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OMS diz que pico da covid-19 ainda não chegou no Brasil

Foto: Bruno Concha/Secom
O Brasil iniciou mais um mês na luta contra o novo coronavírus sem uma real perspectiva de redução dos números da doença. Com mais 623 mortes confirmadas e 12.247 novos casos computados, o país soma 29.937 vidas perdidas e 526.447 infectados pela covid-19. Há, ainda, 4.412 pessoas com sintomas relacionados à covid sob investigação, de acordo com o Ministério da Saúde. A crescente curva de casos e mortes no país preocupa a Organização Mundial da Saúde (OMS), que alertou, ontem, sobre o fato de a situação da América do Sul estar longe de se estabilizar e que não consegue prever um pico de transmissão da doença.
Em entrevista coletiva, o diretor do programa de emergências da OMS, Michael Ryan, afirmou que se nota um aumento progressivo de casos em países latino-americanos. De acordo com Ryan, cinco dos dez países que registraram o maior número de casos nas últimas 24 horas estão na América. São eles: Brasil, Estados Unidos, Peru, Chile e México. Em 22 de maio, ele já havia dito que a América do Sul se tornara o novo epicentro da covid-19 no mundo.
“Eu certamente afirmaria que a América Central e a América do Sul estão se tornando as zonas intensas de transmissão do vírus agora. Eu não acredito que atingimos o pico da transmissão e, neste momento, não consigo prever quando vai ser. Mas o que precisamos fazer é mostrar solidariedade aos países”, ressaltou.
Sem citar governantes em específico, Ryan ainda disse que a resposta de combate ao novo coronavírus é diferente em cada país. “Nós vemos muitos bons exemplos de países que têm uma abordagem do governo inteiro, da sociedade inteira, baseada na ciência, e vemos em outras situações uma falta e uma fraqueza nisso”, apontou.
O Brasil é o segundo país com mais casos no mundo e o quarto no ranking de óbitos absolutos. Segundo levantamento da Universidade Johns Hopkins, somente a Itália, com 33.475 mortes, Reino Unido (39.127) e Estados Unidos (104.799) têm mais registro de mortes. No entanto, o crescimento diário brasileiro ultrapassa, há semanas, os números italianos e, por isso, a previsão é que, ainda esta semana, o país assuma a terceira posição.
No entanto, ao se considerar a quantidade de perdas em relação à população total do país, o Brasil não supera os números das nações europeias. Pelas análises do site de estatística Our World in Data, entre os seis países com mais mortes absolutas, a Espanha é o local onde, proporcionalmente, o novo coronavírus foi mais grave. São 580,2 mortos a cada milhão de habitantes. O Reino Unido está em 565,3 fatalidades, seguido pela Itália (551,4), França (440,7) e Estados Unidos (313,5). Enquanto isso, o Brasil tem 135,6 mortes a cada milhão de pessoas.
Ao avaliar a situação de cada um separadamente, levando em consideração a evolução dos próximos dois meses a partir de uma centena de óbitos, o que se observa é que, enquanto os países europeus, com menor dimensão territorial, já estavam em estabilização de mortes, após mais de 60 dias do primeiro registro de fatalidades, os Estados Unidos e o Brasil apresentavam crescimento exponencial.
Flexibilização
São Paulo ainda lidera em número de casos e óbitos, com 111.296 diagnósticos e 7.667 mortes. Desde ontem, prefeitos podem começar a implementar o Plano São Paulo, anunciado pela gestão João Doria. Pelo plano, o estado foi dividido em regiões e em fases, que vão de 1 a 5, e podem começar a implementar medidas de flexibilização e reabertura gradual das atividades econômicas a partir da classificação na fase 2. De acordo com o governo, 90% da população ainda está entre as fases 1 (restrição total, somente com funcionamento de serviços essenciais) e 2 (reabertura com restrições).
