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Automóveis podem ficar até 24,9% mais caros em 2014

 A maior parte dos brasileiros pesquisa muito antes de partir para a decisão de comprar um carro. O investimento é alto e, por isso, tanto o modelo como o momento da compra precisam ser cuidadosamente escolhidos. Os preços variam mês a mês, é claro. No entanto, este ano os reajustes poderão ser maiores. A volta do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), a obrigatoriedade do airbag e dos freios ABS e a correção da inflação poderão, na pior das hipóteses, provocar reajustes de até 24,9% no preço dos veículos.

 

Com sorte, serão poucos os veículos que vão sofrer simultaneamente com as três novidades do ano. Isso porque, já no ano passado, 60% dos modelos já saíam de fábrica com o airbag e os freios ABS – itens que se tornaram obrigatórios a partir deste ano para todos os veículos.

 

Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), essa obrigatoriedade já adicionaria em torno de R$ 1 mil a R$ 1,5 mil no preço dos veículos. No ano passado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, estimou que a decisão tornaria os veículos entre 5% e 8% mais caros.

 

IPI terá impacto de 1,1% para cada ponto percentual adicional na alíquota

Também foi o ministro que trouxe a outra notícia: o retorno da cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) pesaria sobre o preço dos veículos este ano. A Anfavea fez as contas e constatou que para cada ponto percentual a mais na alíquota do imposto, o impacto nos preços será de 1,1%. Mesmo sob muitos protestos da associação, o fato é que o IPI voltará a ser cobrado integralmente em 2014 – um ajuste veio em janeiro e outro virá em julho, se o ministro não mudar de ideia.

No caso dos veículos 1.0, a alíquota passou de 2% para 3% em janeiro e possivelmente chegará a 7% em julho. No caso dos veículos 1.0 a 2.0 flex, a alíquota passou de 7% para 9% em janeiro e pode chegar a 11% no meio do ano.

Por enquanto, Vitor Meizikas Filho, analista da Molicar, só enxerga uma parcela da correção nos preços. Ao final de 2013, os estoques ainda estavam altos e, mesmo com a corrida de final de ano pelo desconto do IPI, ainda garantiam um mês de vendas normais, com 353,4 mil unidades. Somando a produção de janeiro e fevereiro a esses, o volume de carros com desconto do imposto se dilui.

Para o analista, os novos (e mais salgados) preços chegarão à ponta de forma mais evidente em março, quando a maior parte dos estoques já estará nas mãos de consumidores. “Os modelos 2014-2015 já virão com os preços corrigidos”, diz Meizikas.

 

Montadoras não repassaram inflação integralmente nos últimos anos

Segundo levantamento da Molicar, um cliente que comrpou um Volkswagen Fox, de duas portas, 1.0 Flex 0km em janeiro pagou em torno de R$ 30,9 mil. O mesmo carro, no mesmo mês de 2013, custava R$ 28,2 mil; e em igual período de 2012, R$ 30,5 mil.

Nesses últimos anos, o preço dos carros têm sido ajustado em níveis inferiores ao Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e oscilado mais conforme as desonerações do que em relação ao próprio mercado. Entre janeiro de 2012 e janeiro 2013, mediante redução do IPI, aquele Fox passou a custar 7,54% a menos – mesmo com uma inflação 4,5% maior.

No ano passado, a inflação foi de 5,91% segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Aquele Fox, mencionado anteriormente, subiu 9,57%. O reajuste já é significativamente maior que o praticado entre 2011 e 2012, por exemplo, que foi de 0,32%.

As montadoras consideram a informação estratégica e não divulgam quanto será repassado no preço final ao consumidor. As associações Anfavea e Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores) afirmam não comentar questões relacionadas a preço.

Julián Semple, da Carcon, consultoria especializada no setor automotivo, já não conta mais com um ajuste tão pequeno no futuro próximo. “Talvez nesse começo de ano as montadoras mantenham apenas o ajuste de inflação. A questão do ABS e do airbag dá para a montadora arcar, mas a questão do IPI vai ser difícil de absorver”, afirma.

Margem de lucro das montadoras no País está espremida

Para alguns, as montadoras mal têm condições de assumir as despesas do airbag e dos freios ABS – quem dirá segurar o aumento do IPI e da inflação.

Essa seria uma das características de um mercado cada vez mais apertado, com clientes dispostos a pagar cada vez menos e custos operacionais maiores. "Eles montam os produtos de trás para frente, a partir de quanto o cliente está disposto a pagar", explica Rene Martinez, sócio da EY para o mercado automotivo. "Novos componentes estão sendo exigidos e ainda tem o avanço tributário sobre o custo."

Para completar, a restrição ao crédito e o aumento dos juros poderá deixar o cliente ainda mais longe dos financiamentos, que sustentam a larga maioria das compras de automóveis do País. "Haverá um momento crítico", pontua Martinez.

E quem contava com a exportações para compensar esse aperto de margem já enfrenta um janeiro temerário. Em dezembro, a Argentina – que comprava mais de 80% da exportação nacional – restringiu a importação de veículos para 27,5%. O resultado já veio na última carta da Anfavea: uma redução de 40,5% na exportação de veículos montados.

Mercado ficará mais competitivo a partir de 2015

A pressão pela alta dos preços dos veículos, no entanto, deve começar a enfraquecer a partir do segundo semestre deste ano, com início das operações da Nissan, em Rezende (RJ), e da Chery, em Jacareí (SP).

Em 2015, o início das operações da Honda, em Itirapina (SP) e a JAC Motors, em Camaçari (BA), deve aumentar em grande medida a oferta no mercado, que ficará mais competitivo. Para Martinez, essa competição mais acirrada "favorece o cliente".

Semple, da Carcon, vê um aumento da ociosidade no setor no primeiro momento, seguido de ajustes conforme a demanda for distribuída pelo País. “Essas empresas não podem ter uma visão de curto prazo”, diz. “Para o futuro, esse investimento vai fazer sentido.”

O estilo de gestão das montadoras asiáticas também deve empurrar o mercado em outra direção, na visão de Meizikas. “As chinesas funcionam de outra forma, muito mais enxuta e com foco na parte mecânica”, explica o analista. “Por isso mesmo, os acessórios como vidro elétrico e ar condicionado, por exemplo, vão ter de entrar nas versões mais básicas, caso contrário, não vai dar para competir.”

 

IG

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