Coppola fala sobre filmagens deTetro na América Latina

O diretor americano Francis Ford Coppola veio a São Paulo nesta quarta-feira (1) para falar sobre “Tetro”, sua mais nova produção, filmada em Buenos Aires, na Argentina. Com fotografia em preto e branco, o longa-metragem é uma história de família – tema recorrente na obra do cineasta – e narra o acerto de contas entre dois irmãos que não se veem há mais de dez anos.

“A fotografia em preto e branco é uma das formas mais belas de se filmar. É uma maneira poética de buscar realismo”, explicou Coppola, que usou a mesma técnica em “O selvagem da motocicleta”(1983). Em seu novo filme o diretor fez pouquíssimas cenas em cor – curiosamente, apenas as que se referem a situações do passado dos irmãos Tetro (Vincent Gallo) e Bennie (Alden Ehrenreich).
 

Família
“Tetro”, que também traz no elenco as atrizes Maribel Verdú e Carmem Maura, estreia no Brasil no próximo dia 10.

Filho de um bem-sucedido maestro, Tetro abandona sua família na Itália, na tentativa de se tornar escritor longe da figura paterna que sempre o oprimiu. Deixa para Bennie, o irmão caçula, a promessa de um dia buscá-lo. O rapaz nunca se esquece do irmão mais velho, e quando chega à maioridade, parte em sua busca, em Buenos Aires.
 

O que Bennie encontra é um homem boêmio, envelhecido e frustrado, que se recusa a falar de antigos traumas. Ignorado por Tetro, o rapaz se envolve com os amigos portenhos do irmão, para assim tentar descobrir quem ele se tornou durante os anos de afastamento.

“Sempre tive uma relação afetiva com a América Latina. Ando muito interessado pela tradição da ficção latina, na literatura da Argentina, do Chile, do Brasil”, revelou Coppola, ao falar sobre a escolha de filmar grande parte das cenas na capital argentina.

“Tetro” foi rodado entre 2007 e 2008, e também teve locações na Patagônia e algumas cidades da Espanha.

O diretor explicou que sempre volta ao tema das relações familiares por uma “necessidade pessoal”. “Todos os meus filmes, de uma certa forma, são pessoais. Quando faço filmes não busco fama, nem dinheiro. O que eu quero são respostas, aprender coisas sobre mim mesmo”.

Ao falar de relações familiares, o diretor também citou sua filha, a também cineasta Sofia Coppola, cujo filme mais recente é “Um lugar qualquer” (2010). “Nossa família sempre foi como uma família circense: nós viajávamos juntos, estávamos sempre juntos nos sets, envolvidos com a arte. Ainda bem jovem Sofia me disse que queria ser pintora, fotógrafa, atriz… Expliquei a ela que era preciso ter um foco. Anos depois ela me procurou para dizer que faria seu primeiro filme”.

‘Atores difíceis’
Coppola também falou sobre a experiência de trabalhar com Vincent Gallo, ator americano conhecido pela fama de temperamental. “Penso que essa coisa de ator difícil não existe. Podem dizer que o ator tem problemas com bebida, ou faz exigências no roteiro… Para mim não importa, sei que um ator só quer que se acredite nele e ele sempre poderá contar comigo, conversar quando for preciso”.

O cineasta citou o exemplo de Val Kilmer, com quem filma atualmente “Twixt now and sunrise”, baseado em conto de terror escrito pelo próprio Coppola. “Diziam a mesma coisa de Val Kilmer, e está sendo uma ótima experiência trabalhar com ele. Nunca tive problemas com atores ao longo de minha carreira”, garantiu Coppola, que dirigiu astros como Marlon Brando e Al Pacino no clássico “O poderoso chefão”.

O cinema 3D também foi tema da entrevista coletiva desta quarta (1), realizada na Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP). O próximo filme do diretor terá algumas cenas filmadas com a tecnologia.

“Acho espetacular que o cinema mais comercial esteja buscando a tecnologia para ajudar no entretenimento, mas a arte nunca deve ser deixada em segundo plano. Entretenimento é importante, mas o cinema tem que ser divulgador de ideias antes de tudo”, opinou.

“Ultimamente, no cinema comercial, os filmes estão muito semelhantes entre si. E eu gosto de ser surpreendido. Gosto do cinema independente dos irmãos Cohen”, citou Coppola.” Acho muito entediante ter que usar esses óculos especiais”, ironizou o diretor.
 

G1