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Cientistas buscam combater zika que na PB tem 103 casos

 A preocupação em torno da epidemia do vírus zika, relacionado ao aumento de casos de bebês com microcefalia, tem feito especialistas de todo o mundo se debruçarem sobre o micro-organismo para entender como ele funciona e, assim, encontrar maneiras de combatê-lo. Ao longo dessa busca, são usadas novas ferramentas de análise, que podem incluir até mesmo minicérebros produzidos em laboratório. PB tem 103 casos confirmados de microcefalia, diz Ministério da Saúde, muitos destes relacionados a Zika.

No mais recente estudo do tipo, publicado ontem na revista Cell, cientistas mostram como um desses organoides, que conta com as principais partes de um cérebro humano, os ajudou a compreender melhor a ação do zika sobre as células nervosas. Com a pesquisa, eles constataram uma preferência do vírus pelas células neurais e acharam evidências de que os riscos de microcefalia são maiores se a infecção acontece nos três primeiros meses da gravidez.

Os organoides cerebrais têm sido usados com sucesso em diversas pesquisas sobre doenças neurológicas, como os males de Parkinson e de Alzheimer. Com o risco que o micro-organismo representa para os bebês, passaram a ser usados também nesses estudos. “Antes de começar a trabalhar com o zika, nossa equipe levou mais de dois anos aprimorando esse modelo para o desenvolvimento neural. Quando a suspeita de ligação entre o vírus e a microcefalia foi relatada no início do ano, decidimos que tínhamos um sistema relevante para investigá-la”, explica ao Correio Hongjun Song, um dos autores do estudo e pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos.

Os minicérebros são feitos a partir de uma técnica com células-tronco muito difundida. Os pesquisadores pegam células humanas da pele e as induzem a regredir para um estágio inicial (pluripotente), quando podem se transformar em qualquer tipo de tecido. Então, uma série de processos são feitos para que elas se reproduzam e deem forma ao órgão desejado. A técnica não permite criar um cérebro completo, que poderia, por exemplo, ser implantado em uma pessoa, mas gera um organoide com estrutura próxima à de certas partes do órgão, que serve de modelo para pesquisas.

Com o organoide que criaram, os pesquisadores puderam fazer o que seria impossível em um estudo com pessoas: expor o órgão ao zika e observar a ação do vírus. “Expusemos esses minicérebros a uma dose controlada do zika em diferentes fases do desenvolvimento, e isso nos permitiu examinar os efeitos nas células, inclusive ao nível molecular”, detalha Song. Os cientistas usaram três tipos de organoides, cada um representando uma área do cérebro: prosencéfalo, mesencéfalo e hipotálamo. Todos se desenvolveram durante 100 dias, o que permitiu uma observação equivalente ao início de desenvolvimento de um feto.

As análises confirmaram que o vírus prefere infectar as células-tronco neurais, o que explica por que os riscos são maiores no primeiro trimestre da gestação, quando o cérebro da criança está no início da formação. “Os organoides ficaram menores e não geraram neurônios de forma eficiente quando estavam infectados com o vírus”, detalha Guo-li Ming, colega de Song na universidade e na pesquisa.

Brasil
Na avaliação de Bruna Mendonça, neurologista do Hospital Santa Luzia, em Brasília, o trabalho segue uma tendência de pesquisas atuais, que têm se voltado para novas estratégias de combate ao zika. “Há um grupo de pesquisa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que usa a mesma técnica de minicérebro pra análise do zika e seus efeitos. Essa opção permite aos cientistas analisarem células muito similares às humanas e sem a necessidade de uso de animais. Acreditamos até que eles não precisem ser usados no futuro”, afirma a especialista, que não participou do estudo.

O grupo de pesquisa ao qual a médica se refere publicou, no começo do mês, em parceria com o Instituto D’Or para Pesquisa e Educação (Idor), um estudo que também confirmou a capacidade do zika de destruir células neurais, usando minicérebros como modelos. Nesse trabalho, publicado na revista Science, os organoides infectados apresentaram uma redução de 40% comparados a outros que se desenvolveram normalmente. Também foram constatadas malformação e mortes de células. Os pesquisadores compararam a ação do zika sobre os minicérebros com a do vírus da dengue, mostrando que o primeiro é de fato muito mais agressivo. “Esses resultados únicos podem revelar alguns aspectos-chave da infecção por zika no cérebro em desenvolvimento”, afirmou, na ocasião, Patricia Garcez, professora da UFRJ.

Para os autores do estudo publicado ontem, as confirmações obtidas com o trabalho podem ajudar na criação de tratamentos. “Agora, temos um modelo com poder de uso para testes pré-clínicos e para terapias potenciais”, relata Song. Os cientistas adiantam que o próximo passo será testar medicamentos contra o vírus com a ajuda dos organoides. “Vamos usar os minicérebro como uma plataforma para testar drogas que poderiam aliviar os efeitos do zika. Nós também estamos interessados em identificar o mecanismo responsável pelos danos que ele causa”, completa.
Paraíba –

A Paraíba teve 103 casos de microcefalia e outras malformações, sugestivos de infecção congênita, desde o início das investigações, em outubro de 2015, até 2 de abril. Os dados foram divulgados pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira (5). Ao todo, foram 853 casos notificados em 2015 e 2016. Desses, 364 já foram descartados e 386 seguem em investigação.

O estado da Paraíba é o terceiro com maior número de casos confirmados no país, atrás apenas de Pernambuco (303) e Bahia (194). Em todo o Brasil, 4.046 casos suspeitos de microcefalia estão em investigação. Foram 6.906 notificações em 1.307 municípios de todas as unidades da federação. Dos casos já concluídos, 1.814 já foram descartados e 1.046 foram confirmados para microcefalia.

Destes, 170 já tiveram confirmação laboratorial para o vírus Zika. Nestes casos, foi realizado exame laboratorial específico para o vírus Zika. No entanto, o Ministério da Saúde ressalta que esse dado não representa, adequadamente, a totalidade do número de casos relacionados ao vírus. Ou seja, a pasta considera que houve infecção pelo Zika na maior parte das mães que tiveram bebês com diagnóstico final de microcefalia.



Redação com revista Cell

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