Na sequência em maior número de casos no país, o Rio tem 54.530 casos e 5.462 óbitos  — e também inicia flexibilização. No Ceará, que também iniciou um processo de liberação, ontem, são 50.530 infecções e 3.188 mortes. Os números chegam no momento em que outros estados começam a discutir as medidas de flexibilização do isolamento social e reabertura de setores da economia.
Outros três estados possuem mais de duas mil mortes. São eles: Pará (2.925), Pernambuco (2.875) e Amazonas (2.071). Juntos, as seis unidades federativas somam 24.188 óbitos, ou seja, 80,7% de todas as mortes já confirmadas no país. Dos 26 estados mais Distrito Federal, apenas três possuem menos de 100 fatalidades: Tocantins (76), Mato Grosso (66) e Mato Grosso do Sul (20).
Conclusão sobre a hidroxicloroquina
A OMS anunciou, ontem, que deve divulgar a conclusão de seus estudos sobre a segurança da hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus. O ensaio clínico com o medicamento no projeto Solidariedade (Solidarity) está suspenso desde 25 de maio, quando a entidade se sustentou em uma pesquisa externa, publicada na revista científica The Lancet, que alertou para os maiores riscos de morte em pacientes que utilizaram a droga. De acordo com a cientista-chefe da OMS, Soumya Swaminathan, as novas diretrizes sobre a hidroxicloroquina se basearão nos dados da própria organização. A atualização levará em consideração as respostas ao medicamento observadas em pacientes do ensaio clínico. No Brasil, a iniciativa é coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Atenção primária no combate ao vírus
por Vânia Bezerra* 
Todo sistema de saúde pública no mundo possui a sua porta de entrada, ou seja, o canal inicial pelo qual o paciente terá acesso aos diversos serviços de saúde disponíveis. No Sistema Único de Saúde brasileiro, esse nível inicial é formado pelos serviços de Atenção Primária à Saúde (APS), que abrangem estratégias de prevenção e promoção da saúde, diagnóstico, tratamento e reabilitação de pacientes na rede pública.
Considerando a transição de perfil epidemiológico da população brasileira, a APS passa também a ser o fio condutor no que se refere ao cuidado às doenças crônicas não transmissíveis. Até pouco tempo, o nosso sistema de saúde organizava suas ações priorizando a atenção às doenças ou condições agudas, que acessavam o sistema pelos serviços de urgência e emergência. Com as mudanças no estilo de vida da nossa sociedade, o manejo das doenças crônicas passa a ser um desafio que tensiona o modelo de atenção à saúde vigente, no sentido de se redirecionar estes casos da porta dos serviços de emergências para o nível de cuidado primário.
Em meio a essas demandas, enfrentamos atualmente, também, o crescente número de casos da covid-19 na rede pública. Nesse contexto, as Unidades Básicas de Saúde (UBS) passaram a ter um papel importante no acolhimento dos casos suspeitos. Estamos dando apoio às unidades usando a tecnologia. Por meio de um canal 0800, os médicos e enfermeiros que atuam nas UBSs podem conversar com teleconsultores do projeto Regula Mais Brasil, liderado pelo Hospital Sírio-Libanês e executado por meio do Programa de Apoio Institucional ao Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), uma grande parceria público-privada com o Ministério da Saúde por onde fornecemos nossas expertises a serviço do fortalecimento do SUS, que mais do que nunca, precisa de estruturas robustas.
Além da discussão de casos e apoio na conduta clínica, esse serviço de teleorientação contribui para a diminuição das filas de espera para consultas com especialistas, priorizando os casos mais graves e contribuindo para desafogar essa porta de entrada do sistema.
O Regula Mais Brasil já bateu a marca de 392 mil casos regulados em cinco localidades (Porto Alegre, Belo Horizonte, Distrito Federal e Amazonas e Recife), resultando na diminuição considerável das filas de espera.
A Atenção Primária à Saúde reforça os princípios do SUS: a universalização, a equidade e, principalmente, a integralidade, visando a qualidade no cuidado dos usuários do nosso Sistema Único de Saúde. E no combate ao coronavírus, estamos levando eficiência e inovação ao SUS para vencer esse desafio.
Correio Braziliense

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