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Professor comenta obra de Charles Baudelaire, no aniversário do poeta

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“Ninguém me ama, ninguém me quer; ninguém me chama de Baudelaire!” Bastante conhecida no Brasil, a canção do compositor pernambucano Antônio Maria, revela a popularidade atingida pelo poeta francês, responsável por uma guinada na poesia mundial. No dia 9 deste mês, comemorou-se o aniversário de nascimento de Charles-Pierre Baudelaire (09/04/1821 – 31/08/1867). O professor do Departamento de Letras da Universidade Estadual da Paraíba, Luciano Barbosa Justino, reiterou a importância do autor, que representa uma mudança de paradigma na poesia moderna e não apenas a francesa.

“Ele é o responsável pela desconstrução do mito romântico do poeta ao fazer uma poesia urbana que, de tão envolvida com o processo histórico de seu tempo, sobretudo naquilo que diz respeito às transformações por que passa sua “cidade poética”, Paris, trouxe novos temas para a poesia e abriu espaço para um imaginário que não recusa de antemão qualquer assunto, tornando passível de construção poética todas as contradições da vida moderna”, afirmou o professor de Letras.

Para Justino, não é possível se conceber a poesia moderna internacional sem de certo modo passar por Baudelaire como um marco do papel do poeta e da poesia na contemporaneidade. O professor destacou que se pode efetuar um confronto entre o poeta francês e o poeta brasileiro Joaquim de Sousândrade ((1833 – 1902), demonstrando duas poéticas da modernidade, uma européia e outra americana. “Nosso Sousândrade foi tão radical e inovador quanto Baudelaire e o tema da cidade é importantíssimo em ambos, Paris no poeta francês, Nova York no poeta brasileiro. Tal paralelo ajuda a compreender a complexidade da vida sob o capitalismo, que a poesia dos dois foi capaz de representar antecipando um olhar crítico, um tanto profeticamente, sobre a lógica cultural do capitalismo tardio, relatou Justino.

O professor acrescentou que se Baudelaire é paradigmático para a poesia moderna, Sousândrade representa o que tem de específico na modernidade americana. “Este confronto estes os dois creio ser bastante produtivo para os alunos de Letras que se nutrem o interesse pela poesia e pelas contradições da modernidade”, opinou.

Vida e obra de Baudelaire

Baudelaire, poeta e teórico da arte, nasceu e morreu na capital francesa, Paris. É considerado um dos precursores do Simbolismo, embora tenha se relacionado com diversas escolas artísticas. Sua obra teórica também influenciou profundamente as artes plásticas do século XIX.

Em 1857 é lançado o livro “As flores do mal”, contendo 100 poemas. Este, que é o maior título de sua carreira, contém poesias que datam de 1841. O livro é acusado no mesmo ano, pelo poder público, de ultrajar a moral e aos bons costumes. Os exemplares são retidos e autor e editora são obrigados a pagar uma multa. Essa censura se deveu a apenas seis poemas do livro, que foram retirados da edição, sendo publicados apenas postumamente.
Após a aceitação da sentença Baudelaire escreveu seis novos poemas “mais belos que os suprimidos”, segundo ele. O autor também foi alvo da hostilidade da imprensa, que o julgava um subproduto degenerado do Romantismo. Porém, sua carreira foi admirada e elogiada por Vitor Hugo e Gustave Flaubert, entre outros.

Baudelaire foi um escritor que avançou as fronteiras dos costumes em sua época, lançando-se também como crítico de arte. O poeta tornava-se um crítico que buscava um princípio inspirador e coerente nas obras de arte e os escritos que o revelam nesse segmento só foram publicadas em 1868. Baudelaire atuou também como tradutor do escritor americano Edgar Allan Poe, a partir de 1848.

Baudelaire e Antônio Maria

O famoso samba-canção intitulado “Ninguém me Ama”, fruto da criatividade de Antônio Maria, que utiliza Baudelaire na letra, é detentor de uma estória bastante famosa entre os cantores da boemia carioca. Na década de 1950, no Rio de Janeiro, Antônio estava em um famoso bar freqüentado pelos músicos da época. Uma noite, os músicos tocavam a canção, cuja primeira estrofe diz: “Ninguém me ama, / ninguém me quer, / ninguém me chama / de meu amor”.

Terminado o número, o próprio Antônio Maria, levantou-se de sua mesa, agradeceu, mas acrescentou que a letra admitia uma pequena correção. Foi até o microfone e cantou: “Ninguém me ama, / ninguém me quer, / ninguém me chama / de Baudelaire”.

O trecho revelou uma irônica auto-paródia e ficou famosa pela comparação do sambista com o poeta francês Charles Baudelaire. Este último foi, assim como Antonio Maria, um propagador da melancolia romântica e da tragédia do destino humano.

Luciano Barbosa Justino

O professor Luciano Barbosa Justino é bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e possui graduação em Licenciatura Plena em Letras pela Universidade Estadual da Paraíba; Mestrado em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Doutorado no Programa de Pós Graduação em Letras e Linguística pela mesma instituição, com tese intitulada “Poesia e poética em Augusto de Campos”. Tem experiência na área de Letras e Comunicação, com ênfase em Crítica Contemporânea, atuando principalmente nos seguintes temas: midiologia e história da escrita, poesia e prosa contemporâneas, semiótica da cultura, vanguarda, literaturas marginais.

Atualmente, coordena o Mestrado em Literatura e Interculturalidade da UEPB e os projetos de pesquisa “A literatura marginal e os novos estatutos da literatura brasileira contemporânea” e “A escrita das culturas midiáticas” e “Os novos desafios contemporâneos da narrativa na literatura infanto-juvenil”.

 

Secom

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