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Sarney diz que fica e tropa de choque ameaça oposição com dossiê

Apoiados pelo Palácio do Planalto, os aliados do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), cumpriram à risca a estratégia montada na semana passada e voltaram do recesso acuando a oposição, que pede sua renúncia do cargo. O próprio Sarney, após indicar para aliados e familiares, na semana passada, que iria renunciar, ontem mudou de ideia, reforçou a corrente de resistência da tropa de choque e negou que vá deixar o cargo. “Isso não existe, isso não existe”, repetiu, ao deixar o plenário.
 

Na sessão, os aliados de Sarney revelaram abertamente que preparam “dossiês” sobre senadores da oposição. Também “vazaram” denúncias de irregularidades praticadas por desafetos do presidente da Casa. “Eu peguei todos os atos. Xeroquei do original. Tem a assinatura de cada um dos líderes lá avalizando as atitudes tomadas pelo presidente. Eu tenho os documentos”, avisou Wellington Salgado (PMDB-MG), da tropa de Sarney, em plenário. Pelo raciocínio do grupo, se ele cair, não será sozinho.

A senha para o ataque foi o discurso do senador Pedro Simon (PMDB-RS), que pediu a renúncia de Sarney da presidência. Liderada por Renan Calheiros (PMDB-AL), a reação contou com a adesão de Fernando Collor (PTB-AL), que reeditou o estilo “bateu levou”, da época em que presidiu o Brasil, entre 1990 e 1992, antes de ser alvo de processo de impeachment e ter o mandato cassado.

Momentos antes de o clima de beligerância tomar conta do plenário, Sarney saiu e se recolheu a seu gabinete. “Estou com um espírito muito bom. Nunca deixei de estar confiante”, afirmou, ao ser indagado se estava tranquilo para enfrentar os 11 pedidos de investigação protocolados no Conselho de Ética.

Desde que assumiu, em fevereiro, Sarney vem sendo alvo de denúncias que envolvem emprego de familiares, uso de atos secretos no Senado e desvios da fundação que leva seu nome.

Os aliados passaram o início da tarde tentando pôr panos quentes na crise e refutando a hipótese de renúncia. “Isso aqui não é como time de futebol, que troca de técnico a toda hora”, disse o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). “Não existe possibilidade de renunciar”, emendou Salgado.

Ao ser indagado sobre a nota do PMDB, divulgada anteontem, que aconselhou os dissidentes a saírem da legenda, em uma referência a Simon e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), Jucá tentou amainar a crise. “Se estamos trabalhando para desidratar a crise, não há como jogar mais combustão”, disse.

A decisão do Palácio do Planalto de apoiar Sarney foi tomada com base na certeza de que, se ele cair agora, a derrota será debitada pelo PMDB na conta do PT. O argumento é que o senador pode até não resistir à guerra e renunciar ao cargo, mas não é inteligente o PT empurrá-lo para o abismo. Ao contrário, trata-se, no diagnóstico do governo, de “tática suicida”.

Na tentativa de baixar a temperatura da crise, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, reuniu ontem para jantar os senadores Renan, Aloizio Mercadante (PT-SP), Gim Argello (PTB), Jucá, Ideli Salvatti (PT-SC) e o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). A mesa era a expressão das divergências na base aliada. Berzoini criticou em tom duro a nota divulgada na semana retrasada por Mercadante pedindo o afastamento de Sarney.

LEGISLATIVO EM CRISE

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25/7
Estado revela que José Adriano Cordeiro Sarney, neto do senador, opera crédito consignado na Casa

3/7/2009
Estado informa que Sarney ocultou casa de R$ 4 milhões, em Brasília, da Justiça Eleitoral

9/7
Estado revela que Fundação José Sarney, em São Luís, desviou
R$ 500 mil de verba da Petrobrás

10/7
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13/7
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15/7
Fernando Sarney, filho do senador, é indiciado pela PF por lavagem e formação de quadrilha

21/7
Conversas gravadas pela PF e reveladas pelo Estado mostram o senador articulando a contratação, por meio de ato secreto, de um namorado da neta, Bia

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Ministério Público reprova contas da Fundação Sarney e decide intervir na entidade

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Liminar do desembargador Dácio Vieira, próximo do clã Sarney, proíbe Estado de noticiar investigação contra Fernando Sarney

 

Estadão

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