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Entidades criticam censura à reportagem sobre Marcela Temer

 Entidades que representam jornalistas e empresas de comunicação criticaram a decisão do juiz Hilmar Castelo Branco Raposo, que censurou reportagens produzidas pelo GLOBO e pela jornal “Folha de S. Paulo”, na última sexta-feira, sobre a troca de mensagens entre a primeira-dama, Marcela Temer, e um hacker, que tentava extorqui-la. Em nota conjunta, a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (ABERT), a Associação Nacional de Editores de Revistas (ANER) e a Associação Nacional de Jornais (ANJ) afirmaram que consideraram a decisão “censura prévia”.

 

“As associações consideram a decisão judicial um cerceamento à liberdade de imprensa e esperam que a sentença seja revista ou reformada imediatamente, garantindo aos veículos de comunicação o direito constitucional de levar à população informações de interesse público”, afirma a nota.

 

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) informou, também em nota, que é contra qualquer tipo de censura e reivindicou a anulação “da absurda” decisão. “Impedir repórteres de publicar reportagens é prejudicial não apenas ao direito à informação, como também ao papel do jornalista de fiscalizar o poder público”.

 

A entidade lembrou a declaração da ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia, durante o julgamento da ação que liberou a publicação de biografias sem autorização do biografado. “Como resumiu a presidente do Supremo Tribunal Federal, Cármen Lúcia, em junho de 2015, cala a boca já morreu, quem disse foi a Constituição”.

 

A Abraji acrescenta que “a censura foi banida pela Carta Magna de 1988 e pelo STF em sua decisão na ADPF 130, que derrubou a Lei de Imprensa”. “A liberdade de imprensa e a liberdade de expressão são fundamentais em qualquer democracia”, finaliza a nota.

 

Eugênio Bucci, professor da Escola de Comunicação da USP, destaca que há uma discussão no mundo jurídico se qual valor deve preponderar nas decisões de juízes nesses casos: a proteção à intimidade ou o interesse público da sociedade.

 

— Quando o juiz proíbe a publicação, mas essa proibição fere o direito à informação da sociedade, na prática, o que eles está fazendo é censura judicial — avaliou Bucci.

 

O presidente Michel Temer disse que não há censura na ação contra os jornais.

 

— Não houve isso, você sabe que não houve — respondeu Temer, irritado, ao ser questionado sobre o assunto.

 

‘INACEITÁVEL’

 

O professor da USP ainda destaca que cabe aos jornalistas e não ao juízes decidirem o que deve ser publicado.

 

— Do ponto de vista ético, é inaceitável que um Poder do Estado estabeleça um filtro entre o exercício da atividade jornalística e a sociedade. O jornalista arcará com os excessos e o abusos que ele vier a cometer, mas isso acontece a posteriori. É assim que funciona a democracia.

 

Para Bucci, o caso em questão ainda mais grave porque envolve o presidente da República, Michel Temer.

 

— Como chefe do Executivo, o interesse público avança alguns passos lei além do que avançaria no caso de uma pessoa comum. A vida privada do presidente e dos seus familiares constituem matéria de interesse público.

 

HACKER CONDENADO

 

A liminar que censurou as reportagens foi assinada pelo juiz Hilmar Castelo Branco Raposo na própria sexta-feira. A ação foi movida pelo subsecretário de assuntos jurídicos da Presidência da República, Gustavo do Vale Rocha, logo após o Planalto ter sido procurado pelo GLOBO, que solicitavam uma resposta sobre o conteúdo da reportagem. Na decisão, o magistrado sustenta que “a inviolabilidade da intimidade tem resguardo legal claro” e proíbe a divulgação de qualquer conteúdo do celular de Marcela Temer

 

As reportagens tratam da troca de mensagens que fazem parte do processo judicial contra o hacker Silvonei de Jesus Souza, que tramita na Justiça de São Paulo, ao qual o jornal teve acesso. Silvonei foi condenado a 5 anos e 10 meses de prisão em outubro do ano passado por tentar chantagear Marcela Temer utilizando conteúdo roubado do celular e de contas de e-mail da primeira-dama.

 

Na última sexta-feira à noite, assessores do presidente Michel Temer entraram em contato com o jornal para falar sobre o tema e enviaram uma mensagem com a reprodução da decisão judicial. Quando a mensagem chegou ao jornal, a reportagem já tinha sido publicada no site. O GLOBO aguardou, então, a notificação oficial para retirá-la do ar, o que ocorreu nesta segunda. O jornal vai recorrer da decisão.



 Foto: André Coelho

O Globo

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