Serrana (SP) – Há 10 dias, nenhum habitante de Serrana (SP) precisa entrar na fila em busca de vaga para leito de tratamento intensivo (UTI) no estado de São Paulo. Desde o último fim de semana, não há registro de necessidade de intubação.
As autoridades de saúde do local não querem se precipitar, mas especulam que esses fatores já podem ser os primeiros sinais da ação de vacinação em massa que ocorre na cidade.
O município de Serrana foi escolhido para ser estudado pelo Projeto S, promovido pelo Instituto Butantan, que testa a efetividade da vacinação na “vida real”, isto é, sem os controles de uma pesquisa acadêmica.
“Em março, a nossa Unidade de Pronto Atendimento (UPA) chegou a fazer uma média de 60 atendimentos de pessoas com Covid ou com suspeita da doença. Na sexta-feira (9/4), a média caiu para 20 atendimentos”, declara a chefe de Vigilância Epidemiológica.
“Além disso, não registramos intubação de moradores de Serrana nem na UPA nem na Santa Casa. Também zeramos a fila no Cross [sistema paulista que controla vagas de internação em leitos de UTI e enfermaria]. Há 10 dias não buscamos leitos de UTI para pacientes com Covid grave”, completa Glenda Renata.
A gestora alerta que moradores da cidade ainda precisam de leitos de UTI, mas para outras enfermidades, como doenças cardíacas ou cerebrais, sem conexão com infecção por coronavírus.
Cidade viveu segunda onda
Março foi um mês dramático para Serrana, assim como para o resto do Brasil. Naquele momento, a cidade também viu alta repentina nos diagnósticos de Covid, nas internações e nos óbitos. Foram 19 mortes confirmadas.
De acordo com Gustavo Jardim Volpe, diretor de Atenção à Saúde do Hospital Estadual de Serrana, e também pesquisador do Projeto S, os óbitos registrados em março foram de pessoas que ainda não haviam sido vacinadas, e algumas delas já estavam internadas desde fevereiro.
“É importante esclarecer esses números porque estão surgindo distorções absurdas dessa informação. Das 19 pessoas que faleceram em março, duas ou três tomaram apenas a primeira dose da vacina e não tiveram, infelizmente, tempo de desenvolver a imunidade. Notamos ainda que eram pessoas que estavam internadas desde fevereiro”, diz Volpe, médico do Hospital de Serrana.
“A vacina só surte efeito após, em média, duas semanas da aplicação da segunda dose. É o tempo que demora para que o organismo reaja à vacina e produza os anticorpos que nos protegem da Covid grave”, completa.
É também por esse motivo que Gustavo Jardim Volpe afirma que é cedo atribuir a queda de casos, internações e mortes dos últimos dias apenas à vacina. Outros fatores podem influenciar os bons resultados, como o fato de a cidade estar também seguindo as recomendações da fase emergencial que vigora em todo o estado de São Paulo.
O médico lamenta, no entanto, uma espécie de confiança que surge em parte da população após tomar o imunizante. A equipe do Metrópoles flagrou aglomeração na porta da lotérica da cidade, comércio de serviços não essenciais atendendo durante a noite e muitas pessoas circulando sem máscara.
“Estamos fazendo um trabalho contínuo de conscientização sobre como a vacina funciona. A adesão ao projeto foi um sucesso, mas estamos muito preocupados em como a população não faz o uso constante da máscara. A prefeitura está sendo uma parceira para superar esse problema, por meio da fiscalização e de campanhas educacionais”, assinala Volpe.
Vigilância permanente
Segundo o prefeito de Serrana, Léo Capitelli (MDB), a cidade se preocupa com essa situação e tem feito operações rotineiras de fiscalização, sanitização e educação.
“A Divisão de Vigilância Sanitária, apoiada pela Guarda Municipal e a Polícia Militar, segue fazendo a fiscalização e multando o comércio que está irregular. Para a população, estamos fazendo um trabalho diário de caráter educacional, agentes lembram que vacina demora para surtir efeito, e mesmo depois disso ainda é necessário usar a máscara, porque o imunizante protege da Covid grave, mas as pessoas ainda correm o risco de transmitir o vírus para alguém não vacinado”, frisa Capitelli.
O prefeito ainda informa que, com a fase emergencial, a cidade implementou barreiras sanitárias nos últimos dias e que servidores estão fazendo a sanitização e dispersão de aglomerações em lugares estratégicos.
“Focamos principalmente nos lugares de grande fluxo da cidade, que são os pontos de ônibus e as entradas dos hospitais, o de Serrana, a Santa Casa e a UPA”, relata o prefeito.
A queda de internações, casos e óbitos antecipou as comemorações do aniversário da cidade, que faz 72 anos neste sábado (10/4).
“Ter a oportunidade de participar do Projeto S é o maior presente que Serrana poderia receber. A gente não pode afirmar que os números dos últimos 10 dias são ainda resultado da vacinação. Mas a gente viu o caos 20 dias atrás, com pacientes precisando de intubação e a pressão no sistema. E no último fim de semana, na Santa Casa, tínhamos sete pessoas internadas, mas nenhuma precisando de UTI ou intubação, o que já estamos comemorando”, complementou.
Capitelli conversou com o Metrópoles enquanto dividia seu amplo espaço, bastante ventilado, com uma equipe que fazia entrevistas de emprego temporário para atuar na área da saúde do município.
“Todos os habitantes de Serrana estão felizes em contribuir para a ciência, vendo a rotina dos trabalhos de um estudo inédito. Estamos todos esperançosos de que este 2021 ainda pode ser um ano de cura, e gostaria de que a cidade de Serrana possa levar essa esperança para o resto do país”, deseja o prefeito.
Dados de vacinação e de ocupação de leitos
Embora o Hospital Estadual de Serrana e a Santa Casa da cidades estejam atendendo menos casos graves de Covid, a taxa de ocupação dos hospitais da região continua alta, chegou a 100% no dia 5 de abril e, na sexta (9/4), está em 90% em leitos de UTI e 71% em leitos de enfermaria. As unidades hospitalares continuam pressionadas, assistindo a pacientes de toda a região de Ribeirão Preto e pessoas vindas pelo sistema Cross.
Em relação à vacinação, até o dia 8 de abril, 28.152 habitantes de Serrana (de 45 mil, isto é 62%) já haviam recebido ao menos uma dose da proteção contra a Covid-19, tanto pelo Projeto S quanto pelo programa de imunização, tornando a cidade a mais vacinada do estado de São Paulo.
No âmbito do Projeto S, os pesquisadores estimaram previamente que 28.380 pessoas estariam aptas a serem imunizadas pela investigação científica; 27.722 receberam a primeira dose e 21.444 tomaram a segunda dose até o dia 8 de abril — cobertura vacinal de 77%. Com cerca de 2 mil imunizações por dia, o Projeto S prevê chegar a uma cobertura vacinal de 97% da população-alvo da pesquisa até domingo (11/4).
Fonte: Metrópoles