Os Sete Mares de Antônio é a peça que estreou no Teatro Santa Roza em trinta de outubro e permanece em cartaz por três semanas. E refere-se à saga do padre Antônio Vieira, pregador e escritor sacro-barroco do século XVII que permanece como grande referência da literatura luso-brasileira.
Sete são os quadros em que se dividem a peça e aludem as sete viagens que o padre empreendeu de Portugal para o Brasil e vice-versa. E com fidelidade histórica traz a cena episódios e textos do padre que se fez potente defensor dos indígenas e ativo contra a escravatura negra, o que lhe rendeu perseguições e expulsões diversas.
A peça foi finalista do prêmio luso-brasileiro de dramaturgia 2008 e também ganhou o prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz 2008.
Nessa peça, a palavra não é o caminho mais curto entre uma ação e outra, é sim o caminho mais rico, complexo e denso. A palavra é a própria ação. O teatro é uma gota que se revela arco-íris no coração de cada ator e é feita de muito pouco: Olhares, ritmos, timbres, volumes, sentimentos, muito suor e, neste caso, fabricada pela palavra, pela poesia.
Augusto Boal, referência recorrente no mundo do teatro escreveu: “O teatro – o palco – é o único lugar do mundo onde não podemos fazer teatro: honestos, aí temos de mostrar quem somos, temos que deixar nos camarins as nossas máscaras cotidianas”.
Seja como autor, ator, diretor, produtor ou os quatro ao mesmo tempo, Tarcísio Pereira é um homem de teatro e tem marcado com trabalho e competência sua presença nos palcos paraibano.
Quando Tarcísio escreveu “Os Sete Mares de Antônio”, ele escreveu. Quando o elenco interpreta, ele age. Esta ação se traduz em gestos, movimentos, silêncio e, sobretudo em palavras de cada personagem.
Os Autores: Flávio Melo – como padre Antônio Vieira, com pleno domínio cênico do personagem. Sidney Costa – viveu um cantador que conta a história e foi de uma nordestinidade ímpar. Neuri Mossmann – (trovador português), o terceiro ator construiu seus personagens com requinte.
Enfim, todos os atores ofereceram um desempenho correto, digno e sério. Uma representação consciente, onde cada inflexão e cada tempo transmitem com clareza uma intenção amadurecida e emocionalmente sentida. Impossível, dentro das características de cada personagem dizer qual foi o melhor, todos marcaram de forma concreta sua presença no palco.
A Equipe: A música, o cenário, os adereços, o figurino, a iluminação, a sonoplastia, a maquiagem, Os atores e a direção, tudo primoroso, devidamente entrosado, encaixados, amarrados. Como se todos fossem um.
É um belo espetáculo para quem gosta de teatro e para quem realmente gosta do bom teatro.
Enfim, como disse o próprio padre Antônio Vieira: “Há homens que são como velas: sacrificam-se, queimando-se para dar luz aos outros”.
A grande genialidade dessa peça foi traduzir para vernáculo nordestino em gênero literário cordelista a rebuscada, erudita e criativa linguagem do Pe. Antônio Vieira. Uma inculturação perfeita, talvez nunca antes ensaiada, quando se trata do grande jesuíta do século XVII, só tornada possível por uma mente brilhante. Parabéns Tarcísio e que Deus te livre dos invejosos de plantão, por que, como bem vaticinou o padre: “Inveja quando não mata, apodrece o coração”.







