Sem expectativa de manter a unidade dos partidos aliados na eleição, o Palácio do Planalto mudou a estratégia e passou a elogiar o apresentador Luciano Huck, sob o argumento de que ele pode até mesmo ter o apoio do MDB, se for candidato à cadeira do presidente Michel Temer. O movimento foi calculado para reagir às articulações do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na tentativa de mostrar que o MDB pode desequilibrar o jogo.
Dono do maior tempo de TV na propaganda política, o partido de Temer não pretende avalizar Huck, que hoje flerta com o PPS. Com a nova tática, porém, demarca o território para deixar claro que, se não querem o seu "dote" por medo da impopularidade do presidente, um outsider na política pode levá-lo e sair na frente nessa corrida.
Nos bastidores, auxiliares de Temer dizem que tanto Alckmin quanto Maia fazem discurso público favorável à reforma da Previdência, mas, na prática, lavam as mãos e não ajudam a angariar votos para aprovar a proposta. A avaliação no Planalto é a de que os dois não têm interesse em fortalecer o governo em um ano eleitoral.
Desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4) a 12 anos e 1 mês de prisão, o centro político intensificou as negociações para encontrar um nome que possa herdar votos do petista, caso ele fique inelegível pela Lei da Ficha Limpa. O problema é que, até agora, todos os postulantes desse espectro patinam nas pesquisas de intenção de voto, e o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) está isolado no segundo lugar, atrás de Lula
Agenda
Maia é um dos pré-candidatos que mais incomodam o Planalto porque, além de avançar sobre partidos da coalizão, critica o governo. Com relacionamento apenas protocolar com Temer, o presidente da Câmara projeta sua campanha com apoio do PP, PR, PRB, PHS e Solidariedade. Em recente reunião com o senador Ciro Nogueira, presidente do PP, o deputado Paulo Pereira da Silva – que comanda o Solidariedade – e os ministros Alexandre Baldy (Cidades) e Mendonça Filho (Educação), Maia pregou uma agenda "mais popular".
"O Orçamento da União está comprometido, mas não com novas políticas públicas que cuidem dos jovens", insistiu ele na reabertura dos trabalhos do Legislativo, em mais um discurso que contrariou o Planalto. "Falar a verdade é sempre o caminho para que a política se reconcilie com a sociedade."
Temer vai aproveitar a reforma ministerial, no fim de março, para condicionar a manutenção dos partidos na Esplanada ao apoio a um candidato que defenda o governo na campanha. Até hoje, porém, esse nome não apareceu.
O titular da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), é um dos que disputam a vaga, mas o próprio Temer disse preferir que ele continue no comando da economia. "Só vou tomar uma decisão no fim de março. Peru não morre de véspera", brincou o ministro, que, sem a chancela do PSD de Gilberto Kassab, pode migrar para o MDB.
A decolagem de Alckmin, por sua vez, é vista com ceticismo no Planalto. O presidente e seus interlocutores, no entanto, mantêm diálogos frequentes com o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), pré-candidato ao Palácio dos Bandeirantes.
Embora amigos em comum de Temer e Alckmin tentem promover um encontro entre os dois para verificar se é possível algum acerto do MDB com o PSDB, nada foi marcado. "É importante conversar. O Brasil não precisa de guerreiros, mas, sim, de pacificadores", disse o governador ao Estado.
Alckmin está preocupado com a falta de candidatos próprios do PSDB para lhe dar palanque em Minas e no Rio, dois dos três maiores colégios eleitorais, depois de São Paulo. A portas fechadas, correligionários de Temer comentam que o tucano poderá ser "cristianizado" na campanha, se não conseguir melhorar seu desempenho. "Michel, com sua alta popularidade, é que deve ser o candidato desse campo. Só ele tem condições de unir os aliados", ironizou o senador Renan Calheiros (MDB-AL), adversário político do presidente.
Ministros do MDB argumentam que, se até abril a retomada econômica provocar uma sensação de bem estar social, Temer poderá ganhar pontos e tentar novo mandato. Observam, porém, que, caso sua aprovação permaneça baixíssima, ele não disputará para não ser submetido a um fiasco nas urnas. Nesse cenário, a tendência é que o MDB negocie um candidato a vice, apostando na eleição de grandes bancadas na Câmara e no Senado para voltar a dar as cartas no Congresso, a partir de 2019.
Redação