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ANÁLISE: Operações Calvário, Xeque-Mate, corrupção eleitoral; eu, meu cavalo e de Dom Quixote

Haja quantas forem necessárias operações do tipo Lava-Jato, Calvário, Xeque-Mate etc etc etc, de nada adiantara enquanto não for mudado o sistema político-eleitoral do Brasil. Que é, conforme todos nós sabemos, corrupto por essência e também por excelência. A legislação eleitoral, por si só, facilita a corrupção, para não dizermos que estimula.

Quantos de nós, mortais e imortais estamos carecas de saber que se subtraindo das campanhas a compra de voto, o derramamento de dinheiro de origem mais que duvidosa, o favorecimento ilícito de qualquer natureza, até a troca de cargos públicos por votos, todos esses resultados de eleições que a gente tem assistido teriam sido outros.

A corrupção, a compra de voto, o favor ilícito são fatores decisivos em toda eleição brasileira.

Atentem para o seguinte: para concorrer a qualquer cargo eletivo, o sujeito terá que declarar quanto será gasto na sua campanha. Agora, vamos ao site da Justiça Eleitoral e pesquisemos quanto cada candidato a Deputado Federal, Deputado Estadual e, principalmente, Governador e Senador e Presidente disseram que iram gastar em suas campanhas. Feito isso, comparemos o que foi declarado com as bilionárias campanhas que nós vemos nas ruas. Uma verdadeira farra movida por uma gogantesca indústria de comunicação, de produção de bandeirinhas, material de propaganda eleitoral, de transportes aéreo e terrestre, até os milhares e milhares daqueles que ficam na beira das avenidas segurando bandeirinhas, sem falar nos famosos envelopes pardos distribuídos madrugadas à fora grávidos de notinhas de diversos valores…. Tá na cara que essa conta não fecha! Que os políticos mentem e que a Justiça Eleitoral, até por sua precariedade de condições, faz de conta que fiscaliza.

Suponhamos que a Operação Calvário prove por “a” mais “b” que a campanha vitoriosa para Governador, senador e deputados, na Paraíba, em 2018, tenha sido toda bancada pelos milhões e milhões despejados através torneiras da polêmica Cruz Vermelha. Como é, então, que estas benditas contas de campanha foram atentamente analisadas, documentos confrontados e aprovados por unanimidade? Como vai se resolver esta questão?..

Um exemplo curioso e até jocoso: certa vez, a pedido de amigos eu fui candidato a vereador na minha terra Serraria. Na reunião com o juiz eleitoral, para esclarecimentos prévios sobre prestação de contas de campanha. Se não me falha a memória, o juiz era o Doutor Jackson, um magistrado digno de respeito e muito conhecido. Eu fiz a seguinte colocação, que provocou uma gargalhada geral: “Excelentíssimo magistrado, como devo proceder na prestação de conas se não pretendo gastar uma prata sequer? (Como de fato não gastei).” O juiz me perguntou, por exemplo, como é que eu iria cabalar votos na Zona Rural sem gastar dinheiro com transporte. Eu respondi: “Vou de cavalo, excelência!”. O juiz de pronto acrescentou: “E a ração do cavalo?”. Eu respondi: “Doutor, trata-se de um pangaré só comparado com o famoso e esquelético Rocinante de Dom Quixote, que atende pelo nome de Tarpan e só come capim, ou no sítio ou na beira da estrada! ”. Foi uma risadagem geral no Fórum de Serraria. Mas era a pura verdade.

Pois bem, o magistrado sugeriu que eu colocasse alguma coisa na prestação de contas. Quem sabe uma resma de papel, uma caneta. Mas precisaria ter prestação de contas. E assim foi feito. Disputei a eleição e tive uma votação bem compatível com minha “milionária” prestação de contas: humilhantes 24 votos.

O cômico desta historia não para por ai: a Justiça Eleitoral aprovou a minha “milionária” prestação de contas, mas com (pasmem!!!!) RESSALVAS… Agora, imagine você quantos candidatos naquela mesma eleição gastaram os tubos de dinheiro (de onde veio ninguém sabe) e tiveram suas prestações de contas aprovadas, algumas com louvor… O que eu quero dizer é o que nós já sabemos – isto é o Brasil, paraíso da corrupção desde antes, durante e depois da Lava-Jato, Calvário ou coisa que o valha. O País do faz de conta.

Esperem pra ver

Depois das Lava-Jatos, Xeque-Mates, Calvários e outras tantas operações, haveremos de ver “o verde que chega a doer”, não o das águas de Tambaú, mas do oceano de corrupção que envolve o eleitor, o cabo eleitoral, o candidato, o vereador, o deputado estadual, o deputado federal, o governador, o senador, o presidente da República e, segundo Eliana Calmon, ex-corregedora do Conselho Nacional de Justiça, até parte dos magistrados de reluzentes togas que mais parecem Batman, envolvidos em corrupção.

Post scripitum

Nada disso significa que a corrupção deve correr frouxa, sem que as instituições tentem combatê-la com todas as suas forças. Eu quero dizer apenas, que enquanto não mudar o regime endemicamente corrupto, vamos continuar enxugando gelo, gastando milhões e milhões de reais nessas operações para ver as figuras mais corruptas da República sempre ascendendo ao poder, com as honrosas e digníssimas exceções que também não são poucas.

Mas…

Atenção, ilustríssimos culpados: não pensem que esta leiturazinha aqui vai aliviar seu calvário. É melhor já ir tomando o seu Rivotril enquanto aguarda a tropa da PF às 6 da matina. Mesmo sabendo que o Brasil continuará Brasil.

Cara-de-pau

Tem coisa mais cara-de-pau do que aqueles políticos que a gente conhece, que nasceram, viveram e cresceram e se elegeram na corrupção, querendo posar de bons moços a cada operação Calvário, Xeque-Mate e Lava Jato?

Tem um que começou dizendo que perdeu porque fazia críticas e ajudou a derrubar Dilma. Agora, mudou de discurso: está dizendo que perdeu por causa dos milhões e milhões da Cruz Vermelha.

PS-2: Como diria o famoso Ibrahim Sued: ademã, que eu vou em frente.

 

Wellington Farias


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