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Um ano após dor nas costas, jovem descobre câncer

Larissa Meira, 21, iniciou o ano de 2006 cheia de planos –ela acabara de entrar na faculdade de design, em Recife- e com um pouco de dor nas costas. Mas quem liga para uma dorzinha aos 19 anos e com tanta coisa para fazer na vida?

As tensões da época do vestibular, o peso da mochila e o fato de não praticar esportes justificavam as dores. Quando elas começaram a ficar mais fortes, no segundo semestre daquele ano, Larissa procurou um ortopedista.

Passou mais de um ano peregrinando por consultórios dessa especialidade. “Fui a oito médicos. Todos diziam que era erro de postura e receitavam anti-inflamatório, analgésico ou fisioterapia. Tinha um alívio temporário, mas a dor acabava voltando”, conta Larissa.

A garota procurava ignorar os outros sintomas. Estava emagrecendo, mas achava que era a correria do dia a dia; sentia coceiras nas pernas, que atribuía aos mosquitos. “Para tudo eu tinha uma explicação.”

Larissa entrou em 2007 com a expectativa de estudar nos EUA, em Los Angeles. Quando, em setembro daquele ano, teve o seu pedido de visto negado, achou que era o pior dia do ano. Não era.

Três semanas depois, saiu o resultado da ressonância magnética pedida por um ortopedista. O exame acusava dois tumores na coluna.

Diagnóstico tardio

Encaminhada para um oncologista, Larissa recebeu o diagnóstico em novembro de 2007. Estava com linfoma, uma proliferação desordenada das células de defesa do organismo situadas nos linfonodos (gânglios linfáticos).

A demora no diagnóstico fez com que o linfoma avançasse: ela já estava no estágio mais grave da doença, com infiltração na medula óssea.

“O oncologista perguntou como deixamos chegar a esse ponto”, lembra a mãe de Larissa, a publicitária Karla Meira, 41. “Mas, quando os filhos crescem, você perde o controle de levá-los ao médico e até de acompanhar os sintomas. A Larissa não me contava que estava com tanta dor, tomava analgésico escondido.”

Para Celso Massumoto, hematologista do Hospital Sírio-Libanês, os sintomas do linfoma podem ser mascarados por uma série de fatores. O uso de anti-inflamatórios, por exemplo, pode diminuir momentaneamente o tamanho dos gânglios, adiando o diagnóstico.

Junte-se a isso o fato de o linfoma ser pouco conhecido pelo público leigo, apesar de dados mundiais o apontarem como o sexto tipo de câncer mais comum. ‘E, segundo estatísticas do Instituto Nacional de Câncer dos EUA, o linfoma está aumentando em todas as faixas etárias, inclusive entre os mais jovens’, diz Massumoto.

No jovem adulto, o próprio estilo de vida acaba dificultando a ida ao médico e o diagnóstico precoce.

No caso de Larissa, além de sua juventude, as consultas com especialistas que não fizeram um exame completo, limitando-se à queixa específica, adiaram ainda mais o diagnóstico.

“Eu falava da dor [nas costas] e imaginava que, se fosse preciso saber mais, o médico iria perguntar. Mas eles mal me tocavam. Cheguei a ficar com uma ‘bola’ na clavícula, e o ortopedista, sem nem apalpar, disse que era uma inflamação. Receitou um anti-inflamatório e aplicação de gelo. Dormi com bolsa de gelo até sair o resultado da ressonância.”

Larissa afirma que, ao saber que tinha câncer, não se desesperou. “Fiquei mais curiosa para saber o que era linfoma, nem sabia que existia.”

No dia 17 de dezembro de 2007, ela iniciou os ciclos de quimioterapia –foram 12, no total. No meio deles, teve uma trombose na perna esquerda, o que a levou a uma internação de urgência e interrompeu o tratamento quimioterápico.

O coágulo na perna foi dissolvido e Larissa retomou o tratamento. Mas, após o terceiro ciclo de quimioterapia, os exames mostraram que os linfomas nos ossos tinham aumentado de tamanho. Com o câncer agressivo e resistente, a indicação foi o autotransplante da medula óssea (procedimento em que células-tronco são retiradas e reimplantadas no organismo após quimioterapia).

Em setembro de 2008, Larissa foi internada para ser submetida ao transplante. Foram 28 dias no hospital e duas semanas em isolamento até a medula nova ‘pegar’.

Volta às aulas

Após o transplante, Larissa teve que fazer radioterapia –o tratamento seguiu até o final do ano passado. Em 2009, voltou a frequentar as aulas da faculdade de design e começou um curso de animação em 3D.

Seus próximos planos são aprender uma arte marcial e escrever um livro sobre sua experiência –desde a descoberta do linfoma, Larissa mantém um blog (http://espremendoolimao.blogspot.com). Lá ela conta seus altos e baixos durante o processo e dá notícias atualizadas sobre a sua saúde. As últimas: os exames realizados no mês passado, em São Paulo, mostram que ela não tem mais a doença.

Folha

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