Vivemos tempos estranhos. Tempos em que tudo vira espetáculo e quase nada é levado a sério. É CPI das bets de um lado, boneca reborn ganhando manchete do outro, enquanto o Brasil real — com seus problemas urgentes e profundos — vai sendo empurrado para debaixo do tapete. Janja vira assunto por falar de TikTok, o Papa é comparado a um leão de reality show, e a superficialidade ganha mais palco do que qualquer tentativa de discussão minimamente séria.
A sensação é de que a insanidade venceu. Hoje em dia, abrir a boca é quase um ato de coragem, porque a resposta vem carregada de ruído, desinformação ou pura idiotice. Calado, pelo menos, ainda deixam a dúvida. Falando, a certeza é de que se entra em um looping de debates vazios e de narrativas rasas — onde quem grita mais, vence.
E o mais frustrante é perceber que qualquer tentativa de trazer lucidez ao debate é tratada como chata, deslocada ou exagerada. Parece que pensar virou um fardo. O debate virou guerra de memes. A política virou reality. O país virou uma novela onde os personagens principais trocam o roteiro por likes e engajamento.
A angústia aumenta quando pensamos que nossos filhos estão crescendo nesse ambiente. Cercados por maus exemplos, por uma lógica onde o superficial é celebrado e o esforço é ridicularizado. A luta por valores dentro de casa se torna quase injusta diante do apelo fácil e sedutor das redes sociais, que oferecem atalhos, aparências, e recompensas imediatas para quem pouco faz — ou para quem topa tudo por visibilidade.
Enquanto isso, a inflação bate à porta, a fome continua, o desmatamento avança, a educação patina, e a saúde pública sangra. Mas quem liga? A atenção está em outra parte. Está no circo. E nesse circo, quem tenta colocar ordem é vaiado (Ihuuu!!!).
A verdade é que dá até desânimo de tentar. A idiotice vence por W.O. Não porque seja mais forte, mas porque os que pensam, aos poucos, vão desistindo de gastar energia. Vale nem a pena o desgaste. Quem tenta fazer sentido vira alvo, e quem faz graça sem sentido vira manchete.
Viagem geral. Um tempo em que tudo se banaliza, inclusive o que deveria ser sagrado: o senso crítico, a ética, o futuro. E aí a pergunta que fica é: em que mundo vamos parar?
Se continuar assim, a resposta talvez seja: em nenhum. Porque o caminho que seguimos parece mais uma espiral sem fim, onde quanto mais giramos, mais perdemos o eixo.
Por Márcia Dias