A renovação de rostos e nomes na Câmara, nas eleições de outubro, será menor do que a média histórica, para decepção dos brasileiros. O desgosto com os atuais políticos e o provável aumento nos votos nulos, brancos e abstenções seguem altos, como herança da crise política. Mas as regras criadas pelos próprios parlamentares na reforma política, incluindo a nova janela de transferências partidárias em março, e a necessidade de muitos de manterem o foro privilegiado pela multiplicação das investigações de corrupção, diminui as expectativas de mudança.
E mesmo que ocorram, poderão ser apenas simbólicas. Muitos políticos, desgastados, abrirão espaço para filhos e parentes com o objetivo de manter o clã no poder. Existe ainda o caso dos parlamentares que perderam o fôlego eleitoral e que, sem condições de disputar eleições majoritárias para senador, buscarão manter-se em Brasília graças às eleições proporcionais para deputados.
Levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) mostra que, nas últimas cinco eleições para a Câmara, a média de renovação tem se mantido estável, na casa dos 45%. Nas últimas sete disputas, a maior renovação aconteceu em 1989, quando 61,82% dos deputados que assumiram em 1990 não estavam lá um ano antes. Aquela eleição tinha características peculiares. Foi a primeira após a permissão para que eleitores acima de 16 anos votassem. Além disso, foi casada com o primeiro pleito presidencial após a redemocratização, o que aumentou a atenção dos brasileiros para a política.
Para o diretor de documentação do Diap, Antonio Augusto de Queiroz, o índice de renovação das cadeiras da Câmara sempre está ligado ao cenário político. “Quando o ambiente é de crise, com escândalos, a renovação tende a aumentar. Quando é de relativa estabilidade, o desejo de mudança diminui. O índice de renovação também está associado ao número de candidatos à reeleição. Quanto mais parlamentares disputam a reeleição, menor o índice de renovação, pelas notórias vantagens que têm aqueles que concorrem à reeleição”, disse.
Na visão do especialista, a crise deste ano não conseguirá mudar os rostos conhecidos. As alterações nas regras para o troca-troca partidário também impactam nesse cenário. A legislação anterior afirmava que, para se candidatar, o interessado precisava filiar-se um ano antes à legenda pela qual disputaria o pleito. Deputados e senadores criaram uma janela, seis meses antes das eleições, entre março e abril. “Essa nova janela dá ao detentor de mandato e candidato à reeleição enorme vantagem para negociar tratamento privilegiado em seu partido, exigindo a garantia de espaço diferenciado no horário de rádio e TV, além de mais recursos do fundo eleitoral, sob pena de mudar para outro partido que lhe ofereça tais vantagens”, reforçou Queiroz.
O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), acha que o ímpeto de renovação não significa um futuro melhor do que o presente. “O novo nem sempre será melhor do que aquele parlamentar que o eleitor já conhece. É fundamental que as pessoas votem com uma visão analítica e não apenas pela emoção”, afirmou ele.
Redação