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Analistas respondem: até que ponto o voto útil será importante na eleição?

Esta eleição presidencial pode ser a do eleitor do contra. O pleito tende a ter participação recorde do voto útil, que ocorre quando se escolhe não o candidato de preferência no primeiro turno, mas o postulante que se julga ter maior capacidade para vencer quem ele não gosta. A razão para isso é a alta taxa de rejeição de dois candidatos: Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Para complicar as coisas, existe ainda um terceiro tipo de eleitor: o que tem ojeriza a ambos. Embora saiba quem tem sua preferência, esse cidadão topa qualquer candidato no lugar desses dois nomes.

Bolsonaro tem vaga praticamente garantida no segundo turno — ainda que as dificuldades em torno da campanha enquanto ele permanece internado dividam analistas e até aliados do candidato. Quanto a Haddad, apontam as pesquisas, tende a crescer nas intenções de voto com o apoio de Lula, apesar de o ex-presidente estar preso em Curitiba.

Os adversários mais próximos de Haddad, porém, também vão ganhar muitos votos de quem não quer vê-lo no segundo turno. Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) estão atentos e já modularam suas campanhas com vistas a isso. Eles podem ficar com o eleitor anti-PT, herdando votos que hoje são de outros candidatos, mas também tirando eleitores uns dos outros. Isso faz com que as pesquisas tendam a apresentar grande oscilação nas próximas semanas. “A marca desta eleição é a incerteza”, destaca Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política na Universidade de Brasília (Ipol/UnB).

Calmon afirma que o voto útil, ou voto estratégico, como se prefere chamar na academia, existe em todas as eleições, mas isso se acentua com a alta taxa de rejeição de alguns candidatos e o fato de que há vários postulantes em patamar semelhante de intenção de votos, entre o segundo e o quinto lugar. “Muitos eleitores deixam para fazer a escolha nos últimos dias. Mas, a esta altura, já têm certeza sobre quem não querem votar”, explica Calmon.

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, destaca que o eleitor leva muito a sério a escolha em uma eleição presidencial. “Ele se esforça, faz cálculos para que a escolha possa ter peso no resultado. É um voto de opinião. Nesse caso, não entra voto de cabresto — a influência do prefeito, por exemplo —, algo que pode ter peso na escolha do deputado, ou, no máximo, para governador”.

Para o cientista político Marcio Ianoni, professor da Universidade Federal Fluminense, Marina está perdendo votos para Ciro de eleitores que não querem que o PT nem Bolsonaro saiam vitoriosos. “Ciro tenta abocanhar o eleitor de esquerda e o de direita”. Mas Melo acha que Marina tem potencial de ganho pelo mesmo motivo. “Para o eleitor de centro, que quer política econômica ortodoxa, André Lara Resende (assessor econômico dela) pode ser tão convincente quanto Persio Arida (assessor de Alckmin)”.

No pelotão seguinte das pesquisas estão Alvaro Dias (Podemos), Henrique Meirelles (MDB) e João Amoêdo (Novo). A tendência é de que os votos desses três candidatos, que somam 10% do total, sejam transferidos para Alckmin, Ciro ou Marina. Antonio Augusto de Queiroz, diretor de documentação do Departamento Intersindical de Análise Parlamentar (Diap) acha que Haddad pode ganhar força pelo apoio de Lula, mas também pelo voto útil. “A polarização entre os petistas e os antipetistas continua sendo algo muito forte”, diz.

 

Dois turnos para evitar distorções

O voto útil era comum no país antes da criação do segundo turno eleitoral pela Constituição de 1988. O objetivo do mecanismo é evitar que alguém ganhe o pleito com um percentual pequeno de votos — era comum vencer com apenas 30% do total, em campanhas muito disputadas. E também permitir que o eleitor escolha quem prefere de fato, e deixe o voto de segurança para o segundo turno. Mesmo assim, muita gente tenta ficar com uma opção que considera não a melhor, mas a menos ruim, para que tenha mais chances de vencer, no segundo turno, o candidato que não quer que vença de jeito nenhum.

O cientista político Paulo Calmon, diretor do Instituto de Ciência Política da UnB, destaca o fato de que as pessoas têm grandes expectativas em relação ao resultado de uma eleição presidencial. “O que está em jogo para as pessoas não é tanto uma questão de esquerda e direita, mas, de um lado, políticas distributivas e, de outro, ênfase em medidas que possam trazer maior crescimento econômico. Outro fator é a vontade de que se substitua tudo o que está aí. Há também a preocupação solidária com minorias. O eleitor busca quem pode promover essas coisas, mas também quer tirar quem se opõe a isso”, disse.
 

Na eleição passada, o voto útil transferiu apoio de Marina Silva (PSB) para Aécio Neves (PSDB) em um movimento às vésperas do primeiro turno. Já era um sinal da clivagem que se acentuou no país. “Desde 2013, o país está dividido entre o petismo e o antipetismo”, nota o cientista Carlos Melo, professor do Insper. O agravamento dessa situação resultou no quadro atual. “Nos países emergentes há hoje um risco econômico muito alto. Mas o risco político no Brasil consegue ser ainda mais elevado pela indefinição do quadro eleitoral”, avalia Calmon. (PSP) 

 

Redação com Correio Brasileiense 

 


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