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Ricardo Coutinho: igual aos outros

Desde que iniciou na política, Ricardo Coutinho sentiu que seria importante, do ponto de vista de marketing, cultivar para si a imagem do homem público que abomina as velhas práticas da política. Isso o faria diferente dos políticos da velha guarda, todos lambuzados dos vícios da política toma-lá-da-cá, e reforçaria a tese de que ele sempre representaria o novo.

Foi sempre assim que se apresentou ao eleitorado. A divulgação de autorizações escritas à mão para concessão de gratificações para aliados de vereadores, no entanto, põe à mostra o que Ricardo mais procurou esconder em toda sua trajetória política: que ele é, simplesmente, igual aos outros.

Ou seja, que entende muito bem a linguagem e as artimanhas que permeiam nossa política.

Não dá cadeia. Nem cassação de mandato. Mas as autorizações de Ricardo para concessão de gratificações para vereadores são o atestado de que não se pode vender uma imagem de santo ante um sistema político feito de pecadores. Ao contemplar aliados, o prefeito de João Pessoa quis o que todo chefe do Executivo, naturalmente, quer: ter controle sobre o Poder Legislativo.

É natural. E como se faz isso? Ora, fazendo concessões com o dinheiro público para os aliados. Apesar de neófito, Ricardo soube ser expert no assunto. Quando assumiu em janeiro de 2005, tendo sido traído pelo Professor Paiva, que num golpe da oposição, foi eleito presidente da Câmara, Ricardo só poderia contar com, no máximo, quatro dos 21 vereadores eleitos.

Terminou o primeiro mandato com 15 aliados, alguns deles secretários do seu governo, como Marconi Paiva e Edmilson Soares. Hoje, tem ex-auxiliar do arqui-rival Cícero Lucena atuando em sua administração e na liderança de seu governo. Isso acontece porque política é, há muito tempo, um mercado de trocas. E não um oráculo de ideologias.

E Ricardo cumpriu seu papel de gerir politicamente o quinhão que lhe cabia, aumentando sua bancada na Câmara a fim de facilitar seu projeto na cidade. Todos os políticos fazem isso, inclusive Cícero Lucena, seu arqui-rival, que governou João Pessoa com apenas dois vereadores da oposição. E um deles, inclusive, com benefícios na prefeitura.

O prefeito não deveria ficar triste com essas revelações. Ele desconstruiu, inclusive, a acusação de que não sabe fazer política. Apenas administrar. Está provado, portanto, com a revelação de sua generosidade com os vereadores, que o prefeito da Capital sabe muito bem qual o caminho mais curto para se conquistar aliados políticos.

O dinheiro, como diria Machado de Assis, é sempre o melhor argumento.

Mas não tem nada de banal na revelação do esquema de mensalão do Mago. Será ética fazer favores com o dinheiro público? Ora, estaria ele imune a censuras se tirasse o mensalão dos R$ 15 mil que recebeu, por mês, como salário durante todo seu governo. Não dos cofres da prefeitura.

Enquanto legislador, Ricardo Coutinho sempre foi da oposição, exercendo um papel irredutível quanto à aliança com os “donos do poder”. No Executivo, o prefeito mostrou que não suportava a existência de outros “Ricardos”.

E acabou confirmando a máxima: “De perto, todo mundo é igual”.
 


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