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Prefiro tomar cerveja e tocar piano a desenhar, diz Gilbert Shelton

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Com a barba grisalha, um boné de caminhoneiro e uma camisa xadrez atravessada por um suspensório, o quadrinista Gilbert Shelton não está muito longe de parecer um texano bronco, daqueles que votam em George Bush. Mas julgar pela aparência seria um grande erro nesse caso.

Shelton é o criador dos Freak Brothers, personagens das HQs underground norte-americanas que parecem os Três Patetas do movimento hippie, sempre se metendo em enrascadas que envolvem sexo, drogas e rock ‘n’ roll.

Em entrevista ao G1 durante a Festa Literária Internacional de Paraty, da qual participou ao lado do amigo e colega de quadrinhos Robert Crumb, Shelton contou que a ideia para seus principais personagens veio realmente dos Três Patetas. “Um cinema locol estava passando uma programação dupla, de ‘Os Três Patetas’ seguido de um filme dos irmãos Marx. Resolvi misturar os dois e nasceram os Freak Brothers”, lembra.

Ele diz se identificar com os três personagens – o durão Franklin, o paranóico Phineas e o atrapalhado Fat Freddy – mas afirma que na verdade ele é o gato do Fat Freddy. “Ele é mais esperto que qualquer um dos três”, brinca.

Demitido da ‘Help’
Shelton começou nos quadrinhos no final dos anos 50, e trabalhou no início da década de 60 na revista “Help”, criada por Harvey Kurtzman (fundador da “Mad”) em Nova York. “Foi um dos meus últimos trabalhos de verdade. Eu fui demitido porque era muito lento, eu ficava lendo as tirinhas ao invés de preparar o material para a impressão”, conta rindo.

Depois disso, ele voltou a Austin passou a editar a revista de humor universitário “The Texas ranger”, onde criou seu primeiro personagem, The Wonder Warthog, uma paródia do Superman. No final dos anos 60 conheceu Crumb e se juntou ao time da Zap Comix, principal revista das HQs underground dos EUA.

“Conheci Crumb e ‘Spain’ Rodriguez em Nova York em 1969. Tinha esse jornal, o ‘East Village Other’, que publicava quinzenalmente um suplemento de quadrinhos, ‘Gothic Blimp Works’, que publicava também outros artistas, como Kim Deitch e Art Spiegelman. E de repente todo mundo foi para São Francisco, que virou a Meca dos quadrinhos underground”, lembra.

Em São Francisco, Shelton criou a Rip Off Press, uma das primeiras editoras independentes do país. “Os artistas da Marvel, como Jack Kirby, nunca agradeceram a gente por fazermos ser possível que eles virassem os donos de seus personagens. Foram os quadrinhos underground que forçaram as grandes editoras a devolver os originais aos artistas – antes eles só jogavam fora, e hoje eles valem milhares de dólares”, conta o autor.

Além de um filme em stop-motion dos Freak Brothers que está sendo produzido na Grã Bretanha, a última obra de Shelton é “Not quite dead”, uma HQ sobre uma banda de rock decadente. “Eles são uns fracassados, tocam em clubes baratos, por US$ 20 por noite. Que é a realidade de ser um músico, é mais difícil fazer sucesso como músico do que como quadrinista”, afirma.

Cerveja é melhor que desenhar
Mas ele parece não ter muita pressa com sua nova criação, que parou na edição número 6 em 2005. Shelton diz que seu forte não é desenhar, e sim o bom humor do seu texto. “Desenhar bem exige treino. O Crumb passa o tempo todo desenhando. Eu prefiro sentar no bar, tomar uma cerveja e ver as pessoas passarem, ou tocar piano”, brinca.

O quadrinista diz que a visita ao Brasil foi uma boa oportunidade de viajar de graça, mas não esperava tanto reconhecimento. “Todo mundo está tratando a gente como realeza aqui. Em nenhum lugar do mundo é como em Paraty”, diz. “A gente sai na rua e todo mundo fica atrás do Crumb. ‘Por favor, assine o meu livro, por favor, me leve para sua casa’”.

A dupla participa hoje de uma palestra na Livraria da Vila (Rua Fradique Coutinho, 915), em São Paulo, às 19h30, com mediação do cartunista paulistano Caco Galhardo. Na sequência o grupo, que ainda inclui Aline, esposa de Crumb, viaja para a Argentina e para o Uruguai.

“Uma das coisas que convenceu Crumb a viajar é que há ótimos colecionadores de vinis na Argentina e no Uruguai, e ele já os avisou que estava indo procurar alguns discos de 78 rotações. A gente só vai deixar o Crumb com eles e vai embora fazer outra coisa” conta Lora.

G1
 

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