn (presidente do BC) já afirmou isso e eu sou favorável.

Qual a sua estimativa para juros em 2017?
No início de 2016, tudo dava errado e a gente tinha perspectivas de que os juros subiriam muito. Aí houve o impeachment em maio do ano passado e uma mudança radical de cenário. Naquele momento passamos a esperar inflação na meta em 2017; o BC vai cortar os juros para um dígito, para 9% em 2017. O consenso que estava em dois dígitos gradualmente caiu. Naquela época, todo mundo dizia que estávamos doidos. Mas 9% está no Focus. Mudamos agora para 8% a estimativa de juros para o fim deste ano.

O que te leva a crer que os juros cairão de maneira tão agressiva? Por que o BC terá essa ousadia?
Por várias razões. A primeira está ligada a juros reais. O juro real médio no Brasil é de 5%. Se você tem uma inflação que cai para 4% este ano e juros reais de 5%, já temos juro nominal abaixo de um dígito. Há expectativa de que, se os juros caírem abaixo da média histórica, eles ficarão abaixo dos 5%. Mais do que isso, a política monetária depende do fiscal e do parafiscal. O fiscal vinha extremamente expansionista nos últimos anos, agora segura a onda. Existe um teto para crescimento dos gastos. Não haverá a expansão. Quanto menos expansão fiscal, mais espaço se tem para afrouxar a política monetária.

O mercado vê uma postura mais restritiva do governo em relação à política fiscal, mas existem sinais contraditórios, como a aprovação de reajustes salariais para diversas categorias de servidores. Além disso há o risco de estados e municípios quebrarem. Isso não é um problema?
Há um risco, sim, mas são compreensíveis. Tem mais a ver com o passado do que com o futuro. Os reajustes de salários, segundo o governo, foram acordados na gestão passada e não quiseram mexer nisso. No caso dos estados, é a mesma coisa. O importante é como será a regra do jogo daqui para frente. E a regra parece cada vez mais clara. Tem um teto para crescimento dos gastos, inviável sem mexer na Previdência. Mas o governo já enviou um projeto ousado que será discutido sobre o assunto. Na questão dos estados, não dá para bobear. São três os que estão em situação mais crítica e me parece que o que o governo propõe faz sentido. O pior cenário seria oferecer ajuda sem contrapartidas, não é o que está acontecendo. Há um monte de riscos, mas acho que a direção é muito positiva.

O seu cenário é otimista e muito bem fundamentado, mas o risco político ainda existe?
Existe. Mas, antes de falar dele, me permita falar de outro componente importante da redução de juros. O tal do parafiscal é a política de crédito. Os bancos públicos emprestavam como se não houvesse amanhã há vários anos. Uma política que em 2008 era compreensível, por ser contracíclica, mas durou tempo demais. Tanto é que agora existe a percepção de que é necessário colocar a casa em ordem e já há uma inflexão. Lembrando que mudou não só o volume de crédito, como também o preço, com alta de TJLP. Esse canal do crédito que está entupido e até contracionista é uma reversão do expansionismo exagerado dos últimos anos. Isso faz diferença. Hoje, com política de crédito contracionista, há mais espaço para o BC cortar os juros. Há aqui uma questão mais estrutural do que conjuntural. Os juros no Brasil são altos por vários motivos, mas também porque boa parte do crédito no Brasil é subsidiada. Com redução do crédito subsidiado, há mais espaço para a Selic ser menor.

E o risco político?
O risco político existe aqui e lá fora. A questão política é importante porque tem implicações para a economia. O principal risco aqui dentro são fatos que possam comprometer a capacidade do governo de avançar com reformas estruturais no Congresso Nacional. Enquanto isso não acontece a gente tem uma perspectiva positiva em relação a reformas. Tem o risco, sim. Se são questões que envolvem pessoas importantes, mas não exatamente o Temer, a interpretação do mercado é de que haverá avanço. E é isso que temos visto nos últimos meses. Apesar de todo o barulho político dos últimos meses, o governo avançou com as reformas e isso foi rápido, por exemplo, na questão do teto. Saiu melhor do que entrou.

Redação com CB

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