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Cresce na economia brasileira a força dos negros e pardos

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Em 1990, o então estudante Anselmo Vicente Ribeiro foi à Praça Sete vender o livro de história que havia usado na escola no ano anterior para ambulantes que movimentam, no Centro de Belo Horizonte, um mercado informal de materiais didáticos usados. "O rapaz me pagou R$ 10 e antes de eu ir embora o revendeu por R$ 30. Vi a cena e disse: ‘Me devolve o livro’. Eu mesmo o negociei com a outra pessoa por R$ 25. O ambulante gostou de minha iniciativa e me convidou para trabalhar para ele. Vendi livros por muito tempo em bancas de caixotes, juntei dinheiro e, agora, tenho a própria livraria, a Brasil." Anselmo, agora um empresário formal, emprega duas pessoas e comemora o ritmo das vendas, que crescem pelo menos dois dígitos a cada ano.

 

Anselmo, mais conhecido pelo apelido de Téo, é negro e tem orgulho de sua raça. Ele faz parte de uma estatística importante para o progresso social e econômico do país. Pesquisa do Sebrae com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) apurou que praticamente metade das micro e pequenas empresas brasileiras – aquelas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões – são comandadas por afrodescendentes – o Sebrae e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) consideram como população negra a soma dos pretos e dos pardos.

 

O levantamento concluiu que o número de empreendedores negros subiu de 8,6 milhões para 11,1 milhões de pessoas entre 2001 e 2011 – alta de 29%. O de brancos, no mesmo período, passou de 11,4 milhões para 11,5 milhões – crescimento de 1%. Dessa forma, 49% dos donos de micro e pequenas empresas são pretos ou pardos. Os brancos respondem por 50%. Amarelos e indígenas, 1%. Outros indicadores sobre a população negra, como educação e classe social, também melhoraram bastante nesta e na última década.

 

Alguns desses indicadores serão divulgados com pompa pelo governo hoje, em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Em alusão à data, que homenageia a memória de Zumbi dos Palmares, assassinado em 20 de novembro de 1695, o Estado de Minas publica a série “A real abolição”. As reportagens mostram o aumento da participação dos afrodescendentes no mercado de trabalho, na renda média brasileira, na educação e em outras áreas. Por outro lado, também destacam que os mesmos índices estão bem abaixo dos apurados na população de pele clara.

 

Três quartos

 

Dados da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República mostram que 75% dos novos integrantes da classe média são negros. O mesmo estudo apontou que 52% dos afrodescendentes pertencem à nova classe média (renda per capita familiar de R$ 291 a R$ 1.019,00). É praticamente o mesmo percentual de brancos (53%). O problema, porém, está em cada uma das pontas: 36% dos negros estão na classe baixa, e na mesma condição, apenas 19% dos brancos. Já na classe alta os percentuais de negros e brancos são, respectivamente, de 12% e 29%. Os dados são de 2012.

 

É bom frisar que, comparando com 2002, houve melhorias nos indicadores (veja quadro). Parte desse avanço ocorreu em razão da melhoria da economia nacional e da implantação de políticas afirmativas, como a reserva de vagas nas universidades federais, mas uma parcela significativa da nova realidade se deve à queda de barreiras que estimularam o próprio negro a se identificar como um indivíduo dessa raça nas pesquisas do poder público.

 

É o que conta Elisa Nascimento, diretora do Instituto de Pesquisas e Estudos Afrobrasileiros (Ipeafro) e viúva do ex-senador Abdias Nascimento, um dos brasileiros que mais empunharam a bandeira do fim do preconceito de raças: "Não é que a população de pretos e pardos cresceu muito, mas sim que as pessoas têm menos receio de se identificar como negros".

O mineiro Fábio Rodrigues, de 32 anos, jamais negou a raça. Há dois anos, ele trocou Belo Horizonte por Aracaju (SE), onde montou a Resipe Metais, uma empresa de pequeno porte no ramo de reciclagem. Seu estabelecimento encaminha matéria-prima para fábricas de beneficiamento de cobre e lata. O negócio, como diz o empreendedor, "vai muito bem, obrigado". "Estudei o mercado e conclui que seria bom vir para cá. Conto com a ajuda de 16 colaboradores. Tenho meta de crescer mais e gerar mais vagas."

 

Fábio se ambientou bem ao calor da região. A cada dois ou três meses, ele viaja à terra natal para rever amigos, familiares e a namorada. Mas faz questão de dizer que não pensa em deixar o Nordeste, região que mais cresce economicamente no país. Nem todos daquelas bandas, porém, se deram bem como Fábio. Chama atenção a situação precária de afrodescendentes na Serra da Barriga, local onde existiu o Quilombo dos Palmares, o maior nas Américas, com cerca de 20 mil negros.

 

Atualmente, há menos de 100 moradores, entre brancos e negros, no local. "Nossa principal carência é emprego", lamenta Adriana da Silva Santos, de 27 anos, mãe de duas crianças. Afrodescendente, ela sobrevive com bicos e o pouco do auxílio Bolsa-Família. A região hoje pertence ao município de União dos Palmares (AL), a 70 quilômetros de Maceió. "Para piorar, a lagoa daqui está secando", lamenta a mulher, que ainda espera, na prática, as melhorias alcançadas pelos negros nas áreas de saúde, trabalho, educação etc.

Em.com

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